Se popularidade de Temer piorar ainda mais nas pesquisas, Dilma volta

Detalhe: para Dilma recuperar o cargo, só faltam três senadores. Se aqueles que votaram contra seu afastamento mantiverem o voto e mais três votarem contra o golpe, não vai ter golpe. Nesse contexto, dois senadores já avisaram que agora vão votar contra o impeachment

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente, Michel Temer, participam da solenidade onde recebem os cumprimentos de oficiais-generais no Clube do Exército (Antonio Cruz/Agência Brasil)
Brasília - A presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente, Michel Temer, participam da solenidade onde recebem os cumprimentos de oficiais-generais no Clube do Exército (Antonio Cruz/Agência Brasil) (Foto: Eduardo Guimarães)


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Os sinais estão todos aí, só não vê quem não quer. A reportagem que você vai ler a seguir mostra que o governo Michel Temer está se enforcando sozinho e explica porque o jogo político começa a experimentar uma reviravolta surpreendente no Brasil.

Confira:

“O ministro de combate à corrupção do presidente interino do Brasil, Michel Temer, renunciou segunda-feira depois de uma gravação secreta mostrar que ele tentou frustrar arrebatadora investigação de corrupção que gira em torno Petrobras, a empresa nacional de petróleo.

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A queda de Fabiano Silveira, cujo título era ministro da transparência, é outro golpe para um governo que parece mancar de um escândalo a outro poucas semanas depois de o Sr. Temer substituir Dilma Rousseff.

Dilma foi suspensa como presidente para enfrentar acusações de manipulação orçamentária em um processo de impeachment.

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Um dos principais assessores do Sr. Temer, Romero Jucá, deixou o cargo na semana passada como ministro do Planejamento após outra gravação indicaram que o centrista Partido do Movimento Democrático Brasileiro, ou P.M.D.B., tinha provocado a queda de Dilma para frustrar o inquérito sobre o esquema de corrupção na Petrobras.

Em um ambiente cada vez mais paranoico na capital, Brasília, membros da elite política e empresarial do país estão gravando secretamente um ao outro com o objetivo de reunir o que oferecer em uma delação premiada. Sergio Machado, político que foi executivo-chefe de uma unidade de transporte da Petrobras por mais de uma década, transformou-se em um tesouro para os investigadores, com suas gravações.

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Ao fazê-lo, o Sr. Machado, que foi acusado de ajudar a orquestrar o esquema de suborno na Petrobras, está traindo várias figuras políticas graúdas às quais gravou. Incluindo José Sarney, ex-presidente; Renan Calheiros, chefe do Senado; e Sr. Jucá, ex-ministro do Planejamento que continua um senador e presidente da P.M.D.B.

Na última revelação, o Sr. Machado gravou conversa telefônica neste ano envolvendo o Sr. Calheiros e o Sr. Silveira. Na época, o Sr. Silveira integrava o Conselho Nacional de Justiça, um órgão de supervisão do Judiciário do Brasil.

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Nessa gravação, que teve partes transmitidos no fim de semana na rede de televisão Globo, o Sr. Silveira foi ouvido aconselhando o Sr. Calheiros sobre como enganar os promotores.

Um porta-voz do Sr. Silveira disse que os comentários foram ‘tirados de contexto’.

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O Sr. Calheiros, juntamente com uma série de outros políticos poderosos, está sob investigação sob acusações de que embolsou enormes subornos no esquema Petrobras. Cerca de 40 políticos, magnatas de negócios, estrategistas de campanha e financiadores de campanhas foram presos desde que promotores começaram a investigar o esquema dois anos atrás.

O Sr. Temer tinha resistido a demitir o Sr. Silveira mesmo depois de funcionários do ministério anteriormente chamado de Controladoria Geral ter impedido o Sr. Silveira de entrar no prédio na segunda-feira por conta das investigações. Mas aumentou a pressão sobre o Sr. Silveira durante o dia e ele caiu.

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‘É decepcionante que o ministro encarregado da transparência esteja agora sob suspeita de fazer parte de uma operação de encobrimento’, disse Alejandro Salas, o diretor para as Américas da Transparência Internacional, um grupo internacional de combate à corrupção.”

