Sobre a rebelião chilena

"Esses movimentos na superestrutura política, acoplados à rebelião popular em curso, podem reabrir as possibilidades de uma esquerda determinada a romper definitivamente com o legado pinochetista e neoliberal, nas ruas e nas urnas", constata o jornalista Breno Altman

(Foto: Sputnik)


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Poderia ter sido outra a trajetória do país no pós-ditadura.

A longa era neoliberal, de Pinochet a Piñera, somente foi possível porque uma parte da esquerda chilena, notadamente o Partido Socialista e o Partido pela Democracia, aderiram ao pacto da transição, mantendo a política econômica e o sistema político-eleitoral construído pelo regime militar.

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Com o fracasso do atentado ao tirano, em 1986, promovido pela Frente Patriótica Manuel Rodriguez, braço armado do PC, o PS rompeu a histórica aliança com os comunistas e construiu um bloco com a Democracia Cristã, sustentado sobre os pilares estabelecidos pela Constituição outorgada de 1980 e pelo modelo neoliberal.

Esse acordo PS-DC deu origem a Concertação e a Nova Maioria, que intercalaram governos com o bloco de direita desde 1990, com o núcleo de centro-esquerda presidindo o país por quatro anos com Ricardo Lagos e oito com Michele Bachelet.

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Embora o PC tenha participado do último governo dessa coalizão, em uma posição subalterna, atualmente criticada fortemente por vários setores do partido, a lógica do sistema sempre foi isolar a esquerda marxista e impedir seu protagonismo.

Esse edifício começou a ruir nas últimas eleições, quando a Frente Ampla (uma aliança de várias agremiações contrárias ao pacto da transição) quase colocou sua candidata presidencial no segundo turno. Faltaram os votos comunistas, transferidos ao candidato do PS, cabeça da Nova Maioria, graças à súbita guinada de seu partido no rumo de um acordo ao centro.

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De lá para cá, o aglomerado centrista se dissolveu e o PC voltou à sua tradicional política antagonista, construindo uma nova coalizão, Unidade pela Mudança, e buscando um pacto estável com a FA.

Esses movimentos na superestrutura política, acoplados à rebelião popular em curso, podem reabrir as possibilidades de uma esquerda determinada a romper definitivamente com o legado pinochetista e neoliberal, nas ruas e nas urnas.

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O PC e a FA, arrastando algumas alas do PS, cada vez mais fragmentado, além de outras legendas menores, assumiram uma clara orientação de apoio incondicional aos protestos e de transformá-los em rebelião política, disputando sua direção com uma miríade de coletivos autônomos.

Em seu derradeiro discurso, na calada do golpe de 1973, Salvador Allende prognosticou que “muito mais cedo que tarde, serão abertas as alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.”

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Demorou, mas talvez a hora tenha chegado.

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