Se é para comparar...

O julgamento de Lula expressa que a luta no Brasil está se dando não por uma reforma ou outra, mas pelo controle do poder político. Eis a chave para a tese de que a luta de classes no Brasil, nesse momento, está se dando num nível superior ao da Argentina

20/08/2015- São Paulo- SP, Brasil- Manifestação contra o impeachment de Dilma, no Largo da Batata, em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/ Agência PT
20/08/2015- São Paulo- SP, Brasil- Manifestação contra o impeachment de Dilma, no Largo da Batata, em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/ Agência PT (Foto: Leandro Monerato)


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As ideias dominantes são as ideias da classe dominante. E a burguesia brasileira odeia o Brasil, despreza o país e seu povo, sua história, suas riquezas. Não à toa este sentimento ecoa pelas demais classes e vemos a própria esquerda repercutir muitas vezes esse desprezo.

A luta que está se travando na Argentina é importantíssima. Mas usar essa luta para desmoralizarmos a nós mesmos é um absurdo. Aliás, mostra uma incompreensão completa da evolução da luta de classes, e nesse terreno, aqui o jogo está se dando num nível muito mais elevado do que no país vizinho.

Nesse sentido, a luta dos trabalhadores argentinos corresponderia à luta que travamos contra a PEC da morte, contra vários ataques que aconteceram desde o golpe de estado. A resistência contra o golpe havia sido enorme e foi derrotada.

Ano passado, após a maior greve geral da nossa história, Temer soltou as forças armadas com violência brutal contra uma manifestação gigante em Brasília. O movimento se deprimiu, recuou. Coisa normal frente ao seu despreparo diante do inimigo com que se defrontou.

As próprias contradições do golpe de estado aliado ao desgaste com que o governo golpista surgiu, a força latente da nossa classe operária e a relativa debilidade do imperialismo nesse momento, se expressam no caso Lula.

E este caso expressa que a luta no Brasil está se dando não por uma reforma ou outra, mas pelo controle do poder político. Eis a chave para a tese de que a luta de classes no Brasil, nesse momento, está se dando num nível superior ao da Argentina.

Contudo, essa luta pelo poder ainda se expressa no terreno eleitoral. Pelo que já passamos no último período seria bem fácil perceber o erro de apostar em eleições diante de um golpe de estado.

O cinismo do processo contra Lula beira ao surrealismo. Mas ainda se mantém esperanças num processo judicial. Porém, o sentido dinâmico desta ilusão aponta para um aprofundamento da consciência de classe.

É como se o movimento precisasse confirmar aquilo que todos já sabemos. O Rei está nu. Mas nos falta convicção e força para derrubá-lo.

Quase toda esquerda aposta todas suas fichas nas eleições de 2018. É por isso que aqui não tem luta contra a reforma da previdência. Toda mobilização está sendo direcionada para uma ilusão, uma ilusão no caráter democrático do Estado.

A partir do momento que esta desilusão for desfeita, a possibilidade da luta eleitoral passar para uma luta nas ruas é enorme. E então essa luta estará se dando de forma revolucionária contra o Estado de conjunto, pelo poder político.

Aqui já entendemos de forma empírica que não adianta lutar contra uma reforma aqui, outra acolá, enquanto o inimigo detém todo o estado e ataca em toda a linha de forma simultânea.

Estamos direcionando nossos esforços para o terreno correto, a luta pelo poder, mas de forma equivocada: esquecendo que qualquer luta necessita de massas nas ruas.

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