Sem povo não há democracia ou socialismo

A burocracia soviética impediu que a classe trabalhadora exercitasse sua capacidade criativa e criadora

Lenin e Stalin
Lenin e Stalin


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“Um filosofo da Antiguidade sustentava que a discussão era a mãe de todas as coisas. Onde o choque das ideias é impossível, não poderá haver criação de novos valores. A ditadura revolucionária, admitimo-lo, constitui em si própria uma severa limitação da liberdade.” (Leon Trotsky, in A Revolução Traída, p. 271, Edições Antídoto, Lisboa, PORTUGAL)

Enquanto Trotsky criticava o governo de Stalin no seu livro A REVOLUÇÃO TRAIDA, a economia da URSS fazia progressos que contrariavam a lógica de Trotsky. Trotsky foi chamado de louco, traidor e de adjetivos impublicáveis.

Segundo Trotsky ‘a burocracia usurpadora do poder da classe operária impedia o desenvolvimento econômico e humano da URSS”, afirmação parecia infundada, pois a política desenvolvida por Stalin colhia frutos econômicos inegáveis.

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Em 1.952 o último trabalho redigido por Stalin, “Os problemas econômicos do socialismo na URSS”, revela que Trotsky não era nenhum maluco alucinado, mas um crítico inconveniente. É inegável que a URSS retirou da idade média o povo soviético, que cresceu economicamente até o final dos anos 60, mas depois o que se viu foi um afrouxamento das taxas de crescimento na produção, quase uma estagnação de produtividade. 

Mas por que isso aconteceu? 

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Acredito que isso se deve fundamentalmente ao fato de que as gerações dos operários pós-revolução de outubro, não fazendo parte da burocracia estatal e não participando do processo político na URSS, não se sentiam responsáveis pelo desenvolvimento de um Estado onde deveriam ser a classe dominante, mas eram classe dominada por uma não-classe, mas por uma casta: a burocracia partidária.

O fato é que a classe trabalhadora – camponeses e trabalhadores urbanos – fez a revolução, mas nunca decidiu direta e pessoalmente seu destino. Foi a burocracia do Estado e do partido que, do alto da sua arrogância, devolveu a URSS ao capitalismo, porque foi incapaz de - em mais de cinquenta anos - propor ao mundo uma teoria economia socialista, sempre trabalhou sob paradigmas da economia política capitalista, sempre foi um Estado de transição e de viés autoritário.

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Fidel Castro em uma entrevista ao Jornalista Inácio Ramonet afirmou categoricamente que “… a teoria e prática do socialismo ainda estão por serem escritas.”, disse ainda que: “Veja só, o que é marxismo? O que é socialismo? Isso não está bem definido. Em primeiro lugar, a única economia política que existe é a capitalista; mas a capitalista de Adam Smith. Então andamos fazendo socialismo muitas vezes com categorias adotadas do capitalismo, o que é uma das grandes preocupações na construção do socialismo, (…).  Marx fez apenas uma breve tentativa na CRÍTICA DO PROGRAMA DE GOTHA de definir como seria o socialismo, porque era um homem muito sábio, muito inteligente e realista para imaginar que se poderia escrever uma utopia sobre como seria o socialismo. O Problema foi a interpretação das doutrinas, e foram muitas. Por isso os progressistas permaneceram tanto tempo divididos, e as polêmicas entre anarquistas e socialistas, os problemas depois da revolução Bolchevique de 1.917 entre trotskistas e stalinistas ou, digamos, para os partidários daquelas grandes polêmicas que foram geradas, a divisão ideológica entre os dois grandes dirigentes.”. 

O fato é que se a lógica da burocracia partidária não fosse vitoriosa na URSS e se a classe trabalhadora tivesse participado diretamente da experiência de construção de um Estado Socialista, teria frutificado uma teoria para a economia política socialista, com categorias próprias e originais.

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A burocracia soviética impediu que a classe trabalhadora exercitasse sua capacidade criativa e criadora, a repressão burocrática cerceou a liberdade e agiu como utilitaristas como Benthan e não como representante da vanguarda revolucionária do século XX. 

Já em 1936 Trotsky afirmava que a sociedade soviética era uma sociedade de transição entre o capitalismo e o socialismo, afirmou ainda que havia o risco de uma contrarrevolução restabelecer o capitalismo na URSS se a classe trabalhadora politicamente não derrotasse a onipotência da burocracia e não implantasse uma democracia socialista. 

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Foi o que aconteceu, pois a Perestroika significou, na prática, a contrarrevolução prevista por Trotsky que restabeleceu o capitalismo na URSS. A Perestroika e a Glasnost, políticas introduzidas por Mikhail Gorbatchev em 1985 derrotaram a revolução de 1917, reconduziram a URSS ao capitalismo e a responsabilidade é dos burocratas do PCUS. 

A falta de democracia, o excessivo poder da burocracia estatal e a ausência de participação popular deram início à degeneração do Estado soviético, que nunca foi socialista, pois era um Estado de transição. 

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Nesse contexto penso que os partidos de esquerda do Brasil e do mundo todo, têm de fazer uma análise de suas práticas, pois os teóricos do marxismo são, em geral, muito hábeis ao criticar a teoria das elites e sua aplicação nos estados capitalistas, mas não são igualmente diligentes no estudo do fenômeno nos países de orientação socialista. 

Aliás, Bobbio afirma que essa característica da esquerda faz com que a maior produção dos teóricos socialistas sejam as críticas e análises sobre o capitalismo e sobre a sociedade burguesa, havendo, por paradoxal que seja, pouca produção intelectual propositiva em relação às sociedades socialistas. 

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A falta de debate, de participação social, de participação real sobre as constituição das instituições  e estruturas do Estado socialista comprometeu o projeto de construção de um Estado Operário, com base na democracia socialista. 

Por ser livre de dogmas e certezas a esquerda no Brasil - me refiro àquela liberta da dogmática dos partidos comunistas tradicionais -, se desenvolve de forma substantiva. A esquerda brasileira ainda está a escrever o que é de fato “ser de esquerda”, na teoria e na prática, sem renunciar à democracia como valor.

Essas são as reflexões.

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