Sigam a Cloroquina

Os conceitos de liberdade e autonomia, mais uma vez citados, são aviltados pelo governo Bolsonaro, usados indevidamente para estimular a quebra de regras sanitárias, a negação das vacinas e as aglomerações que garantem apenas o direito da pandemia se espalhar pelo país



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A insistência de Jair Bolsonaro em empurrar as tais da cloroquina e da ivermectina goela abaixo do povo brasileiro ultrapassa todos os limites, é obscena. O que está por trás de tamanho empenho? A quem interessa?

Nesta sexta-feira, 23/04,o jornal O Globo informa que o governo prepara um protocolo que incluirá a autorização para que os médicos receitem esses medicamentos, comprovadamente sem eficácia para a Covid-19 e até de risco. O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anuncia que o documento será publicado no Diário Oficial e vai virar uma política pública.

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Espertamente, Queiroga tenta minimizar a gravidade da medida e se esquiva de nominar os medicamentos (obviamente, para não assumir responsabilidades pessoais). Mas ele sabe muito bem do que se trata, é médico e tem consciência de que o protocolo é uma diretriz, é um documento destinado a orientar decisões e critérios de diagnóstico, gerenciamento e tratamento da saúde; não é um documento qualquer.

Candidamente, o ministro confessa: “É o desejo do presidente da República”, como se uma pessoa alheia aos quadros científicos e médicos tivesse competência para definir diretrizes para o enfrentamento de doenças, como se isso não caracterizasse prática ilegal da medicina, charlatanismo, crime previsto no Código Penal.

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O ministro insiste na tecla de dar autonomia aos médicos para a prescrição do tratamento que acharem melhor, diz que é preciso respeitar a opinião dos médicos, embora todos os estudos já publicados indiquem o risco desses medicamentos; cito um exemplo – uma metanálise assinada por quase 100 cientistas e publicada no último dia 15, na revista Nature este ano concluiu que a hidroxicloroquina está associada a maior mortalidade de pacientes com covid-19, e que a cloroquina não apresentou qualquer benefício contra a doença; a pesquisa analisou 28 estudos em todo o mundo, dos quais participaram mais de 10 mil pacientes com covid-19.

A médica Andréa Emilia Marques Stinghen, professora do Departamento de Patologia Básica da UFPR, adverte: “se o paciente comer uma jujuba e tomar a cloroquina, vai evoluir da mesma forma no caso de adquirir ou não a Covid. Nos pacientes que já estão com a Covid, mas de uma forma mais amena, não tem efeito algum. E nos pacientes graves, ela piora a situação”. 

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Os conceitos de liberdade e autonomia, mais uma vez citados, são aviltados pelo governo Bolsonaro, usados indevidamente para estimular a quebra de regras sanitárias, a negação das vacinas e as aglomerações que garantem apenas o direito da pandemia se espalhar pelo país. Agora, a mesma distorção avança para ser usada como argumento para oficializar o uso de medicamentos impróprios e até letais, nos casos de Covid-19, como se o Brasil virasse um grande campo de concentração aberto a experimentos que fazem lembrar médicos nazistas como Josef Mengele, Werner Fischer, August Hirt, Carl Clauberg e Herta Oberhauser.

A insistência do necrogoverno nesta linha é suspeita e precisa ser investigada; o Congresso Nacional tem os meios para isso. A CPI da Covid é uma necessidade urgente, vital e humanitária. Sigam a cloroquina!

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