Relação "pragmática" de Biden com o Brasil é na prática aliança com Bolsonaro
Chega ao Brasil nesta quinta-feira (5) a delegação de alto nível dos EUA que vai tentar banir 5G chinês do mercado brasileiro
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Chefiada pelo conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, chega nesta quinta-feira (5) ao Brasil uma delegação de quadros de primeira linha do governo Joe Biden para negociar diretamente com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro os interesses rapaces do imperialismo estadunidense em relação ao nosso país, que pretendem continuar dominando, e principalmente conquistar adesão plena aos objetivos geopolíticos estratégicos da superpotência norte-americana.
A delegação norte-americana deve ser recebida por Bolsonaro e está instruída a não abordar os temas considerados sensíveis, tais como o caráter de extrema direita e neofascista do governante brasileiro, suas ligações com a extrema direita trumpista e sua visão e comportamento em favor da devastação ambiental, que por sinal antagonizam os valores defendidos por Biden na cúpula do clima realizada no início do seu mandato.
O enviado de Biden se encontrará também com o chanceler Carlos França, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ministro da Defesa, Braga Netto, que fez explícitas ameaças golpistas e é alvo de denúncias na CPI da Covid-19, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, um dos mais ferrenhos defensores do militarismo e das posições de direita do governo Bolsonaro. Também o secretário especial de Assuntos Estratégicos, Flávio Rocha, está escalado para receber os emissários do imperialismo estadunidense.
Trata-se de uma missão estratégica de interesse direto da Casa Branca, reveladora da importância da cartada que está sendo jogada. Apenas uma visita presidencial seria mais relevante do que esta.
O foco desta primeira missão de alto nível da Casa Branca desde a posse de Joe Biden é o enfrentamento à China e o banimento do 5G chinês do mercado brasileiro. Em declarações ao jornal O Globo, que abriu manchete para a chegada da missão americana, o ex-embaixador Thomas Shannon afirmou a importância estratégica que nosso país tem para os EUA e que o leilão do 5G ocupa uma posição prioritária na agenda americana, sendo central a chamada questão China. É o que transparece também de todas as informações de bastidores que antecederam a visita.
Em nome desse objetivo, Joe Biden está disposto a comprar briga com os setores de seu partido e de correntes progressistas da sociedade estadunidense que prefeririam ver o governante que ajudaram a eleger tomando distância do tiranete que ocupa o Palácio do Planalto e sofre a rejeição de mais de 60% dos brasileiros, conforme pesquisas de opinião pública, e é rechaçado em manifestações de rua.
A cartada bolsonarista de Biden só pode ser compreendida no contexto de sua política externa global. Seu objetivo central é conter a ascensão da China, potência emergente, cuja economia tende a ser a primeira do mundo e cujo protagonismo no cenário internacional é tido como uma ameaça aos interesses vitais do imperialismo estadunidense e seus aliados.
Diferentemente desses interesses vitais, que só podem ser defendidos intensificando o exercício do hegemonismo, a China, com sua política de promoção do desenvolvimento compartilhado e do autêntico multilateralismo, propugna uma ordem internacional democrática, cuja realização está diretamente ligada ao exercício da autodeterminação das nações e à verdadeira cooperação global.
É essa disjuntiva que leva o governo Biden a partir para uma espécie de vale-tudo em sua política de alianças. É a chave para decifrar o sentido da palavra "pragmatismo" usada pela diplomacia americana para definir o caráter da missão ao Brasil e sua aliança na prática com o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro.
Isto deveria servir como alerta às forças democráticas e progressistas brasileiras para que não se iludam no foco da sua ação e entendam que os inimigos da democracia no mundo não são Xi Jinping nem Vladimir Putin. Na eventualidade do retorno dessas forças ao governo, o Brasil deve retomar o rumo de sua política externa altiva e ativa dos tempos de Lula e Dilma, que só foi possível porque reconheceu quais eram as alianças que favoreciam os interesses nacionais e a justa inserção do país no cenário global.
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