A novidade contida na matéria acima é que não foi escrita por nenhum blog “petista”. Você acaba de ler tradução de reportagem do maior jornal do mundo, o The New York Times, publicada nesta segunda-feira (31/5), conforme mostra imagem abaixo.

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Para acessar a matéria original do NYT, clique na imagem abaixo

virada 1

 

É impressionante como Temer não faz nem questão de disfarçar as suas intenções nefastas. Formou um ministério essencialmente composto de investigados por corrupção e, ó que surpresa, surgem gravações mostrando que eles são mesmo corruptos.

O humorista Gregório Duvivier foi quem melhor definiu esse aspecto impressionante do governo Michel Temer na divertidíssima crônica The ‘House of Soraya, que você pode ler abaixo.

virada 2

“A política nacional tá melhor que “House of Cards”! Quem diz isso nunca viu “House of Cards”. Acho uma falta de respeito com “House of Cards”.

Se fosse uma série, teria reviravoltas. Mas não. Desde o primeiro episódio que tá todo o mundo dizendo que é golpe. Tudo indica que é golpe. Eis que, na quinta temporada, os roteiristas escrevem uma grande revelação: ouvimos o ministro do Planejamento planejando (perceberam a sacada do roteirista?) um golpe. “Óóóóóóó”, grita a plateia, meu deus! “Que surpresa! Por essa não esperávamos!”

Se fosse uma série de qualidade, Temer não teria tanta cara de vilão. Desde “Super Xuxa Contra o Baixo Astral” não se vê um malvado tão caricato –até ACM, o Toninho Malvadeza, achava Temer uma escolha óbvia demais para o papel: “Parece mordomo de filme de terror”. Nem no pior filme de James Bond (“007 contra o Foguete da Morte”, que se passa, não por acaso, no Brasil) se pensou num malvado tão obviamente malvado. Qualquer criança de seis anos quando vê um sujeito pálido com rosto esticado e voz de sarcófago sabe que é “do mal”. “Foi ele, mamãe!”, as crianças gritariam no teatro infantil. “Foi o vampiro que matou!”.

Numa série de respeito, os vilões tentam, pelo menos, fingir que são “do bem”: não escalariam um ministério só com homens, não receberiam o Frota no Ministério da Educação e, sobretudo, não revelariam todo o plano maléfico nem para o melhor amigo.

Esse recurso de roteiro é um truque baixo. Nunca entendi por que o vilão, quando finalmente encurralava o super-herói, perdia tanto tempo explicando o plano para o mocinho, em vez de simplesmente matá-lo –o tempo que levava explicando o plano era o tempo necessário para o herói se livrar das amarras. O áudio de Jucá combinando tirar Dilma, não porque ela está investigada, mas porque ela deixava investigar, parece o capítulo final de “Maria do Bairro”, em que Soraya revela: “Sou eu, Soraya! Sua pior inimiga!”. Sim, todo o mundo já sabia que era você, Soraya. Quer dizer, todo o mundo, menos a Maria do Bairro, claro.

A maioria das pessoas que clamavam pelo impeachment recebeu o áudio de Jucá tal qual Maria do Bairro: com surpresa. Cristovam Buarque disse que estava perplexo, que “não imaginava” nada disso quando votou pelo impeachment. Ih, rapaz, tenho várias coisas pra te contar. Sabe o Clark Kent? Era a verdadeira identidade do Super-Homem. Sim! Por isso eram tão parecidos! Mas não espalha”

A situação está tão feia para os golpistas que a colunista mais tucana do Brasil, Eliane Cantanhêde, do Estadão, pediu arrego. Não se sabe a quem ela se dirigiu, mas escreveu um apelo para que “deem um tempo” para Temer, senão Dilma volta. Um trecho desse apelo “de$intere$$ado” de Cantanhêde pela salvação do governo golpista de Temer dá a medida da confusão mental dessa mulher.

