Respeito às diferenças: a condição sine-qua-non para habitar o século XXI

Tristemente, a atriz Cássia Kiss ignora as leis vigentes do seu país ao se dizer patriota

Cassia Kis
Cassia Kis (Foto: Reprodução/TV Globo)


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Cássia Kiss está no ar na novela das 21 horas da Rede Globo, Travessia. Na quarta-feira (26.11.22), ao afirmar seu apoio ao  candidato Jair Bolsonaro, entrelaça discursos de ódio contra as comunidades LGBTI+. Vale lembrar que defesa da família é sinônimo de padrões cristãos- pentecostais, isto é, alicerçado no patriarcado e monogâmico. Um "pai" como provedor da família e relacionamento afetivo-sexual cisgênero, heteronormativo e monogâmico. 

Em sua fala Cássia Kiss alerta que:

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"Não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com mulher e homem com homem. Essa ideologia de gênero que já está nas escolas... Eu recebo as imagens inacreditáveis de crianças de 6, 7 anos se beijando. Duas meninas dentro de uma escola, onde há um espaço chamado beijódromo".

Tristemente, a atriz ignora as leis vigentes do seu país ao se dizer patriota, quando a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4275 permite a ratificação documental de pessoas diversas que compõem a comunidade trans (composta por pessoas não-bináries, homens trans, transmasculines, mulheres trans, travesti e outras nomenclaturas ignoradas, que são ensinadas ainda no ensino fundamental, na disciplina de ciências, quando vimos, pela primeira vez, que não existe apenas XX, cromossomicamente alocados como machos e não como sinônimo de homens, e XY, para fêmeas e não para mulheres). 

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Com sua opinião, mostra-se desconhecedora do curriculo escolar que amplia o saber que circula no senso comum desde 1996, através da LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que, em seu Artigo 26, regulamenta uma base nacional comum para a Educação Básica. Sobre a denúncia de um suposto "beijódromo", no melhor estilo "Damares Alves", que cria denúncias sem provas e se coloca, com sua própria voz, como cúmplice e conivente de crimes diversos relacionados às infncias e adolescências, ao não efetuar a denúncia de modo formal ao tomar conhecimento do(s) fato(s). 

Seria o objetivo de LGBTIs  "destruir a família" e "a vida humana, como Kiss afirma? "Porque, até onde eu sei, homem com homem não dá filho, mulher com mulher também não dá filho. Como a gente vai fazer?", diz ela.

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Segundo o fundamentalismo defendido pela atriz Cássia Kiss, pela senadora Damares Alves e pelo presidente da república Jair Bolsonaro, se seguirmos seus exemplos não faltariam filhos e casamentos no mundo  e todos fora dos padrões cristãos. Afinal Cássia Kiss está em seu terceiro casamento, Damares Alves é mãe-adotiva-solo e o presidente em sua quarta esposa. O que nos parece de fato inspirado na Bíblia, mas em Salomão, que segundo consta tinha em torno de 400 mulheres e 500 concumbinas, lá no Velho Testamento, onde quase tudo era possível.

Ao dizer que há um desejo filial atribuído no útero e vinculado ao amor, Kiss ignora a existência de inúmeros filhos de homens trans que, sim, são férteis, engravidam e parem. Ou seja, numa relação gay, entre dois homens, um cis e um trans, há possibilidade de gerar vida, procriar e aumentar ainda mais o número de crianças no mundo, que aliás conta com  34 mil crianças e/ou adolescentes apenas nos sistema de adoção e acolhimento legal.

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Seguindo,

"Essa pandemia foi maravilhosa para mim, ela me trouxe a verdade. Primeiro, eu conheci o Brasil Paralelo e fiquei assustada porque eram de direita, e não que eu fosse de esquerda, porque eu já tinha me divorciado da esquerda lá atrás, em 2014. Ouvi falar do Olavo de Carvalho e saí fora do negócio" (...) "eu estava dentro de casa com dois filhos, só, trabalhando muito, cozinhando e arrumando minha casa gigante".

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Mesmo sendo refém de seu próprio discurso machista, que a sobrecarrega com afazeres domésticos e longe de uma proposta minimamente libertadora e progressista, ela insiste em crer na corrente invisível que a prende. Não percebe que cuidar de filhos, arrumar uma casa e cozinhar não é um absurdo, a maioria dos lares brasileiros são assim e que, diferente dela, não têm um pai-triarca para (supostamente) dividir tais funções. 

Venha para o século XXI, Cássia! Aqui, pessoas negras lidam com aspectos da sua dura vida, com menos drama; casais cis-gays adotam filhos de casais cis-heteros; mulheres trans são mães;  travestis são avós; homens parem;  e as pessoas entendem que famílias são compostas por vários sujeitos que se amam. Por vezes, como no meu caso, alguns membros não têm vinculo sanguíneo algum.

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Por fim, mas não último, LGBTIfobias são crimes previstos em lei, assim alerto-lhe, aos bons o bom senso, aos maus a justiça, a senhora pelo crime homotransfóbico o peso menos árduo que a violência que sua boca lança contra aqueles que nada alteram sua vida, afinal um direito não anula outro. A ADO 26, que criminaliza crimes de homofobia, são equipadas aos crimes de racismo. Com a decisão de 2019, o Brasil se tornou o 43º país a criminalizar a homo/transfobia,

Conforme a decisão da Corte:

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*praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito" em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;

 a pena será de um a três anos, além de multa;

 **se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;

 ***a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.

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