Se Dilma deixar, oposição surfará em horário eleitoral exclusivo até agosto
A presidente não entendera, pois, que a mídia não quer apenas ganhar dinheiro, mas também governar o país…
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Aos poucos, vai ficando claro por que a entrevista do ex-presidente Lula a blogueiros, no início do mês passado, provocou tanta comoção nos grandes meios de comunicação – Globo à frente. Sem essa entrevista, muito provavelmente a presidente Dilma não teria tomado as iniciativas que vem tomando no sentido de reagir ao bombardeio midiático.
O endurecimento do discurso da presidente – e, com sua anuência, de membros de seu governo, sobretudo de seus ministros – contra a oposição e seus candidatos à Presidência decorreu, claro, de números desfavoráveis apurados em pesquisas obscuras que, para quem as acompanha, sabe que forçaram a mão a favor da oposição ou contra a situação. Mas, em grande medida, decorreu também – e principalmente – da senha dada por Lula.
Dilma engajou-se na administração do país em 1º de janeiro de 2011 e acabou esquecendo do resto. Esqueceu-se de como a política pode ser eficiente em distorcer a realidade.
A presidente achou que a manutenção do bem-estar dos brasileiros em meio a uma hecatombe econômica mundial seria suficiente para mantê-la politicamente forte, mas deixou de contar com um fato: manter o bem-estar não significa aumentá-lo.
Como aumentar significativamente a qualidade de vida no país seria praticamente impossível em um momento em que o mundo se debate em desemprego e recessão no âmbito da maior crise econômica mundial da história, a falta da continuidade da melhora dessa qualidade de vida seria explorada politicamente com grande eficiência devido ao fato de a oposição dispor de máquina propagandística tão avassaladora quanto é a grande mídia.
Dilma acreditou no poder da realidade contra o poder da comunicação, a qual, ao longo de seu governo, relegou a segundo plano, dispondo-se, inclusive, a repetir os chavões dos grandes impérios de mídia com os quais respondem aos questionamentos sobre a absurda concentração de propriedade desses meios que vige no Brasil.
Dilma adotou a tese midiática do “controle remoto” como que fazendo uma oferta de paz àqueles impérios de comunicação. Algo como “Deixem-me governar que não incomodo vossos oligopólios, com os quais vêm enriquecendo tanto”. A presidente não entendera, pois, que a mídia não quer apenas ganhar dinheiro, mas também governar o país…
Por “controle remoto”.
Sem estratégia de comunicação, fazendo ar blasé para ataques reiterados dos adversários na mídia, acreditando que o massacre dos petistas condenados no julgamento do mensalão não a afetaria apesar de esses ataques criminalizarem o PT, partido ao qual a presidente é filiada, ela se manteve ocupada, “apenas”, em impedir que a sociedade sentisse os efeitos da crise internacional.
E conseguiu. Dilma conseguiu manter o país a salvo da crise. A vida dos brasileiros não só não piorou como ainda melhorou um pouco, ainda que bem menos do que durante a era Lula, que só viveu dois anos de uma crise que já dura quase seis.
Mas o que aconteceria se os brasileiros não soubessem a gravidade da crise econômica internacional? E se ela fosse tratada pelos meios de informação disponíveis aos brasileiros como “nada demais”, como um fato incapaz de justificar que o ritmo da melhora da qualidade de vida no país tenha diminuído?
Foi o que aconteceu. Vermos as críticas que temos visto tanto na grande mídia quanto nas ruas do país a uma política econômica que impediu que fôssemos contaminados pelo desemprego e pela queda da renda que se espalharam pelo planeta, chega a ser surreal.
Quando falam da inflação, parece que estamos no fim do governo Sarney, do governo Collor ou no fim do governo FHC, quando a inflação de dois dígitos deixava os salários e a renda das famílias na poeira. Nem parece que por mais de uma década seguida o Brasil mantém a inflação dentro da meta do Banco Central e que os salários têm dado um baile na inflação.