“Tanto quem é a favor quanto quem é contra o afastamento de Dilma tem de ter em mente a responsabilidade coletiva com a história e que só há três saídas para um país mergulhado em tantas crises. Fora disso, não há alternativa, a não ser anarquia. Uma saída é dar uma trégua para Temer governar e a equipe de Henrique Meirelles tentar por a economia em ordem nesses dois anos e meio, para entregar para os eleitores em 2018 um país razoavelmente saneado. Temer não é perfeito e o PMDB tornou-se muito imperfeito, mas ele foi escolhido por Dilma e por Lula e eleito na chapa do mesmo PT que anima os queimadores de pneus, os invasores da Cultura, os que gritam “Fora Temer” e uma turma que mora fora – uns, há tantas décadas, que deveriam estar mais preocupados com o Trump”

A colunista deveria pedir “trégua” a Temer. Ele que pare de nomear bandidos para seu ministério, extinguir políticas públicas e alardear planos “brilhantes” como diminuir a assistência pública de saúde em um país que, de Norte a Sul, clama por mais atendimento médico, não menos.

Contudo, o desespero da colunista do PSDB (agora, peemedebista desde criancinha) mostra que, sim, a militância pela democracia está aproveitando tão bem as oportunidades oferecidas pelos golpistas para serem desmascarados que o jogo está mudando.

O mais importante nesse texto é que Cantanhêde confirma informação que este Blog obteve, de que no Congresso já é senso comum que Dilma vai voltar se Temer continuar sendo trucidado todo santo dia.

O que Cantanhêde não considera é que várias pesquisas dão Temer como mais impopular que Dilma. Inclusive, não para de circular boato de que a petista recuperou aprovação e aumentou muito a rejeição ao impeachment.

Não é à toa que os institutos de pesquisa estão congelados. Não pesquisaram mais nada depois do golpe. A mídia não tem absolutamente nenhuma curiosidade em aferir a (im) popularidade de Temer.

Contudo, apesar de essas Cantanhêdes da vida acharem que podem fazer as pessoas engolirem um governo como esse só por raiva de Dilma, vai ser difícil de mudar esse quadro. A imprensa internacional não acredita na grande imprensa brasileira, tanto que está mandando suas próprias equipes de reportagem para o Brasil para cobrir a crise política.

Nos EUA, por exemplo, há uma legião de blogueiros e vlogueiros importantes e respeitados difundindo os fatos reais sobre o golpe. Um desses jornalistas norte-americanos divulgou por web TV um comentário arrasador para os golpistas. Trata-se do excelente programa Os Jovens Turcos (The Young Turks).

Assista.

Como bem relata o apresentador, não é ele quem está achando que houve um golpe no Brasil; a mídia de seu país e as de outras potências do dito “primeiro mundo” já sacaram que o golpe é golpe. Daí que a pressão sobre o Senado não vem só daqui, mas vem “de lá”…

A esta altura, qualquer pesquisa que surgir mostrando a quantas anda a popularidade de Temer e a opinião da opinião pública sobre o impeachment poderá influir fortemente sobre a decisão que o Senado tomará daqui a alguns meses sobre o mandato de Dilma.

Até aqui, os institutos de pesquisa ligados a impérios de comunicação, o Datafolha e o Ibope, abstiveram-se de divulgar pesquisas sobre a popularidade de Temer, de seu governo, de Dilma e do impeachment. Mas será difícil segurar por muito tempo.

A mídia espera que, daqui a pouco, Temer pare de cometer, digamos, temeridades, e de, assim, adiantar a bola para os adversários chutarem, para, só então, ir a campo pesquisar a opinião pública em busca de algum resultado menos ruim para o golpista.

Não é muito provável que isso aconteça. E o que é pior para os golpistas: se o clima que está se formando contra Temer no país mostrar piora de seu governo nas pesquisas, senadores que votaram pelo afastamento de Dilma podem mudar de ideia.

Detalhe: para Dilma recuperar o cargo, só faltam três senadores. Se aqueles que votaram contra seu afastamento mantiverem o voto e mais três votarem contra o golpe, não vai ter golpe. Nesse contexto, dois senadores já avisaram que agora vão votar contra o impeachment.

*

PS: Não sei se precisava dizer, mas é por tudo isso que não estão saindo pesquisas. Mas uma hora vão ter que sair. Senão, os interessados têm que pagar por ao menos uma pesquisa mostrando o que a maioria dos brasileiros está achando da troca de governo que apoiou.

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