'Seus problemas acabaram!' (Contém ironia)

Curar o Mal exige constância

(Foto: Alexandre Severino)


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Virou piada, mas no início era sério, ou deveria ser sério. "Seus problemas acabaram!" vemos várias vezes em anúncios e ofertas de produtos variados pela tevê, muitos deles anúncios apelativos, ao menos fazendo jus ao mote miraculoso, já um tanto apelativo e forçoso.

Acabou portanto a sua dificuldade, sua vida vai melhorar depois que você comprar com desconto inédito o revolucionário soprador elétrico manual de folhas e não mais precisar gastar horas do outono com rastelo raspando as folhas secas de acácias do gramado de sua mansão. Atraentes cenas ilustrativas exibidas na tevê, proprietários brancos sorridentes e satisfeitos, bons bíceps, vestindo camisa polo engomada, a felicidade terrena.

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Não há problema que acabe, que se extinga, não em nossas vidas, assim fosse a vida no planeta Terra seria similar ao Paraíso bíblico de nuvens cândidas fofas, anjos de bochechas róseas, lá cima no céu azulado onde saboreiam-se eternamente uvas-verdes orgânicas e suculentas.

O neofascismo mundial, o bolsonarismo, o trumpismo, nada disto acabará. Nem se menciona aqui um bolsonarismo brasileiro, pois há indícios de que o dito atual presidente verde e amarelo esteja a fazer prosélitos mundo afora. Que não se duvide, afinal o seu similar Trump é espelhado por outros, além dele também incensam e referenciam aquele Duterte matador de traficantes nas Filipinas, e outros/as ainda de plantão.

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Por óbvio o neofascismo global não acabará de supetão. Na Ucrânia o neonazismo é combatido por Putin, ele, um representante neofascista. França e Itália chocando o ovo da serpente, Hungria, alguns e algumas outras líderes ao redor do globo brincando com fogo, fazendo joguetes e flertes tais quais Chaplin incorporando um Hitler magistralmente e jocosamente representou no cinema em O Grande Ditador, aquela dança macabra ao redor de um globo terrestre decorativo.

Os antigos gregos já diziam havia milhares de anos, bem antes dos ensinamentos otimistas de Jesus Cristo, bem antes do nazareno, na Grécia, se pregava algo como "Não se contente quando os acontecimentos forem favoráveis para não se lastimar quando desfavoráveis". Algo assim. Contemporâneos budistas também pregavam lá distantes no Oriente o caminho do meio, a moderação. Sem euforia, e também sem prostração.

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Chorão, finado vocalista dos Charlie Brown Jr. era bem conhecido por emotivo em excesso. Chorava mesmo, copiosamente, daí a alcunha, e gargalhava, se entregava ao momento, sentia a ocasião com intensidade, assim relatam seus conhecidos. Injusto taxar tal comportamento a algum eventual uso de substâncias ilícitas, o sujeito era naturalmente, ao que consta, portador de um coração grande sensitivo, foi pai bem precoce, ainda saindo da adolescência.

Os seus problemas políticos e econômicos. O problema nunca foi o Bolsonaro, nem de longe. O sujeito é amalucado, não fala coisa com coisa, então vira-e-mexe estará a dar tiro no próprio pé. O preocupante problema de fato, nítido e escancarado, são os mais de cinquenta e tantos milhões de brasileiros e brasileiras que dizem pensar tal qual o atual mandatário do poder executivo federal. Isto tão somente é pra lá de preocupante e motivo de necessários estudos aprofundados dentre os cientistas políticos e sociais mais atentos.

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"Tive vontade de sair gritando na rua, explodi de contentamento, gritei abafado na almofada de casa, quase tive um troço! Logo quando vi o resultado do concurso público no computador deu um gelo na barriga, depois chequei, era oficial, estava aprovado mesmo, salário de nove paus inicial, Brasília, estabilidade, o cargo é uma merda, mas ninguém entra lá pelo cargo, se entra pela progressão salarial ao longo dos anos".

"Dizem que têm vocação, ninguém tem, é pela grana mesmo. No quarto de casa dancei desengonçado, abestalhado, como um lunático, todo troncho, ridículo, e naquele momento extravasei aquela energia toda, que me fazia até tremer as pernas, uma catarse de emoção".

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"Isto foi lá atrás, há quinze anos, achei que meus problemas haviam acabado, que dali em diante eu seria uma pessoa feliz, com dinheiro no banco, carrão na garagem, bom emprego. Nunca estive tão enganado em toda minha vida, a rotina de trabalho nestes quinze anos, pressão política em Brasília, convívio com hipocrisias mil, tudo isto foi, segundo meu médico, o gatilho certeiro para a diabetes tipo 2 e a hipertensão, algo que, ainda segundo o médico, eu provavelmente viria a sofrer somente aos sessenta, mas dificilmente aos trinta anos de idade. Estou um caco, morto-vivo, ainda jovem, e não há dinheiro em banco que resolva isto".

