Resistência ativa contra o impulso ‘bonapartista’ de Bolsonaro
"Não há atalhos e não há uma varinha mágica para derrotar o governo Bolsonaro e seus impulsos autoritários", afirma o jornalista e sociólogo Milton Alves. "Para a oposição de esquerda, resta o árduo caminho da resistência ativa e de massas, sustentada a partir das bases sociais dos trabalhadores e do povo pobre afetado pela política genocida de exclusão social", completa
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Não é segredo para ninguém que o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno almejam a construção de um governo autoritário e unipessoal, de viés bonapartista, sem os controles das instituições do estado de direito democrático, no momento fragilizadas e em boa medida capturadas pelo próprio bolsonarismo e a Lava Jato.
O filhote Eduardo Bolsonaro cometeu o ato boçal de revelar em público o desejo da turma, o que gerou uma avalanche de notas, discursos de repúdio no parlamento e um pedido de cassação do mandato do atual líder do PSL na Câmara dos Deputados.
Ao invocar a edição de um “novo AI-5”, Eduardo Bolsonaro manifestou um desejo e também mandou um recado de forma enviesada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que nos próximos dias vai decidir sobre a questão da prisão em segunda instância. Um tema que atormenta a extrema-direita, o alto comando das Forças Armadas e fratura o conjunto do Poder Judiciário.
Apesar dos aspectos grotescos e caricaturais de Bolsonaro (e do bolsonarismo), a agenda ultraliberal progride sem qualquer entrave e avança agora para a fase das mega privatizações na área do petróleo e de outros setores com a presença do estado na economia. No essencial, o Congresso Nacional não tem faltado com apoio ao governo Bolsonaro. Rodrigo Maia e o chamado “Centrão” têm apoiado todas as reformas e medidas neoliberais do governo.
Passados dez meses, Bolsonaro mantém uma base de apoio ativa e mobilizada, uma aprovação ao seu governo em torno de 30% e uma coesão do empresariado ao seu programa implementado pelo ministro da Economia Paulo Guedes. Além disso, conta com forte apoio nas Forças Armadas, no aparelho judiciário, com o ministro Sergio Moro e, ao que tudo indica, tem agora um Procurador Geral da República (PGR) amigo e protetor. E não esqueçamos também do apoio organizado das milícias, dos ruralistas radicalizados e do vasto segmento das igrejas neopentecostais.
Portanto, apesar de desgastes na condução da política ambiental e dos direitos humanos, do imbróglio do caso Queiroz e da crise no PSL, o governo Bolsonaro não perdeu a capacidade de iniciativa política e segue aplicando o seu nefasto projeto contra a maioria do povo brasileiro. O governo Bolsonaro conta ainda com a boa vontade da mídia conservadora. Ou seja, é necessário ter em conta essa real correlação de forças para definir uma tática eficaz para enfrentar e derrotar globalmente o projeto bolsonarista.
Não há atalhos e não há uma varinha mágica para derrotar o governo Bolsonaro e seus impulsos autoritários. Para a oposição de esquerda, resta o árduo caminho da resistência ativa e de massas, sustentada a partir das bases sociais dos trabalhadores e do povo pobre afetado pela política genocida de exclusão social. Um combate cotidiano principalmente nas ruas, no parlamento e demais instituições da sociedade em defesa do direito à vida, da democracia e do emprego.
As rebeliões populares no Chile e no Equador também indicam que o campo popular e democrático não pode ser surpreendido pela emergência combativa das massas.
Nos próximos dias, os desenlaces sobre os casos do ex-presidente Lula no STF e das investigações em curso do assassinato de Marielle Franco podem abrir novas possibilidades políticas para a esquerda. Mas somente a resistência ativa nas ruas mudará a qualidade do enfrentamento e abrir caminho para a derrota do projeto de viés bonapartista de Bolsonaro.
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