Saúde de Bolsonaro só piora, mas versão oficial diz que ele está ótimo

O recorte que o governo, as mídias bolsonaristas e a mídia conservadora em geral têm feito dos boletins médicos sobre a saúde de Bolsonaro é uma grande ficção, "uma balela", escreve o jornalista Mauro Lopes; ele analisa um a um os boletins emitidos desde 29 de janeiro e como eles foram utilizados para desinformar o país sobre o que está acontecendo com Bolsonaro; o fato é que a saúde do presidente é muito pior do que a versão açucarada dos últimos 13 dias; estamos sem presidente, mas ele está "ótimo", segundo a versão oficial

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Por Mauro Lopes, editor do 247 e do Jornalistas pela Democracia - O Brasil está sem presidente, que está internado há quase duas semanas -13 dias contados desde Jair Bolsonaro deu entrada no hospital Albert Einstein, em 27 de janeiro. Não fala, está numa Unidade Semi-Intensiva (com risco de voltar para a UTI a qualquer momento), sua saúde só deteriora, mas o país está sendo enrolado por uma versão oficial amplificada pelas redes sociais bolsonaristas e a mídia conservadora segundo a qual ele está "ótimo" e todos os agravamentos que sofre desde a cirurgia seriam "esperados". É tudo balela. 

Bolsonaro deveria ter tido alta na quarta-feira, 6 de fevereiro, na programação divulgada pelo hospital e pelo governo -ficaria, portanto, nove dias internado. Já está 13 e não tem previsão de alta. Está sem qualquer condição física para o exercício da Presidência da República. Ele sequer fala com as pessoas! Seu vice, o general Mourão, informou na noite desta quinta que não consegue falar com ele, que está incomunicável -só conversa com médicos, outros profissionais de saúde do hospital com a mulher e os filhos (leia aqui).

Mas como o bolsonarismo está transformado Mourão em seu inimigo jurado, é preciso manter o teatro do presidente saudável, enquanto o governo está cada dia mais paralisado.  

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O que assistimos nessas quase duas semanas foi uma cuidadosa edição que o governo e as mídias conservadoras fizeram dos boletins médicos, (des)informando o país que estava tudo sob controle. O 247, desde a cirurgia, tem alertado que nada está sob controle e que os sinais são de deterioração do quadro de saúde de Bolsonaro. 

De fato os boletins médicos permitem essa edição que construiu a versão açucarada da saúde de Bolsonaro e que só agora começa a azedar. Vale a pena examinar cada boletim. Eles contém informações relevantes, mas sua divulgação foi editada diariamente pelo governo, pelas mídias bolsonaristas e pela mídia conservadora corporativa, para iludir o país. Todos podem ser encontrados no site do próprio Albert Einstein, aqui

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Boletim de 28 de janeiro, sobre a cirurgia - Ela "ocorreu sem intercorrências".

29 de janeiro (10h10) - Jair Bolsonaro "apresenta boa evolução clínicocirúrgica".

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29 de janeiro (18h10) - o paciente "manteve-se estável durante o dia, sem sangramentos ou qualquer outra complicação".

30 de janeiro - "boa evolução clínico-cirúrgica".

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31 de janeiro - "mantém boa evolução clínica".

1 de fevereiro - "quadro clínico estável".

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2 de fevereiro - "Mantém-se sem dor, afebril e com exames laboratoriais normais".

3 de fevereiro - "evolução clínica estável".

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4 de fevereiro - informou febre e "uma coleção líquida ao lado do intestino na região da antiga colostomia"; mas manteve margem para a "venda" de otimismo oficial: "Está no momento sem dor, afebril, em jejum oral, com sonda nasogástrica e nutrição parenteral exclusiva. Já apresenta movimentos intestinais e teve dois episódios de ​evacuação. Segue realizando exercícios respiratórios e de fortalecimento muscular no quarto".

5 de fevereiro - "Houve melhora do seu estado de saúde nas últimas 24 horas".

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6 de fevereiro - "Evolui com quadro clínico estável, sem dor ou febre, com melhora dos exames laboratoriais e de imagem".

7 de fevereiro - o boletim da pneumonia. A redação, cuidadosa, buscou evidentemente minimizar o quadro: "Apresentou, ontem à noite, episódio isolado de febre sem outros sintomas associados, foi submetido à tomografia de tórax e abdome que evidenciou boa evolução do quadro intestinal e imagem compatível com pneumonia".

A sequência dos boletins, com os recortes feitos acima -os que o governo fez e a mídia conservadora amplificou- tem um fundo claramente esquizofrênico e começou com a própria informação sobre a retirada da bolsa de colostomia.

Uma cirurgia para tal procedimento é "considerada de porte pequeno para médio, não é considerado difícil, e tem duração média de duas a três horas", segundo Fábio Campos, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. A cirurgia de Bolsonaro durou quase três vezes mais que o tempo previsto. Mas, exceto pelo 247 e alguns veículos da mídia independente, tudo estava "normal".

Desde a cirurgia, em 28 de janeiro, acumulam-se incidentes e más notícias sobre a saúde de Bolsonaro. Mas se nos fiarmos nos boletins, nas redes sociais do bolsonarismo e na mídia conservadora, Bolsonaro está ótimo.

Se nos fiarmos nos relatos do simpático porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, tudo "está dentro do esperado". É a expressão mais frequente em seus briefings. Já vimos esse filme antes.  

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