Situação de Cunha e Temer está ficando complicada

Mesmo também com medo de Eduardo Cunha, o deputado Rodrigo Maia vai enfrentar muita dificuldade para continuar manobrando em defesa do seu mandato, porque a pressão de todos os lados, inclusive da mídia, será muito grande

Presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em coletiva de imprensa, em Brasília 05/05/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino
Presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em coletiva de imprensa, em Brasília 05/05/2016 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: Ribamar Fonseca)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Está montado o circo para salvar o mandato do deputado Eduardo Cunha, o que significa, na verdade, salvar o mandato de parte do Congresso e do governo Temer. Isto porque Cunha já avisou, entre portas e travessas, que se for cassado levará com ele um monte de gente que está praticamente em suas mãos, a começar pelo próprio presidente interino, porque sabe de todas as suas ações subterrâneas. E não hesitará em colocar a boca no trombone. O medo de que isso possa acontecer, especialmente antes da conclusão do julgamento do impeachment de Dilma, é visível no nervosismo dos ameaçados, que não são poucos. Um dos delatores, o empresário Julio Camargo, já revelou que Cunha sustenta 200 deputados, o que bem retrata o seu poder na Câmara. O ex- presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro aposentado Joaquim Barbosa, aliás, não precisou de meias palavras para definir a situação: "Esse grupo tomou o poder para se perpetuar e continuar saqueando".

Além dos frequentes adiamentos da marcação da sessão para a votação da cassação de Cunha, o mais recente sinal de que não pretendem cassá-lo foi dado pelo novo presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia, que fixou a data para 12 de setembro vindouro, uma segunda-feira. Os incautos perguntariam: Mas por que essa data precisamente? A resposta é muito simples: porque estaremos quase às vésperas das eleições municipais e, portanto, o plenário da Câmara certamente estará vazio, já que a grande maioria dos parlamentares deverá estar em suas bases eleitorais, empenhada na busca de votos para a eleição de seus prefeitos e vereadores. A data, portanto, não foi escolhida aleatoriamente, mas devidamente pensada para evitar que haja quórum e Eduardo Cunha seja cassado ainda este ano. Maia, no entanto, debochando dos que o criticaram pela visível manobra para salvar o ex-presidente da Casa, garantiu que naquele dia vai colocar 450 deputados no plenário. Deve ser uma piada.

Apesar das escandalosas manobras para salvá-lo, no entanto, o cerco ao poderoso deputado carioca está se apertando. Além de ter revelado que Cunha sustenta 200 deputados, o empresário Julio Camargo admitiu, em novo depoimento, que não disse tudo no primeiro por medo, pois foi coagido, extorquido e chantageado, de maneira "muito elegante", pelo peemedebista. "O meu medo – ele disse – não era físico, mas de uma pessoa poderosa, agressiva, impetuosa na sua cobrança, contra a minha família e meus negócios e das minhas representadas". Mesmo também com medo de Eduardo Cunha, que se transformou no bicho-papão da Câmara e do governo interino, o deputado Rodrigo Maia vai enfrentar muita dificuldade para continuar manobrando em defesa do seu mandato, porque a pressão de todos os lados, inclusive da mídia, será muito grande, independente da possibilidade da Justiça ser acionada para obriga-lo a votar a cassação, o que será uma desmoralização para a já desmoralizada Câmara.

continua após o anúncio

Além de Cunha, que cobra de Temer gratidão por ter viabilizado o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o presidente interino, seus ministros e mais de 300 parlamentares, entre deputados e senadores (aqui incluídos Aécio Neves e José Serra), também estão temerosos diante de outra ameaça, esta talvez mais próxima: a delação premiada de Marcelo Odebrecht, preso há mais de um ano pela Operação Lava-Jato. O melhor sinal de que eles estão com medo foi dado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que procurou o pai de Marcelo, o empresário Emilio Odebrecht, para pedir a exclusão dos nomes de Aécio e Serra da lista dos acusados. O fato do orgulhoso guru tucano descer de suas tamancas para humilhar-se, pedindo clemência para seus correligionários, já deixa bem claro que eles estão conscientes do que fizeram e, portanto, sabem que desta vez dificilmente escaparão da Justiça, como vem fazendo ao longo do tempo, com a cumplicidade da mídia e de alguns magistrados. Estão ficando sem blindagem.

De qualquer modo, parece que o governo interino de Temer não terá muito tempo de vida, não chegando a 2018. Isto porque além de Cunha e da Odebrecht, duas espadas no seu pescoço e dos seus companheiros golpistas, também tem o Tribunal Superior Eleitoral, onde tramita uma ação do PSDB contra a chapa Dilma-Temer. Embora o presidente da Corte, o "imparcial" ministro Gilmar Mendes, venha se esforçando para dissociar Temer de Dilma, numa tentativa para salvar o presidente interino caso o tribunal aceite os argumentos dos tucanos, dificilmente ele terá sucesso em mais essa empreitada, porque a decisão será do colegiado. E se o Senado aprovar o impeachment e afastar definitivamente a presidenta Dilma Rousseff, sobrará Temer para ser cassado. A partir daí tudo pode acontecer, inclusive a posse da nova presidenta do Supremo Tribunal Federal, ministra Carmem Lucia, na Presidência da República, pois o primeiro na linha sucessória, o deputado Rodrigo Maia, também enrolado com Eduardo Cunha, provavelmente não terá condições de assumir o governo. O futuro, portanto, se prenuncia incerto. Só nos resta, então, pedir ao Grande Arquiteto do Universo: Salve o nosso querido Brasil!

continua após o anúncio
continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247