Sobre aqueles que não deveriam existir
Sim, até mesmo em um momento como este, no qual a humanidade se prova completamente frágil e indefesa, sendo vítima de um vírus que se mostrou poderosíssimo, aqueles indivíduos que possuem mais dinheiro do que cidades inteiras, acharam maneiras de lucrar
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O mundo muda. Eventos que marcam gerações acontecem. Épocas são caracterizadas, costumes se transformam, novas ideias invadem as sociedades. E assim, vemos a humanidade saudar novos amanhãs que fazem dos ontens remoto passado. Mas algumas coisas infelizmente não mudam. Nunca mudam. Não importa se é tempo moderno ou tempo antigo, tempo de guerra ou tempo de paz, tempo de praga ou tempo de cura, parece que há uma realidade que não se desfaz: opressores sempre arranjam meios de dominar o oprimido.
Embora haja dos mais diversos tipos e espécies de opressão no planeta, hoje me refiro especificamente a um fenômeno que ficará registrado juntamente com a era da pandemia de COVID-19: enquanto mais de 660 mil pessoas já padeceram e muitas nem ao menos tiveram onde ser enterradas pois não há espaço suficiente para covas, os bilionários do mundo aumentaram suas fortunas.
Sim, até mesmo em um momento como este, no qual a humanidade se prova completamente frágil e indefesa, sendo vítima de um vírus que se mostrou poderosíssimo, aqueles indivíduos que possuem mais dinheiro do que cidades inteiras, acharam maneiras de lucrar.
Já falei em entrevistas e talvez já tenha escrito em algum texto sobre a minha opinião acerca dos bilionários: acredito que a absoluta maioria deles sofre de psicopatia. Não digo isto com o intuito de agredir ninguém, até mesmo porque isto não levaria a nada. Simplesmente penso que uma pessoa que possui um ou mais bilhões de “dinheiros”, sabendo que mais da metade da população mundial vive em pobreza (e aproximadamente dez por cento, cerca de 780 milhões, vive em extrema pobreza), só pode mesmo ter desvios psiquiátricos inclinados para o mal.
Com frequência flagro-me refletindo: em meio a uma tragédia catastrófica destas, estes cidadãos conseguem ainda excitar-se ao tornarem-se ainda mais ricos… Rumo ao trilhão?... É, isso é que deve ser “felicidade”… Bobo sou eu que chorei ao perder para a doença um amigo de 40 e poucos anos e ao assistir várias outras pessoas chorarem por suas perdas...
Ok, de volta aos bilhões, pois isso é o que importa, não? Bem, a ONU já avisou que devido à pandemia e à subsequente recessão global, as taxas de pobreza aumentarão pela primeira vez desde 1990, ou seja, um imenso regresso para a humanidade. Mas não para os ricos. Para eles, só há progresso.
Em setembro de 2019 aplaudi Bernie Sanders – quem considero a maior mente política do mundo nas últimas décadas –, quando este tuitou isso: “Billionaires should not exist.” (Bilionários não deveriam existir.) Simples assim. Frase perfeita, emblemática, eterna. Por que não deveriam existir? Pois se existem bilionários existe inevitavelmente opressão aos trabalhadores do mundo. É fato. Uma coisa não se dá sem a outra. E este é o capitalismo selvagem mais escancarado e escarrado o possível.
Um exemplo claro é o da empresa Amazon, uma das maiores, mais ricas e poderosas do planeta. Conhecida mundialmente por tratar seus trabalhadores de forma indigna e muitas vezes até humilhante (e nem vamos aqui abordar a questão do mal que ela faz ao meio ambiente…), seu CEO, Jeff Bezos, é hoje o homem mais rico do mundo, detentor de aproximadamente de 145 bilhões de dólares (cerca de 750 bilhões de reais). É difícil concebermos um número assim, não? Vamos exemplificar então: segundo um estudo publicado no repositório da ONG norte-americana Oxfam, todo o orçamento da saúde da Etiópia, um país de 109 milhões de pessoas, é equivalente a apenas 1% da fortuna de Bezos.
Pois é.
O incansável Bernie tuitou na semana passada a informação de que este mesmo cidadão em um único dia de pandemia ganhou 13 bilhões de dólares, enquanto as famílias trabalhadoras norte-americanas juntas em um único dia de pandemia perderam 71 bilhões.
Bem, antes que alguém pense que Bezos é alguma espécie de exceção, explico que ele é regra. Há bilionários “sobrando” por aí. E um dos habitats mais povoados por eles é, logicamente, o Brasil. A mesma ONG Oxfam (como noticiou também o Estado de São Paulo em 27.07) relatou que o país representa o crescimento de “70% do aumento verificado em toda América Latina e Caribe, em que as riquezas de 73 bilionários cresceram 48,2 bilhões de dólares (252 bilhões de reais).”
Em dinâmica sanderista, o muito competente Guilherme Boulos indagou: “No meio da pandemia, 42 bilionários brasileiros engordaram suas fortunas em 34 bilhões de dólares (...). Quando o Brasil vai ter coragem de taxar grandes fortunas?”
Ótima pergunta. Minha posição é: ou colocamos no poder líderes que confiscarão – sim, confiscarão! – as grandes fortunas, ou o monstro da opressão continuará a rir diante de nossas faces, seja em tempos de doença ou de saúde, como já coloquei acima.
Mas estes são os tempos das doenças. COVID, Trump, Bolsonaro, etc, os que fazem o “pacote completo”: negam a existência da moléstia, cortam impostos dos bilionários e ainda inundam a humanidade de ódio.
Assim, enquanto o modus vivendis da contemporaneidade é este, só o que nos resta é tentar jogar luz a esta realidade e gerar alguma consciência nos inconscientes, esperando que em algum momento ocorra de fato uma revolução humana que desconstrua o muitíssimo para poucos e construa o justo para todos.
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