Senador, deputados, governadores, presidente, seus problemas não acabaram ou acabarão. De fato, na prática, quase não há cem por centos alcançáveis em Ciências Sociais. Imaginem-se os batalhões numerosos de assessores parlamentares deste povo todo eleito, cargos de confiança, União e estados, contratos a partir do próximo ano, gordos salários, benesses.

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Estes e estas provavelmente tomaram com gosto um bom porre daqueles após o resultado das eleições deste último domingo. Usufruíram de euforia efêmera. Ou, justiça seja feita à maioria, celebraram uma boa missa neopentecostal epifânica regada a améns, a glórias e aleluias, a "Deus ilumine o mito".

O jovem rapaz vestibulando para curso de Medicina na USP, vaga das mais concorridas no país, respira aliviado, acha que o pior já passou, foi aprovado finalmente, provas exaustivas, mas em pouco tempo perceberá que terá de estudar muito mais para concluir os semestres do curso, perceberá e vivenciará que não houve alívio algum, apenas o comprometimento oficial e pessoal para mais e mais dedicação e estudos.

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Admitir uma batalha de cada vez é admitir que de fato haverá vindouros confrontos, e pior, com os desgastes, ferimentos dos embates anteriores acumulados.

Não, o neofascismo não acabará, estudiosos assim atestam, Bolsonaro e legião se incrustaram na sociedade brasileira, irremediavelmente e de forma consistente. Havia um meio de cultura nutritivo pré-disponível.

Havendo em pé o mote conservador "Deus, Pátria e família", haverá prosélitos, crentes. Entrou religião no meio, tudo se complica, seja na política, família, profissão. Pobre Jesus Cristo, tão incompreendido, está ele lá no éter há mais de dois mil anos a demonstrar tolerância e paciência de Jó frente aos ingênuos incautos terrenos.

Lula, oxalá se eleja, bem sabe que o difícil será negociar no Congresso, todos nós já vimos o quanto isto conta, Collor caiu por não ter apoio lá, Dilma idem. Neste arranjo constitucional nosso o que conta é o sistema bicameral, não tão diferente de outros países, mas alguma nítida diferenciação em casos de sistemas políticos parlamentaristas, em que muitos cidadãos nem sabem direito quem é o presidente do País, não sabem aquilo que ele de fato pensa, mas ouvem todo o dia os pronunciamentos e colocações políticas do primeiro-ministro ou primeira-ministra.

Os problemas não acabarão em breve, mas bem podem arrefecer um pouco, isto se, e há décadas já sabemos, houver uma menor desigualdade social dentre nós, portanto um menor nível de violência, menor criminalidade, menos rancores decorrentes dos mais que inevitáveis choques dentre as classes socioeconômicas junto às rotinas inter-relacionais do seu dia a dia, dentre nós, cidadãos e cidadãs.

Um estraga-prazeres, sempre ocorre de assim nomearem os moderados e equilibrados. A filosofia sapientíssima dos gregos e orientais antigos, tantos e tantos provérbios, máximas e ensinamentos, ajustes do pensamento ao cotidiano contemporâneo: cultivar, capinar sempre o caminho das amizades; ser vigilante e zeloso; a responsabilidade de segurar o seu pandeiro na roda de pagode. E por aí vai.

Escolha a sua máxima preferida, se for daquelas maravilhosas e pragmáticas de para-choque de caminhão, melhor ainda. Mas que o problema acabou, infelizmente não acabou.

Hoje, mais de cinquenta milhões de brasileiros e brasileiras pensam tais qual o mandatário neofascista. Em Brasília o Congresso conservador, representantes da ultradireita amalucada, farão enorme estrago ao país caso o seu mito for reeleito no Executivo. Se não, arrisco, dançarão aos ventos da conveniência, pois seu mito provavelmente será preso e ficará fora da política, então poderá ser traído. Uma blasfêmia, apostasia dos convertidos, então Satanás gargalhará ébrio e sarcástico.

Dizem que não há bolsonarismo moderado, isto faz todo o sentido, imagine-se um fascismo, nazismo, sadismo, moderados. Ocorre que, incorporando, trajando um arrogante álibi, os neofascistas brasileiros não sabem que os são, desconhecem a História da Humanidade.

Mas nós toleraremos, serenos, eles e elas aprenderão. Assim dizem alguns argutos historiadores e olho na situação. O momento é de comedimento, mais razão e menos emoção. Se possível for.

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