República de bananas é elogio

Injusto pôr preconceitos nas versáteis e deliciosas bananas

(Foto: Ivan Marques de Castro)


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O frescor matinal o impressionou, ar puro, úmido, cheiro delicioso de terra molhada a encher-lhe os pulmões, terra viva, repleta de minhocas, aroma único, também a fragrância dos arbustos damas-da-noite que teimosos ainda permaneciam com as doces flores abertas desde o período noturno.

Proclamação da República, há um século e meio, os governantes não mais seriam monarcas hereditários, seriam doravante sujeitos eleitos pela maioria do povo. Mais ou menos, voto feminino surgiu bem depois, elas taxativamente proibidas de exercer o direito de voto, segregadas e desprezadas. Ademais, nos idos da República, um ranço indigesto de voto censitário.

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O termo confunde, censitário, um significado oposto ao que aparenta. Não, não era um censo da população, a totalidade dos cidadãos e cidadãs, ao contrário, era a permissão de voto exclusiva às classes mais abastadas economicamente, os escolhidos a dedo naquela época, os tais dignos e respeitosos, somente a eles a soberba de tal democrático privilégio.

O hino de Proclamação da República do Brasil, vergonha mundial, asco, repulsa, infâmia: "[...] Nós nem cremos que escravos outrora tenha havido em tão nobre País [...]". E não é frase fora de contexto não, significa o que explicita por escrito mesmo, era este o pensamento de então em partes da sociedade brasileira.

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Triste República imperfeita, de reformas que se fazem necessárias, o progressismo, não ao conservadorismo. O Brasil do século XXI, pós-pandêmico, necessariamente não pode ser o mesmo Brasil das carruagens e da chegada parcial de uma novidade impactante, a revolucionária energia elétrica às grandes cidades brasileiras.

Delícias da roça, seus saberes ancestrais, uma rica cultura própria, de observação paciente dos fenômenos naturais, distante de centros urbanizados, um ar puro e úmido de bem menos monóxido de carbono. O cheiro de terra molhada, a boa terra repleta de vida, minhocas, você quer senti-la aos pés nus, a boa terra.

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Você opta por andar descalço, se arrisca a pegar bicho-do-pé, sempre pega eles, ou eles que lhe pegam de jeito, mesmo assim adora andar descalço, em contato com a terra úmida e fofa, bem cheirosa, de uma roça familiar de pequeno porte, roça orgânica e de métodos ancestrais.

Roça pequena e agradável onde não se usa veneno algum, onde tudo se faz em base orgânica, urina de vaca contra fungos, extrato de pimenta contra percevejos, as joaninhas adultas e suas larvas a combater naturalmente os pulgões, passam a vida os controlando biologicamente, devorando apetitosos centenas deles, os pulgões que jogam em desfavor, sugam incessantemente a seiva de suas plantas de couve na roça.

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Cinzas de forno a lenha para corrigir a acidez do solo, seus métodos ecológicos, naturais, que eram empregados nos séculos passados quando sequer existiam indústrias químicas, as mesmas indústrias que na década de 70 ousaram produzir toneladas de agente laranja, desfolhantes de densas e ricas florestas tropicais do Sudeste Asiático. Até hoje vietnamitas e marines estadunidenses contaminados, seus filhos e netos idem, uma danação genética, hereditária, por ganâncias e ambições passadas.

República de bananas, termo pejorativo de um passado recente dado por primeiro-mundistas de narizes empinados em soberba empáfia. Seriam bananeiros os países incapazes de produzir algo de valor, algo sofisticado, manufaturado, portanto manipulado por mãos hábeis, uma produção industrializada. Então os países atrasados em tecnologia produziriam apenas bananas, às pencas, terceiro-mundistas atrasados que seriam.

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Bananas às pencas, assim são exportadas aos países de clima temperado. Cachos são aquilo que o arbusto bananeira produz, aquilo que vemos dependurado e pesando um bocado, envergando a bananeira, que é bem mais um arbusto do que uma árvore. A bananeira que nem um verdadeiro tronco exato possui, mas um pseudocaule que sustenta o arbusto e que é algo próximo às suas folhas enroladas em uma rígida dobradura em camadas sobrepostas.

