Rio não pode ser sub-representado no ministério de Lula

"Segundo mais importante unidade federativa do país, o Rio não pode ser tratado com desdém", escreve Ricardo Bruno

Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)


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 Por Ricardo Bruno 

O perfil  do ministério a ser anunciado à Nação nos próximos dias será a primeira referência para a análise da natureza efetiva do próximo governo do presidente Lula. É necessário equilíbrio e temperança na composição das forças que se juntaram em torno do líder petista em momento decisivo do segundo turno. Como dito reiteradamente, a vitória foi essencialmente de Lula – mais do que um nome, um personagem consagrado, suprapartidário, que ultrapassa os limites do PT e da própria  esquerda para abarcar todo o arco democrático da política nacional.

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A leitura correta do resultado das urnas impõe a composição de um ministério amplo, que reflita à perfeição o conjunto de partidos e forças que se mostram inclinadas a se aglutinar na base congressual de sustentação do governo. Diferentemente de outras vitórias do PT, quando se acreditava num gradual crescimento das posições ideológicas do partido na sociedade, o recente triunfo de Lula se deu em meio à afirmação nas urnas de um país extremamente conservador.  Lula –  com sua imensidão de signos para o eleitorado nacional, especialmente os pobres e desvalidos – foi quem venceu. De alguma forma, a sua equipe deve exprimir esse sentimento expresso inequivocamente pelo povo brasileiro.

 Na engenharia política desta negociação, há outras questões a se considerar. Devem ser levados em conta também importantes aspectos regionais, de modo a neutralizar fragilidades eleitorais em determinadas cidades ou estados.

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O caso do Rio de Janeiro é exemplar. Bolsonaro obteve 56% dos votos no estado. Segundo mais importante unidade federativa do país, o Rio não pode ser tratado com desdém tampouco com atenção desproporcional ao peso e a importância estratégica que exerce na política nacional. Se o presidente Lula deseja, de fato, formatar uma equipe cujo perfil reflita a alma democrática de seu futuro governo que o faça a partir de escolhas acertadas no Rio de Janeiro. Não se pode optar por políticos que estreitem e reforcem preconceitos em relação ao governo em formação.

Dois nomes despontam no estado com potencial para ampliar a presença do futuro governo na sociedade fluminense. No PSD, Pedro Paulo, um parlamentar de trajetória reta, sem máculas, que se tornou o principal aliado do prefeito Eduardo Paes no jogo político local. No PT, o presidente da Alerj, André Ceciliano, outro nome com enorme capacidade de trânsito e diálogo com todas as correntes políticas do estado. Ambos elevariam e dignificariam o primeiro escalão do governo se escolhidos.

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Político com sólida formação técnica, Pedro Paulo reúne predicados pessoais para ter assento na equipe ministerial: consolidaria a aliança com Eduardo Paes no Rio, agradaria à política local, atenderia à cota do PSD na negociação, satisfaria a Câmara dos Deputados e emprestaria ao cargo a confiança do mercado. Por formação, defende rigor fiscal nas contas públicas mas, ao mesmo tempo, tem flexibilidade política, adquirida em cinco mandatos parlamentares.

Na Prefeitura do Rio, exibiu competência ao, recentemente, sanear as finanças municipais, colocando-as no azul; na Casa Civil tirou do papel os principais projetos da administração anterior de Eduardo Paes, marcada pelo enorme volume de intervenções urbanas estruturantes, entre os quais o BRT e o VLT.

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André Ceciliano é um dos raros políticos do PT  com militância e reconhecimento em toda sociedade fluminense. Não por caso, se elegeu presidente da Assembleia Legislativa, com o PT tendo apenas três parlamentares e a esquerda em composição flagrantemente minoritária. No exercício do cargo, retirou a Casa das páginas policiais, dando-lhe respeito e credibilidade na interlocução junto as demais instituições públicas. Fê-la um instrumento efetivo para aperfeiçoar o diálogo em busca da estabilidade político-econômica do estado.

Se não fosse o imenso legado de projetos e realizações consolidadas em sua gestão, duas iniciativas seriam suficientes para alça-lo ao reconhecimento público como um político com P maiúsculo: a  criação do auxílio emergencial fluminense, o Supera RJ, e do fundo Soberano, através do qual o governo do estado vai acumular reservas do excedente dos royalties para garantir a implantação de políticas públicas estruturantes para as futuras gerações.

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Pedro Paulo e André Ceciliano são políticos com características próprias, de matizes ideológicos distintos, com personalidades e atuação em campos diferentes. Pode-se discordar de suas posições. E é natural que isto aconteça. Não se pode, contudo, negar a capacidade política e a competência administrativa de ambos.

Com eles, o Rio estaria muito bem representado na equipe que vai gerir o país nos próximos quatro anos. E teria sido afastado o temor da sub-representação de um estado que nos últimos tempos tem sofrido preocupante esvaziamento da defesa de suas posições junto ao governo central – a despeito de Jair Bolsonaro ter aqui a sua base eleitoral.

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Lula tem, portanto, a oportunidade singular de reconquistar cariocas e fluminenses com seu governo. O primeiro ato a ser avaliado será a escolha do ministério.

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