Sai Lobão, entra lobona
A grande personagem das manifestações de ontem foi sem dúvida Cristiana Lôbo. Uma espécie de Lobão que sorri e veste saias
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A grande personagem das manifestações de ontem foi sem dúvida Cristiana Lôbo. Uma espécie de Lobão que sorri e veste saias.
Não ela não foi à rua, não vestiu "uma camiseta apertada de time de futebol", não fez selfie com a PM, não discursou com uma pistola na cintura.
Coube a Lôbo a constrangedora tarefa de comentar a marcha murcha, dando a ela um caráter épico.
Lôbo é boa de ginástica, e passou a fazer flexões e inflexões verbais para dar dramaticidade à minguada rave cívica de 12 de abril.
Pela manhã, a diligente Cristiana não desanimou ao ver pouca gente na rua, ela dizia que à tarde, em São Paulo, era que a coisa ia ferver.
Falava como uma torcedora que morde seu cachorro quente na arquibancada enquanto seu time aquece no vestiário.
Porém, a tarde chegou e a Avenida Paulista continuou vazia. Mas nada parecia tirar o entusiasmo de Lôbo. A jornalista da globonews, como uma animadora de auditório, passou toda a manhã tentando encorajar o povo a ir às ruas e exibia um lindo sorriso ao falar das "famílias inteiras" que desfilavam contra o governo.
Não importa quantas pessoas tenha nas ruas, o que importa é o Datafolha que diz que 63% dos brasileiros são a favor do impeachment, Cristiana repetiu diversas vezes esse mantra lobotomizador, "isso tira a preocupação do governo, isso é que é importante."
O Datafolha era a tábua de salvação da nossa elétrica Lobona toda vez que lhe faziam a constrangedora pergunta sobre o motivo das pessoas terem ficado em casa.
Já no início da noite, sem aquela energia inicial - mais sem graça que a Renata Loprette - Cristiana Lôbo avaliou o fracasso e disse que a culpa pelo pequeno quórum era dos organizadores do evento. Covarde, Lôbo jogou tudo nas costas do adolescente asiático e do analfabeto bombadão.
Era como se ela quisesse dizer poxa, todo mundo viu que nós fizemos a nossa parte, reverberamos FHC e Serra, demos manchetes atrás de manchetes, evidenciamos o Datafolha, fizemos até cobertura ao vivo, se deu xabu a culpa não é nossa.
"Agora, o problema do governo é outro", ela continua, "não dá pra comemorar essa manifestação, mesmo com menos gente, ela tem um significado, sobretudo se a análise vier acompanhada do resultado da pesquisa Datafolha..."
E assim termina a cobertura das manifestações, deslocaram repórteres, helicópteros, carros, motos para uma festa que não aconteceu.
Saldo: um grupo novo xingava Montesquieu, um senhor de idade foi arrastado por policias por supostamente defender o governo com um megafone (na imagem ele aparece sem o tal megafone), um ciclista foi impedido de seguir viagem se não tirasse a sua inocente camiseta vermelha com gola branca, duas mulheres arrancaram as roupas e exibiram suas genitálias para os fotógrafos, alguns pais incentivaram as crianças a pisarem em uma camiseta do PT, e havia ainda os inefáveis cartazes em inglês macarrônico ostentados, seguramente, por fãs de Ed Motta.
Nada de HSBC, nada de Operação Zelotes, nenhuma palavra sobre o Trensalão Tucano, nenhum cartaz contra Beto Richa, nenhuma referência à sonegação da Globo...
Paulinho foi lá dar uma força, mas foi tratado como um rato, ratificando a sua insignificância, o botaram pra correr. Um aposentado levou um ônibus para a Avenida Paulista pedindo intervenção militar. Um PM interveio e disse que se ele não retirasse imediatamente o buzu da rua, a polícia o faria à força.
Mas a melhor imagem do dia foi sem dúvida a de uma manifestante solitária na Cidade Luz, com cartaz e Torre Eiffel ao fundo.
Nada disso interessa a nossa diligente Lôbo, que segue sorrindo, mostrando seus dotes mediúnicos para adivinhar o que pensa o governo e citando um tal de fulano-ligado-ao-governo-me-disse-que...
Ao fim e ao cabo, como um desabafo, a jornalista afirma que o Movimento Vem Pra Rua terá que inventar um novo nome e uma nova estratégia de mobilização. O seu faro perdigueiro lhe diz que a voz louca das ruas se calará.
Noblat cobrou PSDB nas ruas e disse que o partido, de facto, tem nojo de povo. Bolsonaro pediu Aécio, os revoltados online pediram o penico.
Com o minguar das ruas fica a certeza de que teremos um novo estágio de licantropia: sai Lobão, entra Lobona.
Palavra da salvação.
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