República dos golpes
A nossa república é fruto de um golpe militar; um golpe patrocinado por uma elite agrária vingativa e ressentida. O tal Marechal Deodoro, que dizem era um Monarquista, se prestou ao papel de protagonista de um golpe militar que expulsou do país o imperador, “do dia para a noite”. O golpe ocorreu porque a elite da época não foi indenizada pela coroa em razão da abolição da escravatura
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Algumas vezes acho que meu pai tem razão quando diz que “deveríamos mudar para o mato”. Segundo ele os animais, domésticos ou silvestres são mais confiáveis que aqueles que controlam os meios de produção ou, modernamente, o capital financeiro em especial.
Fato é que a nossa república é fruto de um golpe militar; um golpe patrocinado por uma elite agrária vingativa e ressentida.
O tal Marechal Deodoro, que dizem era um Monarquista, se prestou ao papel de protagonista de um golpe militar que expulsou do país o imperador, “do dia para a noite”.
O golpe ocorreu porque a elite da época não foi indenizada pela coroa em razão da abolição da escravatura.
O fim da escravidão era questão que se impunha como necessária desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, mas que encontrava viva resistência entre as elites agrárias tradicionais do país. Isso mesmo, aquele pessoal reivindicava do Estado indenizações proporcionais ao preço total que haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. As tais indenizações seriam pagas com empréstimo externo, um absurdo ao qual o império não se rendeu.
A consequência foi que os então ex-proprietários de escravos aderirem à causa republicana, não por causa de um sentimento ou ideal republicano, mas como uma verdadeira "vingança" contra a monarquia, mais ou menos a mesma motivação de Eduardo Cunha ao receber e dar seguimento ao pedido de impeachment.
Mas como de valores democráticos e republicanos não nasceu essa nossa republica ocorreram outros golpes.
Posso citar o “Golpe de Três de Novembro”, como ficou conhecido na história do Brasil o golpe do então presidente Marechal Deodoro da Fonseca.
O presidente monarquista dissolveu congresso em 3 de novembro de 1891 e instaurou um estado de sitio; tudo muito legal, afinal ele assinou decretos.
Esse ato de Deodoro suspendeu a constituição e direitos individuais e políticos. O exercito cercou o Senado e garantiu ampla e “espontânea” adesão ao golpe... Os “subversivos” foram presos como de praxe.
De triste memória o Golpe civil-militar de 1964 (que nasceu em 1950 com a vitória indesejada de Getúlio Vargas - indesejada pelas oligarquias de então - e não aconteceu em 1954 porque Vargas suicidou-se e, transformado em mártir, adiou a sanha de poder daqueles que não tinham e não tem voto) representa uma das páginas mais tristes da nossa História republicana; o golpe de 1964 foi apoiado pelos avós ou país de diversos dos personagens que hoje apoiam o golpe contra Dilma Rousseff e contra a democracia.
Concordo com Tereza Cruvinel quando ela afirma, sem meias tintas, que esse será mais violento, pois foi urdido com sofisticação, revestido de ares de legalidade, de constitucionalidade, “num agônico rito legitimado pelo STF” e porque envolvido neste véu que pode enganar os contemporâneos, mas não iludirá a História.
O grande Ricardo Lodi Ribeiro afirmou, com sua costumeira inteligência, que os golpes no século XXI não utilizam mais de tanques e baionetas, mas de manipulação de argumentos jurídicos e políticos que querem usurpar o papel da soberania popular na escolha dos governantes, com diligente concurso de uma imprensa vergonhosa, uma imprensa que, segundo Millôr Fernandes, é a verdadeira oposição, o resto seria armazém de secos & molhados.
Eu não imaginei que viveria um Golpe de Estado.
Peço desculpas aos meus filhos e aos netos que ainda não tenho por não ter participado mais efetivamente do processo politico do Brasil, por não ter sido capaz de impedi-lo, por ser nada além de um mero expectador impotente diante disso tudo.
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