Resistir é preciso
Conclamo a todas as forças democráticas organizadas e à sociedade em geral para se manifestar contra o golpe em andamento
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Durante a campanha presidencial deste ano vi e ouvi os maiores absurdos por parte de desconhecidos e de pessoas consideradas por mim como educadas e bem informadas. Com muitas debati, com outros achei que não valia a pena argumentar, eram cartas por demais marcadas. Acreditei que o calor dos posicionamentos iriam se arrefecer após as eleições, quaisquer que fossem os resultados.
No entanto, os últimos acontecimentos no país, as notícias veiculados pela grande imprensa, mídias sociais, blogs e chats me levam a crer que estava enganado. Todos aqueles valores do conservadorismo que circularam livremente – racismo, preconceito social, regional, homofobia, machismo, alguns deles acobertados pela "religião" – estão agora evoluindo para algo muito pior: o golpismo puro e declarado contra a presidenta Dilma.
Basta um pouco de atenção para perceber que a tentativa de golpe está sendo delineada com apoio de diferentes segmentos da sociedade e não deve ser menosprezada. Entre muitos outros alertas, o do jornalista Miguel do Rosario, no artigo Respeitem a democracia pelo amor de Deus, me chamou a atenção. Ele disse: se não houver uma reação firme das cabeças legalistas do país, o golpe se consumará nas próximas semanas.
Os indícios são claros no Congresso, na grande imprensa comercial familiar, na Justiça, nos meios militares - da reserva com certeza, e quem sabe em quantos da ativa, compulsoriamente silenciosos.
Vamos aos fatos. O PSDB entra com pedido de recontagem de votos no Tribunal Superior Eleitoral, botando lenha no fogo da discórdia num país cujo sistema de apuração é considerado um dos melhores do mundo.
A imprensa prega diariamente o impeachment da presidente, espaldada pelo escândalo da Petrobras que envolve deputados de vários partidos e as grandes empreiteiras do país, e na maquiavélica capa de Veja afirmando que Lula e Dilma tinham conhecimento das transações.
Não pontuam o fato de Dilma ter sempre demonstrado ser contra e agido, na prática, contra a corrupção, fazendo com que a Policia Federal apure as denúncias, o que já vem ocorrendo, como é do conhecimento de todos, e que resultou na prisão de dezenas de empresários nas últimas semanas.
No âmbito da Justiça, Luis Nassif afirmou em seu blog recentemente que um golpe sem impeachment, muito mais rápido e simples, está sendo armado pelos ministros do STF, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O processo de impeachment exige aprovação de 2/3 do Congresso, enquanto a rejeição das contas de campanha de Dilma impede a diplomação, e a decisão fica com o Judiciário.
Num detalhado passo a passo das últimas ações de Toffoli e Gilmar, que hipoteticamente podem facilmente levar à não aprovação das contas de Dilma pelo relacionamento de algum de seus doadores de campanha aos atuais escândalos em andamento, Nassif conta que a distribuição das contas de Dilma para Gilmar foi prematura e feita em desacordo com o regimento da Casa.
O Ministério Público Eleitoral pronunciou-se contrário à distribuição dos dois processos relativos à campanha de Dilma para Gilmar, mas ele, para dificultar a redistribuição instruiu sua assessoria a começar logo os trabalhos de análise das contas e informar as diligências já requeridas nas ações de prestação de contas. Os resultados devem sair dia 25/11, ou seja, na próxima semana.
Outro fato preocupante é a propaganda de grupos de extrema direita simpáticos as soluções militaristas encontrando eco em setores da sociedade.
Desde março desde ano a reedição de manifestações do tipo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, tenta conectar-se com as Forças Armadas e ao que tudo indica, neste momento pós derrota de Aécio, estão cada vez mais próximos. Os pontos de encontro dos manifestantes no início deste ano eram comandos estaduais do Exército e Tiros de Guerra. Militares da reserva e da ativa manifestaram na ocasião apoio ao movimento.
