Rei da suruba, Arthur Lira "come" todo mundo em Brasília

"O presidente da Câmara se porta como um Rei do Camarote no troca-troca", diz Luís Costa Pinto, que aponta: "o PT se entregou nos braços de Lira"

Arthur Lira
Arthur Lira (Foto: Reuters)


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Toda casa de swing tem um Código de Ética que deve ser respeitado pelos frequentadores. Não interessa se o jogador vai até lá para desempenhar papel ativo ou passivo; como voyeur ou como protagonista; no curso de uma carreira solo ou integrando coligações ou federações de swingers: tem de respeitar o regramento cujo preceito fundamental é o de que não haverá conjunção carnal se todos os circunstantes assim não o desejarem.

Em casas de tolerância máxima, onde ninguém é de ninguém, o surgimento de uma personalidade alfa que obrigue todos os demais a fazerem o que ele deseja, como num Clube de Swing, por exemplo, foge às regras do jogo e desqualifica o certame.

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Sob a liderança de Arthur Lira, convertido numa espécie de Macho Alfa que subjuga todo o mundo – de lideranças do PT no Parlamento a cabeças coroadas da transição instalada no Centro Cultural Banco do Brasil; de presidentes de partidos políticos a senadores, passando por integrantes de tribunais superiores – o Congresso vê-se convertido em lupanar moderninho.

O presidente da Câmara dos Deputados se porta como um Rei do Camarote no troca-troca de convicções, votos, posições, postos em comissões, votos-por-verbas e racionalidade x razoabilidade. Impôs a solução dos problemas dele – a própria reeleição para o biênio 2023/2024 a ocorrer em 1º de fevereiro – antes de serem resolvidas as equações armadas no tabuleiro da transição de governo. O mandato do presidente Lula se inicia um mês antes, em 1º de janeiro.

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Transformados em eunucos da camarilha de consortes de Lira, lideranças do Partido dos Trabalhadores, de siglas que outrora eram de centro-esquerda como PCdoB e PDT e PSB, facilmente se curvaram às ofertas sedutoras do deputado alagoano e se revelaram faceiras na arriscada suruba parlamentar implementada para aprovar a “PEC da Transição” e conferir legalidade à pornográfica prática de crimes decorrentes da operação do orçamento secreto com as emendas de relator.

O PT se entregou nos braços de Lira fiando-se na promessa de que terá a presidência das Comissões de Constituição e Justiça e de Orçamento na próxima legislatura. Em paralelo a se deixar enredar nessa teia de enganações, lideranças parlamentares do PT esgrimem falsos argumentos contra os críticos dessa operação congressual desastrosa. Desqualificam e chamam de ingênuos quem lhes contraria porque, dizem, o presidente da Câmara poderia aprovar o impeachment de Lula nos primeiros meses do novo mandato do petista.

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Blocos parlamentares de ficção, que terão validade de apenas 30 a 60 dias, estão sendo formados na Casa para consolidar uma chapa única consensual à Mesa Diretora – encabeçada pelo candidato à reeleição. Arthur Lira elege-se primeiro. Só uma a duas semanas depois, as comissões permanentes da Câmara serão preenchidas. Daí os blocos oportunistas estarão desfeitos, os partidos que não estiverem federados desde a eleição de outubro seguirão correndo em faixa própria e ninguém será capaz de ordenar ao Rei da Suruba que mantenha a palavra empenhada. Contudo, para o PT de Lula e para o PSB do vice Geraldo Alckmin, abraçados e aninhados na teia malévola de Arthur Lira, terá passado o tempo ideal para aproveitar as oportunidades e as virtudes que o destino e os eleitores brasileiros delegaram à dupla eleita no pleito majoritário de outubro.

Não é possível determinar o que é mais espantoso nesse novembro atípico de Brasília, com transição, Copa do Mundo e centelhas golpistas faiscando a todo momento: se a forma cândida como o futuro governo parece ter se entregado nos braços do proxeneta da política instalado na residência oficial da QL 12 do Lago Sul, de onde comanda a zona com uma maestria antes só vista nos tempos de Eduardo Cunha; ou se a desfaçatez com a qual lideranças do velhaco e carcomido “centrão” derrotado nas urnas presidenciais já aderiu às novas regras da Casa de Tolerância em que transformaram o Congresso.

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Fato é que começará mal o novo governo se recuar tão rapidamente, como o fez, de suas convicções e de seus valores por medo de ameaças etéreas de um presidente da Câmara que no rol de ajustes de contas que teria com a Justiça, segundo acusações surgidas nos últimos quatro anos, transitam da Lei Maria da Penha a imputações por caixa dois e desvios de verbas públicas. As comparações e parâmetros seguem a régua de vulgaridade que mede ações e omissões contemporâneas em Brasília.

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