Sem questionar, imprensa endossa terrorismo contra porteiro de Bolsonaro
"Toda a fúria do governo, materializada no ofício do hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro e, pelo jeito, endossada pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras, além de membros do Ministério Público Federal do Rio, volta-se contra o depoimento que o porteiro – ainda anônimo – deu na polícia, nos dias 7 e 9 de outubro", diz o colunista Marcelo Auler
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Por Marcelo Auler, em seu blog – Ao simplesmente noticiar, sem questionar – ou, ao menos, pensar no que está divulgando -, a informação de que a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o porteiro do Condomínio Vivendas da Barra pelo suposto crime de calúnia e por um possível atentado à Lei de Segurança Nacional, a chamada grande mídia simplesmente endossou – sem qualquer questionamento, repita-se – o terrorismo montado pelo governo contra um pobre coitado.
A prevalecer a tese de que o porteiro cometeu crime, teremos criado no Código Penal Brasileiro – com a ajuda da grande imprensa – uma nova figura, bastante exótica, por sinal: o crime de premonição.
Toda a fúria do governo, materializada no ofício do hoje ministro da Justiça, Sérgio Moro e, pelo jeito, endossada pelo Procurador-Geral da República, Augusto Aras, além de membros do Ministério Público Federal do Rio, volta-se contra o depoimento que o porteiro – ainda anônimo – deu na polícia, nos dias 7 e 9 de outubro.
Nas duas oportunidades, o funcionário do Vivendas da Barra apenas explicou o que registrou na ficha de controle de acesso dos visitantes ao condomínio, no dia 14 de março de 2018.
Qual seja, que Élcio Vieira, motorista do Renault/Logan, cor prata, placa AGH 8202, ao ingressar no condomínio às 17:10 hs do dia 14 de março de 2018, anunciou ir à casa 58. Dentro da sua função, o porteiro anônimo – mas, insiste-se, a esta altura apavorado – consultou os moradores da casa e ouviu o “OK” daquele que identificou como “Seu Jair”.
O que esperavam que ele dissesse? Que negasse o que registrou? Qual o crime que ele pode ter cometido ao confirmar a anotação que fez? Queriam que mentisse? Forjasse uma nova versão?
Logo, se ele apenas confirmou – detalhou/explicou – o que anotou em março de 2018, como dizer que atentou contra um presidente da República que só seria eleito sete meses depois e só assumiria o cargo no início do ano seguinte?
Como admitir a intenção deste, hoje, amedrontado porteiro de atentar contra os poderes da República – exigência básica para o enquadramento na Lei de Segurança Nacional, um resquício da ditadura – no simples fato de confirmar a anotação feita 19 meses antes?
Contra que Poder ele estaria atentando, naquela data, ao fazer esse registro? Só poderia ser ao Legislativo, pois o “Seu Jair”, se for mesmo o proprietário da casa 58, ou seja, Jair Messias Bolsonaro, na época era um deputado federal.
A prática de republicar tudo o que se recebe sem duvidar, parar para pensar, buscar informações que confirmem e expliquem a notícia, questionar a veracidade da mesma, faz da imprensa uma mera correia de transmissão. Muitas vezes irresponsável.
O Blog, na noite desta quarta-feira, ouviu um desembargador estadual, um procurador de Justiça e um advogado criminal. Todos foram unânimes em classificar as teses de que o porteiro cometeu crimes como loucura. Na versão de um deles, “terrorismo contra o porteiro”.
Enxergam uma tentativa de confundir e embaralhar a investigação para não se chegar ao principal, isto é, os seus verdadeiros mandantes.
O pior é ver a imprensa, que em outras eras enfrentou a ditadura e o autoritarismo, desmascarou as farsas como o “sequestro de Rubens Paiva”, ou a “bomba do Riocentro”, hoje fazendo o papel de, no mínimo, inocente útil. Servindo para espalhar fatos que não se confirmarão, sem questio0ná-los como deveriam.
Esquecendo que a sua função principal é esclarecer leitores/ouvintes/telespectadores.
O Caso do Condomínio Vivendas da Barra, como este Blog – Enigmas do Vivendas da Barra: álibis se desmontam? – e outros – JornalGGN, Blog do Berta – ou mesmo o jornal O Globo, através da coluna do Lauro Jardim, têm noticiado, está repleto de questões a serem esclarecidas. Ao que parece, porém, os coleguinhas não leem o próprio jornal/site onde trabalham.
Na reportagem desta quarta-feira (06/11) em O Globo on line, sobre a abertura do Inquérito pela Polícia Federal, consta, sem qualquer questionamento – provavelmente fruto do famoso “Ctrl C”, Ctrl V” -, que a “convicção do MP de que o porteiro deu informações falsas à polícia baseou-se na análise da gravação de um diálogo entre o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, também suspeito das execuções”.
A reportagem, porém, não cita o furo jornalístico de Lauro Jardim, colunista do mesmo site/jornal, de que nesta gravação não aparece a voz do porteiro que registrou a entrada do Logan cor prata no condomínio. Na gravação estaria um outro porteiro/servidor do Vivendas da Barra. Logo, não dão valor à informação veiculada no site/jornal para o qual trabalham, indicando contradições no caso.
É de se perguntar, em quem o leitor acreditará?
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