Regina Duarte deveria ler isso

O jornalista Alex Solnik relembra quando entrevistou a secretária de Bolsonaro Regina Duarte. "Recomendo que Regina a leia, nesse momento em que assume um cargo relevante num governo autoritário, para nunca mais esquecer o que pensava e como era o Brasil há 42 anos", diz ele

Bolsonaro e Regina Duarte
Bolsonaro e Regina Duarte (Foto: Marcos Corrêa/PR)


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“Onde você estava em março de 1964”?

   Fiz a pergunta a Regina Duarte no palco do Teatro Anchieta, em São Paulo, onde ela entraria em cena daí a pouco para interpretar Branca, a paraibana vítima da Inquisição, personagem principal da peça “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, em janeiro de 1978.

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  Aos 30 anos e 14 de televisão ela já era uma das grandes estrelas da TV Globo. Mas nem artistas da sua grandeza viviam cercados de assessores, como hoje. Eu a abordei quando desceu de um táxi, sozinha, na porta do teatro.

  “Em março de 64 eu estava na casa dos meus pais, em Campinas. Meu pai, tenente da reserva e meu mentor político contou o que tinha acontecido. No dia 1º. de abril lembro que almoçamos e jantamos tranquilos. ‘O país está a salvo do comunismo, o Exército tomou conta’ disse meu pai. Alguns dias depois percebi que as coisas não eram tão simples. Tinha havido um golpe e havia pessoas descontentes”.

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  “Tem votado na Arena ou no MDB”?

  “No MDB. Anular não acho legal. Votar na Arena também não”.

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  “Gostaria de votar para presidente da República”?

  “Que tentação... votar é bom demais... eu curto a democracia, sabe”?

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  “Como atriz principal você tem muito poder? Poderia abandonar uma personagem no meio da novela por algum motivo”?

  “Me aconteceu uma coisa muito parecida na novela que estou fazendo, ‘Nina’. A gente estava gravando o capítulo 80 e no ar estava o 70. Durante a gravação correu um boato: a censura tinha mandado regravar os dez últimos capítulos. Na hora falei: eu não regravo! Saio da novela! Matem a Nina! Escrevam assim: no capítulo 70, Nina morreu”!

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  “Pensou alguma vez num cargo político”?

  “É aqui que faço minha política! No palco”!

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  “O que é totalitarismo segundo Regina Duarte”?

  “Eu acho que as bases da sociedade são: comida e sexo. Se todo mundo come e faz sexo normalmente, a sociedade caminha. Se eu tiro pão e sexo das pessoas, elas ficam confusas, fracas. Elas estarão na minha mão. Eu acho que isso está acontecendo no mundo todo, a falta de pão e sexo. Muito no Brasil”.  

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  A entrevista saiu na edição no. 2 do “Repórter”, um jornal da chamada “imprensa nanica”, editado no Rio, perseguido pelo governo militar, com a chamada de capa “Falta pão, sexo e liberdade”.

  Recomendo que Regina a leia, nesse momento em que assume um cargo relevante num governo autoritário, antidemocrático e que se empenha em tirar dos brasileiros o pão e o sexo, para nunca mais esquecer o que pensava e como era o Brasil há 42 anos.

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