Sérgio Reis, “Jack, o matador” e o bangue-bangue sertanejo bolsonarista
Restam os dois líderes do Sindicato da Soja, que ele também citou no áudio dizendo que o acompanhariam ao Senado. Se eles também derem para trás, o destino do valente Sérgio Reis, se não for tão trágico quanto o de “Jack, o matador”, de certo será mais cômico
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No ano de 1969, a dupla sertaneja Léo Canhoto e Robertinho lançava o seu primeiro disco e também a música de maior sucesso da dupla. A canção “Jack, o matador”, composta por Léo Canhoto e Nenete, era introduzida e intercalada por diálogos entre o vilão da história, Jack, e as vítimas que ele ia fazendo por onde passava. Sua fama de pistoleiro percorria cidades e a sua presença despertava medo e pavor em quem estivesse por perto. No maior estilo bangue-bangue, com direito a sons de tiros disparados pelo vilão contra quem não obedecesse às suas ordens, a música fez tanto sucesso que foi regravada nos anos 1990 em ritmo de funk. O refrão chiclete: “Todo mundo aqui vai dançar. Gaiteiro, toca um negócio aí! ”, incorporado ao “batidão” carioca, ficou grudado na mente de toda uma geração.
Ao saber que o cantor, compositor e ex deputado federal Sérgio Reis, aliado de Jair Bolsonaro, estaria por trás de uma tentativa de golpe de estado, organizando protestos contra o congresso e o STF, e tocando o berrante para convocar o gado bolsonarista a apoia-lo, imediatamente me veio à mente a figura de Jack, o temido matador do cancioneiro sertanejo. Um áudio que circula nas redes sociais, onde ele revela que participou de uma reunião com Bolsonaro, seus ministros, generais das forças armadas, e que também contou com a presença do cantor Eduardo Araújo, aquele do “carro vermelho”, da “botinha sem meia” e que só na areia sabia trabalhar, mostra que Jack Reis não está para brincadeira e se apresenta como o novo rei do gatilho da política brasileira. Como se nã ;o bastasse os milicianos que ascenderam ao poder.
Informando que já preparou o pedido de golpe e que irá intimar o presidente do Senado Rodrigo Pacheco, a cumprir as suas determinações, num claro tom de ameaça institucional, Sérgio Reis incorpora a valentia do Jack da canção sertaneja e avisa que “todo mundo aqui vai dançar” se não o obedecer. E aquele que não dançar conforme o toque do seu berrante, “vai engolir chumbo” Gaiteiro, toca um negócio aí! Assim como acontece num trecho da música de Léo Canhoto e Robertinho, eu fiquei a imaginar Sérgio Reis, no alto dos seus 1,90 de altura, calçando uma bota com espora número 50, adentrando o Senado Federal com um berrante na cintura, e provocando pânico e desespero nos senadores e nos demais presentes na casa.< /span>
- Pessoal! Vamos embora!
- O Sérgio Reis vem vindo aí!
- Oh! Nossa Senhora!
- E agora quem poderá nos defender?
E ele, tirando o seu chapéu de xerife texano da cabeça e lançando um olhar de vilão de filme mexicano sobre aqueles pobres e indefesos parlamentares, dispara:
- Ha ha ha! Nada disso! Ninguém vai sair daqui. Aquele que sair vai engolir chumbo! Garçom, traz cachaça pra todo mundo! Se nessa casa tem goteira, pinga neles. Ah, e é pra encher a cara hein!
Ao observar que um dos senadores não bebia a cachaça, ele ordena que o gaiteiro pare de tocar e questiona ao insurgente:
- Uai, moço! Você não bebeu por que?
- Por que eu sou da bancada evangélica e amigo do Malafaia.
Tiros são ouvidos...
- Não bebeu, mas morreu! Ha Ha Ha
Disse debochadamente, após matar o garçom que tinha servido cachaça por engano para um de seus aliados.
É triste constatar que aos 81 anos de idade e com mais de 50 de carreira, Sérgio Reis tenha decidido manchar a sua trajetória artística e contrariar os versos que ele mesmo cantou em “Panela Velha”, onde dizia que o desgastado utensílio é que faz comida boa. Depois de coroa, a sua “panela” parece já não estar favorecendo a qualidade do seu raciocínio e de suas ações. Se o menino que costumava lhe abrir a porteira na estrada de Ouro Fino, não tivesse sido morto no meio da estrada por um boi sem coração, morreria agora de desgosto ao ver que o moço que tocava o berrante lindamente para o seu encanto, se transformou num fascista apoiador de um genocida e mentor de um golpe de estado.
Voltando ao sucesso de Léo Canhoto e Robertinho, vale lembrar que a estória do valentão na música não teve um final muito feliz. E Sérgio Reis deveria saber disso. Desafiado para um duelo por Kid, outro exímio e temido pistoleiro local, Jack matou o adversário, mas também foi abatido por ele. Para a alegria de toda a cidade, que se viu livre dos dois milicianos do campo. A cena pode vir a se repetir no Senado, porém, o “Jack” do momento não morrerá sozinho. Se Rodrigo “Kid” Pacheco lhe propor um duelo, trará consigo uma legião de “pistoleiros” dispostos a abater de uma vez por todas o fantasma do golpe militar que assombra o congresso e o país. Os dois líderes dos caminhoneiros, que Sérgio Reis havia dito que estariam ao seu lad o no front, já recuaram e emitiram nota dizendo que ele não representa sequer aos artistas, muito menos a categoria.
Restam os dois líderes do Sindicato da Soja, que ele também citou no áudio dizendo que o acompanhariam ao Senado. Se eles também derem para trás, o destino do valente Sérgio Reis, se não for tão trágico quanto o de “Jack, o matador”, de certo será mais cômico. Assim sendo, para curar o seu desfeito, lhe restará meter pinga no peito e sufocar o seu coração. Um coração que, se não é de papel, também não é igualzinho ao meu e ao de outros milhões de brasileiros que repudiam arroubos autoritários e tentativas de golpe de estado, e que desejam se livrar para todo o sempre desse governo promotor do caos e adorador da morte.
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