Saudades (seamisai)
Saudades dos tempos em que descíamos a rua abraçados e sempre sorridentes, como dois adolescentes sem mais compromissos com a vida. Saudades de quando caminhávamos pelas ruas de mãos dadas, dando bons dias para as senhoras que varriam as calçadas
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Saudades dos tempos em que descíamos a rua abraçados e sempre sorridentes, como dois adolescentes sem mais compromissos com a vida.
saudades de quando caminhávamos pelas ruas de mãos dadas, dando bons dias para as senhoras que varriam as calçadas.
e elas diziam, vez ou outra: "vocês estão mais bonitos hoje, assim, combinando a cor das camisas".
saudades de deitar contigo na areia morna da praia: você olhando as estrelas no céu, eu olhando o céu nos seus olhos.
sorrio sempre que lembro de você, segura, sentada nos meu ombros nos shows de rock, banhando-me de lágrimas e suor.
de quando subíamos em árvores no parque da cidade, ou íamos de mãos dadas à missa, agradecer.
sempre que vejo um casal de bicicleta lembro de nós.
eu dando o laço na alça do seu vestido, pelas costas, você amarrando meus cadarços, ajoelhada. a gente tirando cravos do rosto...
aqueles abraços girando, tirando seus pés do chão.
a primeira manifestação da gente: todo mundo de vermelho, a nossa cor; e a nossa dor pela dor do outro aflorando em empatias, gritos, palavras de ordem.
a gente tava preocupado com o mundo que viveríamos juntos, com o planeta até.
e como olvidar o nosso primeiro mergulho no mar, juntos, no Rio Vermelho, cheios de gratidão e de graça...
lembro também da gente dormindo em barraca, saltando em cachoeiras de mãos dadas, regando plantas, plantando, comemorando o brotar de uma nova flor em nosso jardim...
e até mesmo da gente lambuzado, gargalhantes, a dividir uma suculenta manga madura; cada um chupando de um lado.
tenho lindas lembranças, também, da gente cuidando um do outro, enxugando lágrimas, curando febres, velando o sono, macerando ervas para unguentos, dando sopa na boca....
e aqueles cafés da manhã na padaria do portuga? rosto inchado de um sono demorado e tântrico; um tirando um pouco do prato do outro, as colheres se cruzando em troca de bocas, a fumaça do café embaçando seus óculos...
eu armando a rede pra você cochilar, te dando mil cheiros no cangote.
tenho saudades da quando plantamos nossa primeira árvore juntos, a quatro mãos.
e a quatro mãos nós ninamos nosso nenê; amassamos a massa do cuscuz, trocamos cafunés...
che cosa c'è!
tenho saudades de tudo isso que nunca fizemos juntos.
e talvez nunca faremos.
o que só faz
a saudade doer ainda mais.
palavras sapienciais.
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