Sementes não possui. Aqueles pequeninos pontos pretos no fruto estão mais para resíduos de ovários não fecundados. Fruto abençoado, nutritivo, rica fonte de potássio e calorias. Prontamente, naturalmente embalado, é possível comer uma banana sem qualquer contato manual ao fruto, mesmo com as mãos imundas. Por que seria encarada a fabulosa e versátil banana de forma tão pejorativa?

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A se pensar. Talvez por ser sempre associada aos macacos. Algumas espécies de macacos de aparência um pouco abestalhada, de olhos arregalados, se deliciando com as nutritivas bananas que os alimentam. Será por isto? A cena de um macaco meio abestalhado se coçando com uma mão e a outra mão segurando uma banana, a qual abocanha meio mal-educado, de boca bem cheia e mastigando de boca aberta, cuspindo sem querer alguns nacos abocanhados em excesso por gula. Será por isto?

Imagine-se o ano de 2048. Uma geopolítica global que, à duras penas e sofrimentos indizíveis, por fim carregue as suficientes cicatrizes e aprendizados, as lições aprendidas mais pela dor do que pelo amor. Banana-passa, abacaxi-passa, deliciosos, naturalmente caramelados, seus açúcares naturais, calorias para se levar ao bolso em emergências, minerais, algumas vitaminas restantes do processo de secagem solar.

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Bananas produzidas em um mundo futuro de tablets levíssimos, ultrarrápidos e eficientes. Tecnologia ainda não haverá para reproduzir a complexidade e beleza do fruto natural, o qual até mesmo as suas cascas protetoras, sua embalagem natural, riquíssima em potássio e fibras digestivas, se faz comestível quando cozida. Todos os consumidores futuros então adaptados a um mundo novo de desperdício zero.

A Proclamação da República em comemoração anual, ainda, quinze de novembro de 2048, só que o nosso Brasil imaginário, em um futurista devaneio otimista algo utópico, por fim se apraz e assume o nobre título de uma república de bananas. Produz toneladas do fruto abençoado, de alta qualidade, os exporta em transatlânticos transoceânicos, produz também as finas iguarias bananas-passas, naturalmente, somente com a desidratação e caramelização ao sol. Um Brasil que ao mesmo tempo exporta também aeronaves, satélites e navios petroleiros com tecnologia de ponta quase cem por cento nacional.

República de bananas de um passado remoto, não mais, um lugar esquisito no globo terrestre onde nada valha de verdade, um país não sério tal qual teria dito uma vez Charles de Gaulle, o qual quase ninguém mais em 2048 sequer se lembrará o semblante e quepe característicos.

Uma república não séria, imperfeita, de mentirinha, hoje um presidente neofascista que faz o que bem entende, infringe o Código de Trânsito Brasileiro de forma recorrente e anunciada, desafiando as leis em enorme arrogância e pretensão.

Que se fique por aqui quanto aos absurdos autocráticos conservadores do atual governo. Melhor assim, para não estragar o seu dia, o nosso, que se fique por aqui.

Imaginemos otimistas, apreciando o cenário de um produtivo pedaço de roça familiar agroecológica, imaginemos, para não estragar o humor e não dobrar as nossas tripas, que o ainda perturbado presidente brasileiro neofascista tenha mostrado ao mundo todo, pela derradeira vez, se despedindo da brincadeira de desgovernar o país, tenha mostrado ao mundo todo um Brasil tal qual uma verdadeira burlesca e risível república de bananas.

Mas que assim o fez, imaginemos, tão somente assim o fez, expôs o Brasil à vergonha global, tão somente por andar de moto seguidamente sem capacete de proteção.

Ingenuidade. Há bem mais coisas, mas fiquemos por aqui para escantear o pessimismo. Há bem mais coisas deste lastimável presidente neofascista enterradas em sigilos centenários.

Melhor fossem minhocas enterradas, em terra úmida, fofa e de delicioso aroma orgânico.

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