São Luís: feia, velha e violenta. Comemorar o que?
Vamos então comemorar a antiga São Luís dos bons tempos. Aquela que só existirá nas obras literárias, nas fotos ou nos filmes de época
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Se não fosse o fim da França Antártica no Brasil, um tal Daniel de La Touche, conhecido pela alcunha de Senhor de la Ravardière ,não teria vindo desbravar a então ilha de Upaon Açu. Chegando por essas terras, o cara mudou o nome pra Saint Louis (em homenagem ao soberano Luís XIII de França). Foi então que no dia 08 de Setembro de 1612, os frades capuchinhos rezaram a primeira missa tendo como pano de fundo a construção do Fort Saint Louis.
Depois rolou a Batalha de Guaxenduba e o português Jerônimo de Albuquerque, expulsou os franceses de Maranhão. Há controvérsias sobre os 3 anos que os holandeses estiveram por lá. Mas isso é uma outra história.
Ao longo dos anos São Luís se tornou a Atenas brasileira, Jamaica brasileira, Ilha do Amor, etc. Mas foi aos 403 anos, que ganhou o título menos honroso de sua história, o da décima cidade mais violenta do mundo segundo a revista Exame . Confira aqui:
HYPERLINK "http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/as-50-cidades-mais-violentas-do-mundo-19-delas-no-brasil#11" http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/as-50-cidades-mais-violentas-do-mundo-19-delas-no-brasil#11
Aluísio de Azevedo, Coelho Neto, Gonçalves Dias, Arthur Azevedo, Graça Aranha, Josué Montello, Souzândrade, Bandeira Tribuzzi, entre outros escritores e poetas, devem estar se revirando no túmulo de tanta vergonha do que se tornou a capital do Maranhão.
Ruas esburacadas, praias poluídas, praças destruídas. Pára! Uma cidade sem macrodrenagem e sem políticas ambientais. A Lagoa da Jansen, cartão postal da cidade, apodrece com as 15 tubulações jorrando esgoto dos prédios da área nobre. Cocôs chiques boiam ao vento, vistos dos bares lotados nas noites badaladas do entorno da Lagoa. Confesso que um dia consegui ver um único jacaré.
Era pra falar aqui da Rua do Sol e do teatro Arthur Azevedo( um dos mais bonitos do País), da Rua da Paz e da antiga faculdade de Odontologia (que está em obras há anos) e nunca fica pronta. Era pra ser um texto poético, mas não é . Um desabafo de quem de fato ama e se preocupa com a cidade.
Com apenas duas pontes, Salão Luís cresceu verticalmente, mais suas ruas e avenidas não acompanharam esse crescimento. O povo sofre diariamente com engarrafamentos, trânsito desordenado e falta de estacionamentos. A cada 20 metros tem um sinal de trânsito nas grandes avenidas ou nas rotatórias. Nas rotatórias? Sim, tem rotatórias que tem até 3 sinais.
Os artistas maranhenses não tem espaço em grandes shows e nem na mídia local. Artistas plásticos não tem a sua arte valorizada. Artesões e artistas de rua, lutam para ganhar uns trocados nos sinais ou ruas dos centro histórico.
Todos os dias há assaltos, homicidios e arrombamentos. Ninguém está seguro em lugar nenhum, nem em suas próprias casas. As pessoas vivem tensas, porque o crime está mais organizado do que as políticas de segurança. Policias são insuficientes para conter aa criminalidade. Não existem locais para por tantos bandidos apreendidos todos os dias. E quando mais se prendem, mas se multiplicam.
Diante dessas palavras, pergunto a mim mesmo: O que podemos comemorar nesses 403 anos? Uma administração municipal que chega ao terceiro ano sem uma obra importante? Ou um governo que de mudança trouxe apenas o nome. Pois seu titular, ainda não mostrou a que veio?
São Luís dos casarões abandonados do Centro Histórico, dos azulejos esfacelados pelo tempo, dos abajures coloniais enferrujados e sem lâmpadas?
Vamos então comemorar a antiga São Luís dos bons tempos. Aquela que só existirá nas obras literárias, nas fotos ou nos filmes de época. Viva os 403 anos de hoje, analogicamente na São Luís do passado, aquela que não volta mais.
Ricardo Fonseca é publicitário, editor do blog Propagando e divulgador das causas midiáticas.
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