Para quem não viveu esta época ou não sabe, estas manifestações funcionaram como apoio estratégico vital das classes dominantes à deposição do presidente João Goulart em 1964.
Agora em novembro manifestações do gênero voltaram a ocorrer em algumas cidades e extrapolaram todas as expectativas de bom senso: dentre os participantes vários carregavam faixas pela volta dos militares ao poder e contra o comunismo.
Um bom exercício de história prática seria comparar fotos das manifestações atuais com aquelas realizadas da década de 60. Seria, com certeza, no mínimo didático.
Pela internet os militantes a La Bolsonaro pregam claramente um golpe militar, afirmam que o Brasil não pode se transformar numa Cuba e que as famílias brasileiras devem estar atentas para a missão de salvar o país das garras do comunismo.
Uma visita esta semana à página da Associação dos Militares da Reserva Remunerada, Reformados e Pensionistas das Forças Armadas - um belo site repleto de fotos e grandes eventos das Forças Armadas - assusta aos incautos. Na primeira página um recado direto: "Os militares darão a própria vida para livrar o Brasil do comunismo", assinado pelo General de Exército Pedro Luis de Araujo Braga, já na reserva.
O documento afirma que "a qualquer momento os efeitos sobre a caserna da overdose da covardia, da cumplicidade e da omissão que domina o comportamento apátrida de uma minoria de comandantes, militares - lacaios dos comunistas – poderá acabar, pela reação coletiva dos contrários, provocando uma
intervenção militar muito mais grave do que a ocorrida em 1964, e colocando todos os corruptos genocidas diante de um Tribunal de Guerra"... "O resultado será um conflito armado com as forças leais ao desgoverno petista e seus cúmplices que, ao contrário do que pensam, serão mortalmente derrotadas, pois as armas necessárias para combater os inimigos de nossa pátria aparecerão" ... "e a revolta se fará presente em uma guerra civil"...
Esta frase, para bom entendedor da língua portuguesa, faz qualquer um pensar: se as armas aparecerão, elas devem estar bem escondidas em algum local. Onde será?
Se fizermos um corte no atual quadro das Forças Armadas que percentual encontraremos de militares com o mesmo posicionamento político dos 135 (dos quais 77 eram generais e generais de brigada) que assinaram em apoio ao manifesto de Pedro Luiz? Quem sabe?
Ao final do documento eles se colocam como "homens que representam o exército das gerações passadas e os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o exército do presente". O recado foi dado. Em que grau está correto não sabemos e só podemos desejar que seja o mais inexato possível.
A verdade é que altas patentes da ativa já deram sinais de desobediência explícita à Presidente da República, que pelas leis brasileiras é a Comandante Suprema das Forças Armadas. Isso aconteceu este ano quando se negaram a dar informações verdadeiras à Comissão da Verdade sobre casos de tortura e morte de presos políticos em dependências de comandos do Exército, em várias capitais do país, durante os anos de ditadura militar. Apresentaram um relatório pífio onde afirmavam desconhecer toda e qualquer ação do gênero.
O Brasil democrático de hoje garante aos militares um direito que a ditadura suprimiu da vida dos cidadãos. Se é natural prever esta posição em militares aposentados, causa, no entanto, perplexidade e preocupação encontrar o mesmo sentimento em civis, em autoridades do Judiciário, do Legislativo, da imprensa.
Há cinquenta anos eles conseguiram fazer o Brasil regredir e criaram uma noite de vinte e um anos. Torturas, mortes, exílios, famílias destruídas, vidas perdidas, um projeto nacional abortado, causando um imenso atraso social e cultural, até hoje não recuperado.
Diante de todas estas evidências, devemos refletir, estarmos alertas e agirmos no sentido de defender o que a duras penas conquistamos. Embora alguns dos que defendem o golpe pareçam lunáticos, todos estes segmentos unidos irresponsavelmente podem causar um grande estrago, mais uma vez, à Nação brasileira. E isso não podemos e não vamos permitir. Conclamo a todas as forças democráticas organizadas e à sociedade em geral para se manifestar contra o golpe em andamento.
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