Renato Freitas: jovem, negro, curitibano: preso
"O mandato e a vida de Renato e de todos os que, como ele, defendem os jovens negros das periferias das grandes cidades, tem que ser defendidos e garantidos, para que novas gerações de jovens negros e negras surjam e ocupem cada vez mais espaços na vida politica brasileira", escreve o sociólogo Emir Sader
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Renato jogava basquete, em uma quadra pública, com um amigo, enquanto ouviam música de uma caixa de som, quando foram abordados por policiais. Sem dizer por que, queriam prendê-los. Renato perguntou a razão, eles responderam que não sabiam.
Não era a primeira vez que Renato foi vitima da discriminação pela policia de Curitiba, nem, a primeira em que foi preso. Sempre da mesma forma, da anterior um policial disse que ele deveria desaparecer da praça do centro da cidade. Não foi a primeira nem a segunda vez que o Renato foi levado para aquela delegacia de polícia do centro de Curitiba.
Renato é um jovem negro da periferia de Curitiba. Formou-se como advogado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fortaleceu sua militância na defesa dos jovens das periferias da cidade na sua qualidade de advogado.
Nas ultimas eleições municipais ele e Carol Dartora - ela também uma negra, formada em pedagogia pela Universidade Federal do Parana’, professora – foram eleitos pelo PT como os primeiros vereadores negros em Curitiba. Antes ainda de tomar posse, Renato foi vítima de ameaças de morte. Teve que mudar de casa, buscar proteção para se prevenir dessas ameaças.
Os dois – Renato e Carol – estão fazendo mandatos extraordinários na Câmara de Vereadores de Curitiba. Percorrendo a cidade, especialmente os setores populares, levando suas reivindicações para a Câmara, com dinamismo inovador nas formas de representação da população da cidade.
Logo nas primeiras semanas de exercício do mandato, um vereador de ultra direita apresentou uma moção pedindo a cassação do mandato do Renato. Alegavam que ele teria feito afirmação falsa sobre a política de vacinação do governo federal, quando Renato apenas retomava acusações que circulam amplamente na mídia. Renato promoveu mobilizações de apoio em frente à Câmara, mas a ação demonstra a dificuldade dos setores conservadores da elite política da cidade em conviver com personagens como o Renato e a Carol, antes completamente invisíveis.
Ter sido eleito vereador não mudou a situação de discriminação que Renato sofreu a vida toda, como jovem negro, das periferias da cidade. Ele foi abordado como jovem negro, com a mesma arbitrariedade de sempre.
Logo quisera deter a ele e ao amigo dele. Quanto ele perguntou a razão, nenhum dos policiais soube dizer a razão. Levaram a caixa de som. Quiseram algema-lo e colocá-lo no porta-malas da viatura policial. Ele se identificou, não adiantou nada, mas se negou a ser algemado e colocado no porta-malas da viatura.
Foram levados à delegacia de polícia. Rapidamente correu a notícia, até porque toda a abordagem dos policiais foi filmada por um celular. Logo houve uma concentração de apoio a eles, gritando: Abaixo a discrimiancao! Renato livre!
Finalmente, no final da tarde, Renato e seu amigo foram libertados. Ele reiterou a forma discriminatória da abordagem policial, recordo que não foi a primeira vez. Disse que tentaram lavrar uma ata acusando-o de ter ofendido os policiais. A gravação feita pelo celular obrigou a mudar a versão.
Mas os dois foram libertados sem nenhuma explicação sobre as razões da sua prisão. Como se a prisão de jovens negros fosse naturalizada, como se não tivesse que ser justificada.
A eleição do Renato e da Carol foi um dos fenômenos mais importantes das eleições municipais no Brasil no ano passado. Eles têm um desempenho extraordinário, se projetam como lideranças de uma nova geração, que renova a vida política de Curitiba.
Seguirão atacando Renato, ainda mais porque sua projeção e a da Carol se projetam cada vez mais. Serão vítimas de ameaças, de tentativas de cassação do seus mandatos, com tentativas de prisão e de constrangimento.
A defesa do Renato e da Carol, dos seus mandatos, da sua liberdade pessoal, das suas próprias vidas, é responsabilidade de todos os que lutam pelo restabelecimento da democracia no Brasil. O mandato e a vida de Renato e de todos os que, como ele, defendem os jovens negros das periferias das grandes cidades, tem que ser defendidos e garantidos, para que novas gerações de jovens negros e negras surjam e ocupem cada vez mais espaços na vida politica brasileira.
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