Sérgio Camargo: a ovelha branca da família
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Que Sérgio Camargo, presidente da Fundação Zumbi dos Palmares, é um ser abjeto e repulsivo, não há dúvidas. Mas confesso que me surpreendi com as postagens feitas em seu perfil no twitter, onde ele afirma que Moïse Kabagambe, congolês assassinado a pauladas dentro de um quiosque no Rio de Janeiro, era um “vagabundo” que andava em más companhias e tinha um estilo de vida selvagem e fora da lei. Segundo Camargo, “Moïse andava e negociava com pessoas que não prestam. Em tese, foi um vagabundo morto por vagabundos mais fortes. A cor da pele nada teve a ver com o brutal assassinato. Foram determinantes o modo de vida indigno e o contexto de selvageria no qual vivia e transitava. “
Acaso não soubéssemos que Sérgio Camargo é um homem preto, ao ler a sequência de tweets postados por ele, teríamos a certeza de que ali estava um senhor de engenho do século 17, relatando o assassinato de um escravizado fugido, após este ser capturado e morto por capitães do mato a seu serviço. Se referindo a Moïse como “um negro envolvido com selvagens” e dizendo que ele foi “morto por selvagens pretos e pardos”, ele reproduz a mesma mentalidade que levou os africanos a serem escravizados pelos europeus, por serem considerados por estes como selvagens. O que validava a sua desumanização e justificava a sua escravização.
A pergunta que não quer calar é: por que um homem preto teria tanto ódio e desprezo por outros pretos iguais a ele? Por ele não se considerar preto. Não no que diz respeito a cor da sua pele, mas no sentido de renegar as suas origens étnicas. Afinal, elas, de alguma forma, o envergonha. Sérgio Camargo acredita que embranquece adotando a ideologia, o discurso, os costumes e o comportamento social daqueles que oprimiram e relegaram a raça a qual ele pertence, a condição de sub-humanidade. Ser visto como o preto da casa grande ou como um negro de alma branca, faz com que ele se sinta diferente e superior aos demais negros que, por uma questão de consciência étnica e social, não se prestam à tão vexaminoso e desonroso papel.
Não à toa, ele vive postando sobre o seu gosto por Bach e música clássica e desprezando a arte e a cultura negra, como uma forma de ser lido como um preto de bons modos e gosto refinado. Quase um intelectual branco. Reforçando o estereótipo do preto “quase” alguma coisa, que a branquitude racista gosta de celebrar, mas sempre deixando claro que ainda é inferior a ela por ser preto. Camargo é como um cachorro de madame que come da melhor ração, trata de suas feridas em bons veterinários, é acarinhado pelos donos, mas não pode ser comparado a eles, por que é um cachorro. Chame alguém da elite branca de “cachorro” para ver se eles se sentirão elogiados. Nesse contexto, ser preto ou ser um cachorro, para essa elite racista que Camargo abana o rabo, &e acute; a mesma coisa.
O atual presidente da Palmares é um mal caráter, mas também é um ser doente, desonesto intelectualmente, desprovido de empatia e cheio de ódio racial dentro de si. Acredita ser odiado pela esquerda, por ser um preto que não se rende ao que ele chama de “escravidão ideológica”. No entanto, aceita ser um escravo bem remunerado pelo bolsonarismo, cuja missão é a de negar a existência do racismo e o genocídio ao qual é submetida a população preta brasileira. Suas declarações difamatórias e desumanas contra o jovem congolês assassinado, precisam lhe custar um processo. Num ambiente social humano e civilizado, figuras como as de Sérgio Camargo deveriam ser repudiadas pelo que expressam e representam.
A asquerosidade e a sordidez manifestas em suas falas não podem passar em branco. Com o perdão do trocadilho. E eu espero que, em breve, ele possa ser responsabilizado judicialmente pelo “conteúdo” que produz nas redes sociais e pelo desserviço que tem prestado às causas das minorias representativas deste país. Que ao terminar o seu mandato, seu nome seja esquecido, sepultado e jogado no lixo da história da instituição que leva o nome de um homem negro bem diferente de Sérgio Camargo, e que lutou pela liberdade de seus irmãos de raça até a morte. Zumbi dos Palmares, o herói que Sérgio inveja e odeia, porque jamais conseguirá ser e reconhecer com uma grande representatividade.
E de pensar que Sérgio é filho de Osvaldo de Camargo, poeta, escritor e historiador que sempre exaltou os valores da cultura negra, sendo considerado um dos principais nomes da literatura negra brasileira contemporânea. Tendo a sua produção literária estudada por diversos pesquisadores e sendo uma inspiração para vários outros escritores. O que deu errado com Sérgio Camargo, mesmo tendo uma grande referência de homem negro como pai? O que pode ter feito essa ovelha se desgarrar de seus outros irmãos, entre e les, o músico Marcos Munrimbau, que tive a oportunidade de entrevistar no programa “Um Tom de resistência” na TV 247, todos contrários às suas falas, atitudes e comportamentos? Acho que podemos chamar Sérgio Camargo de a ovelha branca da família.
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