Soberania contra subserviência

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)


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A grandeza de um país se mede pelo que realiza, mas também pela imagem que formula de si mesmo. Para se impor no concerto entre as nações, convém dispor de um poder de autoestima capaz de, antes de considerar a opinião dos outros, levar em conta o modo como se vê e se valoriza. A possibilidade de se encontrar projetado na tela e se confrontar a si mesmo, entre outras, em termos de nacionalidade, foi, aliás, a tarefa que a indústria do cinema cumpriu junto aos povos que a cultivaram. A literatura e a arte, além de sondarem as características da alma, compreenderam semelhante função, daí o papel que desempenharam na construção de uma identidade. 

Vale a pena ressaltar, a esse respeito, o romance O súdito do Imperador, de Heinrich Mann, no qual um personagem acompanha servilmente a trajetória do monarca alemão Guilherme II. A figura ali muito bem desenhada antecipa acontecimentos que, mais tarde, levaram ao nazismo e ao séquito de sofrimentos que desencadeou. A vassalagem na admiração não engrandece: diminui, deprime, humilha. O Brasil tem adotado modelos parecidos na forma de lidar com suas relações internacionais. Um dos nossos chanceleres chegou a nos qualificar de párias, tal a visão depreciativa que reunia em torno dos nossos valores, sem pretensões de se elevar. Agora, estamos em novo patamar. Voltamos a entender e defender o papel que pretendemos nos reservar entre os povos. O Presidente Lula não retornou ao poder para nele permanecer de crista baixa, vendo a caravana passar. Em três meses, esteve na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos, na China e nos Emirados Árabes, em Portugal... - isto é, onde nos interessava para ver, ouvir e nos fazer escutar. Que gerou ciúmes? Não resta dúvida, na medida em que se colocou em cena como ator e não apenas como espectador. Ideias a respeito da paz na Ucrânia agradaram a uns e desagradaram a outros: os que se inclinam a favor de uma adesão armada ao conflito. 

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Determinadas reações explicitaram o fato. Foram redimensionadas por correspondentes em Nova York afeitos a um modo de vida que, em certos círculos, nos habituamos a invejar. É o que explica a agressividade de Guga Chacra, para a Globo News, na rápida entrevista que realizou com o Embaixador Celso Amorim, assessor do Presidente da República, sobre declarações envolvendo a Ucrânia. Ele não queria ouvir. Falava compulsivamente e não se importava em ser indelicado. Por quê? Por que de repente o país se reinaugurou com independência, com ideias próprias sobre os acontecimentos. Celso Amorim se saiu bem, sem perder a altivez, com a educação e a ironia necessária. Impôs a verdade em suas observações. 

Na onda de violência extremista posta no cotidiano em nossa sociedade, nós nos tornamos contemporâneos de um fenômeno que nos transcende. Passou pelos EUA, com o trumpismo, está na Polônia, na Hungria, na Itália, cresce na França, na Alemanha e na Inglaterra. A Ucrânia a conhece num de seus batalhões. O bolsonarismo é uma das versões com que se afirma. Conhecemos a marca que eles desejam imprimir em nosso Tempo. É um velho filme de colorações novas. Não nos iludamos. Com dizia Fritz Lang, num de seus filmes inesquecíveis, os “inimigos estão entre nós”. Todo cuidado é pouco. 

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