Rita, filha do Bixiga, neta de Chico Buarque

"O Pai da Rita" vai de Chico Buarque ao Bixiga com uma divertida história de disputa de paternidade

(Foto: Divulgação)


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Com sua música A Rita, Chico Buarque é não só inspiração para o argumento de O Pai da Rita, mas também um quase-personagem. Chico é, ainda, senha para uma história que poderia estar numa de suas letras mais folhetinescas. Com a diferença de que transcorre em território alheio ao do carioquíssimo compositor.

Roque (Wilson Rabelo) e Pudim (Ailton Graça) são filhos dos velhos cortiços do Bixiga paulista e sambistas da Velha Guarda da escola de samba Vai-Vai, uma das glórias do bairro. Há 30 anos eles dividem um pequeno apartamento e uma amizade aparentemente a toda prova. Pelo menos até surgir na vida deles Ritinha (Jessica Barbosa), filha de Rita, uma sambista por quem os dois eram apaixonados e um dia meteu o pé no mundo, que nem na canção do Chico. O orgulho paterno vai colocá-los em rota de colisão. Afinal, quem será o pai da Rita?

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Em torno dessa trama central, Joel Zito Araújo traçou um pequeno painel da cultura popular no Bixiga. Três gerações se atritam, representadas pela matriarcal Tia Neguita (Léa Garcia), os dois protagonistas e os novos sambistas que invadem a cena com sua conduta mais performática. Lá está também a Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano (real) que confere modernidade à cena da São Paulo preta. E ainda uma espetacular missa afro, cerimônia que celebra o mais explícito sincretismo religioso.  

Os personagens são tipificados: o sambista malandrão, o companheiro mais comedido, a prostituta rejeitada pela filha (papel de uma Elisa Lucinda simplesmente extraordinária), o barman de jeito nordestino (Francisco Gaspar), o italiano dono de restaurante (Paulo Betti), e por aí afora. O roteiro de Di Moretti não é imune a reparos. O encontro decisivo de Ritinha e Pudim, por exemplo, não poderia ser mais romanesco. Certos temas da atualidade são trazidos de maneira um tanto didática e discursiva, como a precarização do trabalho, a especulação imobiliária e a alegada deturpação das escolas de samba. 

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Mas nada disso chega a perturbar a graça calorosa do filme e a grande simpatia que transborda da tela. Os diálogos são geralmente espirituosos e o elenco aproveita cada deixa da melhor maneira. Impossível não destacar o domínio absoluto da cena por Ailton Graça e sua capacidade de colorir o personagem com nuances inesperadas. Suas duas grandes cenas com Elisa Lucinda são nada menos que antológicas. A fotografia de Lauro Escorel e a direção de arte de Ana Rita Bueno são fundamentais para transmitir a alma do Bixiga. Não precisa exame de DNA para determinar que O Pai da Rita é filho do bairro.

>> O Pai da Rita está nas plataformas Google Play, Youtube Movies, Claro TV, Apple TV e Vivo Play.

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