Nem parece, aliás, que há hoje no país uma empregabilidade altíssima inclusive para grande parte da mão-de-obra não especializada e que os salários estejam em níveis jamais imaginados ao longo das duas décadas anteriores à chegada do PT ao Poder.
Alguns dirão que Dilma acordou tarde demais e que já não haverá tempo para reagir, mas tal premissa não passa de desconhecimento da realidade do país, não passa de uma premissa fundada em torcida ou pessimismo exagerado.
A eleição presidencial de 2014 mais uma vez irá contrapor realidade e fantasia – ou realidade e efeitos especiais. O que vivenciamos de concreto hoje no país é uma coisa, o que a máquina propagandística de oposição está enfiando em algumas cabeças, é outra.
Ora, basta fazer o cidadão olhar ao seu redor, usar a memória para lembrar o passado e decidir se quer arriscar o que tem.
A máquina propagandística da oposição está vendendo um “Viaduto do Chá” aos brasileiros, acenando com melhoras que não virão e que, pelo contrário, em vez de melhoras serão pioras, pois quem acompanha a política conhece muito bem as plataformas de Aécio Neves e Eduardo Campos vendidas ao grande empresariado, de impor “medidas amargas” à ralé.
O fato é que o horário eleitoral na televisão e no rádio com o qual o PT e sua candidata esperam fazer os brasileiros pensarem, só começa daqui a mais de 90 dias. Até lá, o governo, sua titular, o partido dela e os aliados estarão literalmente amordaçados nos meios eletrônicos, enquanto que a oposição terá uma mídia que faz a sua vez nesses meios todo dia, de segunda a segunda.
A realidade hoje é que enquanto Dilma apanha todo dia nas tevês, nos jornais expostos em cada esquina e nas rádios, meios nos quais a grande massa se informa, a oposição aparece de forma heroica enfrentando “o poder”, inclusive reclamando de estar sendo prejudicada pela “máquina estatal” nas mãos dos adversários.
Na comunicação de massas, porém, só Dilma apanha. A economia estaria em frangalhos, a Petrobrás teria sido falida, a corrupção teria explodido e todos os problemas que são de responsabilidade de Estados e municípios, grande parte dos quais são administrados pela oposição, tornam-se responsabilidade da presidente da República.
Enquanto isso, alguém se lembra de uma única reportagem negativa para Aécio Neves ou Eduardo Campos? Até surgiram episodicamente na mídia, há vários meses, algumas denúncias contra o PSDB de São Paulo, como no caso dos trens superfaturados de Alckmin e Serra, mas Aécio e Eduardo são mantidos intocados e só aparecem no ataque, repetindo o que diz o noticiário.
Eis por que o recente pronunciamento de Dilma em cadeia de rádio e tevê deixou a mídia e a oposição de cabelo em pé. A presidente fez a única coisa que não pode fazer para que os planos dos adversários deem certo: deu a sua versão contra a versão esmagadora do noticiário.
Ora, censura só funciona se for para valer e a oposição midiática depende de Dilma continuar calada para poder fazer prevalecer sua versão da realidade, impedindo os brasileiros de refletirem sobre o que têm e o que estarão colocando em jogo em outubro próximo.
Desse modo, se Dilma não continuar falando – e muito – terá dois meses de exposição na tevê e no rádio para convidar o país a refletir, enquanto que a oposição, só neste ano, terá tido OITO meses. A oposição, assim, terá desfrutado de um horário eleitoral exclusivo na mídia eletrônica que terá sido quatro vezes maior do que o que terá tido a situação.
Em condições tão desiguais, a disputa ficará difícil para Dilma. A menos que ela continue falando, pois só a sua voz tem peso suficiente para não poder ser ignorada ou escondida. E mesmo que a cada fala sobrevenham os ataques, a militância terá argumentos e não vai dar para simplesmente tapar os ouvidos e não ouvir o que o outro lado tem a dizer.
Eis, portanto, a contribuição deste blog aos estrategistas da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição.
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