Republicanismo do PT veio para ficar; briga de Cunha é com o MP

Lula e Dilma poderiam ter colocado cupinchas na Procuradoria Geral da República, na Polícia Federal ou no Supremo. Mas é isso que o Brasil espera de um governante sério?



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Sempre digo que talvez a maior obra dos governos do PT – acima de sua imensa, descomunal obra social – foi a corajosa postura desses governos de sepultarem os conchavos que vigeram nos órgãos de controle da República até a chegada do partido ao poder.

Nos dias que correm, vemos simpatizantes dos governos petistas maldizerem o tão propalado “republicanismo” petista, que não tem necessariamente o que ver com os conceitos acadêmicos baseados na visão de um Rousseau, por exemplo, e seu princípio da soberania e da participação popular, ou com outras vertentes desse conceito.

O republicanismo à brasileira tem mais que ver com a postura de um governante não impedir que suas ações sejam fiscalizadas através da escolha de apaniguados para dirigirem instituições como o Ministério Público ou a Polícia Federal ou não indicar ministros do Supremo que atuem como militantes partidários (alô, alô, FHC!).

continua após o anúncio

Muita, mas muita gente mesmo não entendeu o que fez Lula, a partir de 2003, quando indicou o substituto de Geraldo Brindeiro, o notório engavetador-geral da República que realizou a “proeza” de ter barrado toda e qualquer investigação da Procuradoria contra o governo ao longo dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso.

Quando o PSDB estave no poder, tratou de aparelhar os órgãos de controle colocando Brindeiro, primo de Marco Maciel, vice de FHC durante seus oitos anos como presidente, para blindar o Estado contra a fiscalização da sociedade.

continua após o anúncio

Como se não bastasse, o ex-presidente tucano simplesmente nomeou Agilio Monteiro, um correligionário de partido, como delegado-geral da Polícia Federal, como mostra reportagem da Folha de São Paulo de 8 de março de 2002.

republicanismo 2

continua após o anúncio

Como se vê, além de usar o Estado para se proteger, os tucanos tratavam de usá-lo para atacar inimigos políticos…

Agora imagine, leitor, se, hoje em dia, meia dúzia de deputados federais fossem grampeados confessando que haviam votado de acordo com a vontade de Dilma Rousseff ao preço de 200 mil reais por cabeça. Dá para imaginar que isso não resultaria em CPI, em investigação da Polícia Federal e do Ministério Público?

continua após o anúncio

Pois bem, como todos sabemos isso aconteceu no governo FHC e ninguém investigou nada. Nem a PF, nem o MP, nem o Congresso. A sociedade era impedida de fiscalizar seus governantes, antes de o PT chegar ao poder.

Para o Supremo, FHC nomeou apaniguados, sendo o mais notório Gilmar Mendes, ex-advogado do governo, quem, mais de uma década depois, ainda age como despachante do PSDB naquela Corte. E FHC ainda tentou nomear Brindeiro para o STF, mas não conseguiu devido ao escândalo que fora a nomeação de Mendes.

continua após o anúncio

Essa situação praticamente ditatorial do governante de turno começou a mudar com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, em 2003. Naquele ano, os governos do PT passaram a nomear procuradores-gerais da República, delegados-gerais da PF e ministros do Supremo desvinculados de partidos.

Neste momento, por exemplo, há uma polêmica crescente sobre a Procuradoria Geral da República. O mandato de Rodrigo Janot termina em setembro e congressistas envolvidos na Operação Lava Jato tentam impedir que ele seja reconduzido devido ao fato de que foram por ele denunciados no âmbito dessa investigação.

continua após o anúncio

Como todos sabem, além de vários senadores, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tenta chantagear a presidente da República para que não reconduza Janot ao Cargo. Quer que ela interrompa a prática republicana do PT de indicar para dirigir o MP sempre o primeiro indicado da lista tríplice que o corpo da instituição formula toda vez que a Procuradoria Geral sofre uma sucessão, a cada dois anos.

Cunha está golpeando o adversário errado. Para entender, vejamos como o Brasil mudou sob os governos petistas.

continua após o anúncio

De 1995 para cá, a Procuradoria Geral da República teve quatro titulares: Geraldo Brindeiro (1995 a 2003), Cláudio Fonteles (2003 a 2005), Antonio Fernando de Souza (2005 a 2009), Roberto Gurgel (2009 a2014) e Rodrigo Janot (de 2014 até o momento).

Note, leitor, que enquanto FHC teve um único PGR ao longo de seus oito anos, Lula teve três e Dilma deverá ter três, também. Enquanto que FHC ignorou a tudo e a todos ao manter Brindeiro protegendo-o da fiscalização da sociedade por oito anos, os presidentes petistas passaram a obedecer à indicação do corpo do Ministério Público.

Cunha não se deu conta disso, possivelmente. Acha que Dilma iria ignorar a indicação do MP e eleger um PGR que o protegesse. Doce ilusão. Dilma não poderia fazê-lo nem se quisesse porque o Brasil mudou.

Para entender isso, coluna da jornalista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, publicada nesta terça-feira irá nos ser útil.

republicanismo 3

Eis o Brasil que aflorou da benfazeja passagem do PT pelo poder. Acabou a mamata. Suponhamos que em 2018 o PSDB chegasse ao poder. Teria que desmontar uma máquina bem azeitada de controle do Estado. Mas conseguiria?

Este blogueiro tem suas dúvidas. Alguns dirão que se o PSDB voltar ao poder tornará a colocar apaniguados nos órgãos de controle e nunca mais o governo será investigado. É possível. A mídia talvez silenciasse diante disso, como fez quando FHC estava no poder.

Porém, há dúvidas. O MP e a PF que o PSDB encontraria não seriam os mesmos que deixou. Alguns dirão que todo o MP e toda a PF são “tucanos”. Discordo.

O fato de hoje termos investigações prioritariamente contra o PT decorre do fato de o partido estar no poder. Assim, os policiais e procuradores partidários investem com fúria contra esse governo e não dão bola aos escândalos envolvendo a oposição onde ela é governo, mas se o PSDB voltar ao poder teremos policiais e procuradores que hoje estão parados, mas que amanhã terão muito o que fazer.

Em última análise, penso que não se pode criar políticas antirrepublicanas com base em que hoje o poder é “nosso” simplesmente porque o poder não é de ninguém mais, ninguém menos do que do povo.

Lula e Dilma poderiam ter colocado cupinchas na Procuradoria Geral da República, na Polícia Federal ou no Supremo. Não teria havido julgamento do mensalão ou Operação Lava Jato. Mas é isso que o Brasil espera de um governante sério, que acoberte a si mesmo?

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247