Sem a base, nada se sustenta
Muitos teóricos podem até dize que a política é cíclica: ora a direita no poder, ora a esquerda. No entanto, acredito que não é bem assim, até porque sabemos que sempre que a esquerda vence as eleições, seja no Brasil ou em tantos outros países (em especial na América do Sul), a direita joga sujo e tenta a qualquer custo tirá-la do poder.
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Muitos teóricos podem até dize que a política é cíclica: ora a direita no poder, ora a esquerda. No entanto, acredito que não é bem assim, até porque sabemos que sempre que a esquerda vence as eleições, seja no Brasil ou em tantos outros países (em especial na América do Sul), a direita joga sujo e tenta a qualquer custo tirá-la do poder. A ascensão da extrema-direita via golpes regados a 'fake news' e procedimentos escusos mostram que o ciclo não é algo natural, e visa sempre a imposição de um projeto político derrotado democraticamente nas urnas.
Mais do que a constante vigília que temos que ter, preocupa-me o próprio fato da esquerda ter abandonado seu trabalho de base, ignorando a necessidade da formação de cidadãos e cidadãs críticas em seu ativismo.
O exemplo mais recente desse analfabetismo político, partiu de gente que se dizia 'esquerdista', mas irracionalmente criticou a participação da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, na posse do presidente venezuelano Nicolás Maduro, escrevendo/gritando bravatas e impropérios contra a "ditadura venezuelana".
Infelizmente, o que a mídia golpista, aliada com os interesses do capital e do mercado, patrocinados e bancados pelos Estados Unidos mostra é exatamente o lado negativo do que acontece na Venezuela e muitos acabam se informando apenas por esse tipo de noticiário. Poucos se dão ao direito de pesquisar e buscar fontes independentes que relatam e retratam verdadeiramente o motivo do caos venezuelano. Poucos sabem que a escassez de alimentos, a inflação estratosférica e todas as situações precárias que ocorrem no país foram causadas por interesses políticos e econômicos. Já relatei isso em outro post ("O Brasil é uma Venezuela?") onde abordo exatamente o que acontece lá e o que fizeram com Cuba durante a Guerra Fria, mostrando como os embargos econômicos afetaram significativamente a política da Ilha.
E é exatamente isso o que está acontecendo com a Venezuela hoje: sanções dos ianques e aliados em represália a política social do chavismo. E por que a Venezuela? Além dos petrodólares, este país e seu povo é um dos maiores – se não for o maior – exemplos de resistência da esquerda perante os absurdos promovidos pelos interesses capitalistas.
Assim sendo foi louvável a atitude da presidenta do PT em participar da posse de Maduro, uma vez que mostra o alinhamento de correntes progressistas e internacionalistas que resistem ao capital e seus autores.
Porém, ao mesmo tempo que é lamentável atitude de pseudos esquerdistas, é compreensível.
Faço uma comparação 'esquerdistas' de hoje que criticaram a atitude do PT, com os jovens que almejando frequentar uma universidade não se dedicam de forma adequada no ensino médio – ou seja, falta-lhes uma base para a concretização de seus conhecimentos e argumentos.
A base sempre é a parte mais importante de qualquer estrutura, e na luta progressista sempre será importante.
Infelizmente não apenas o PT, mas PDT, PCdoB e até mesmo partidos mais novos, deixaram de lado a formação de uma militância com base sólida, colocando na linha de frente jovens intelectualmente despreparados, sem um mínimo de conhecimento, aprofundamento e discernimento do que é verdade e daquilo que a mídia golpista divulga. A retomada do poder por parte de uma direita totalmente radical mostra onde a esquerda tem falhado, afinal, muita gente foi levada por discursos vazios, regados com pseudo patriotismo e retóricas batidas – tal como nos anos de chumbo.
A crítica que tanto cobram do PT deve também ser estendida aos demais partidos que defendem políticas sociais e políticas progressistas. Enquanto a esquerda bater cabeça e for "cirandeira", esquecendo da base, dos movimentos sociais como MST e MTST, índios, quilombolas e tantos outros, estaremos fadados ao fracasso. Essa mea culpa deve ser amplamente discutida e muita coisa revista para que não apenas o PT volte a ser um "partido chão-de-fábrica" mas para que outros partidos de esquerda com tradições dignas voltem também às suas origens.
Só assim evitará que nos deparemos com figuras patéticas e oportunistas como a de Ciro Gomes, que até hoje é ambíguo em suas colocações, e que com toda certeza é motivo de vergonha e decepção por parte do saudoso Leonel Brizola e seu PDT.
Não tenho dúvidas de que tudo correndo bem e dentro do Estado democrático a esquerda voltará ao poder no Brasil nas próximas eleições ainda mais com a presença de um sujeito patético e despreparado como Bolsonaro (um prato cheio para erros e mais erros que prejudicarão xs brasileirxs, além de ser um mentiroso e hipócrita, tão corrupto e bandido quanto aqueles que outrora vociferou). Porém mais do que a volta ao poder é urgente que voltemos à base, sem a qual nenhum projeto político se sustentará; é necessário a formação e acima de tudo a educação de jovens e adultos, levando até eles as informações e as verdades que a mídia manipuladora insiste em esconder e omitir. Somente assim a esquerda teria chance de não apenas ascender ao poder, mas de perpetuar suas ideias e suas lutas entre a população. Não há outra saída.
Lembremos dos dizeres de Marx e Engels: "trabalhadores do mundo, uni-vos!'
Em tempo: na mesma semana que escrevi esse artigo, deparei-me com a notícia do alinhamento do PDT (!) e do PCdoB(!!!) com Rodrigo Maia (DEM), em apoio à candidatura à presidência da Câmara. É isso que chamam de "bloco de oposição"?
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