Reforma política: quando o ótimo é inimigo do bom

A convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política, com o mandado de seus integrantes encerrando-se com a conclusão dos trabalhos, seguida da convocação de um plebiscito para que a população chancele o texto elaborado pelos constituintes, teriam o condão de revolucionar o jeito de se fazer política no país, removendo expressiva parcela de seus vícios, imperfeições e distorções

Foto externa do Congresso Nacional 
Foto externa do Congresso Nacional  (Foto: Wadih Damous)


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Os problemas crônicos para o exercício de cargos eletivos no Brasil têm origem no sistema pelo qual são eleitos os nossos parlamentares e governantes. O modelo atual propicia terreno fértil para que prosperem o compadrio, o fisiologismo, o clientelismo e a corrupção.

O ideal seria, portanto, que os setores democráticos e progressistas da sociedade, a partir de um alto patamar de mobilização e de capilarização desse debate, reunissem condições objetivas para um choque radical de democracia e cidadania nesse sistema no curto prazo.

A convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política, com o mandado de seus integrantes encerrando-se com a conclusão dos trabalhos, seguida da convocação de um plebiscito para que a população chancele o texto elaborado pelos constituintes, teriam o condão de revolucionar o jeito de se fazer política no país, removendo expressiva parcela de seus vícios, imperfeições e distorções.

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No entanto, aqui faço uso de um conhecido conceito marxista, segundo o qual como instrumento de análise e intervenção na política, a realidade deve ser a medida de todas as coisas. E a correlação de forças no Congresso Nacional e na sociedade, hoje, está longe de oferecer as condições para que operemos a mudança estrutural profunda exigida.

O que não quer dizer que as bandeiras da Constituinte exclusiva e do plebiscito devam ser abandonadas. Ao contrário, seguirão como referências, como eixos do projeto estratégico das esquerdas em uma perspectiva mais de longo prazo.

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Nada impede, contudo, que cerremos fileiras pela aprovação de mudanças imediatas e possíveis no sistema. São bem-vindas, por exemplo, novas regras que contribuam para o fortalecimento dos partidos políticos. Precisamos urgentemente romper com a tradição da política brasileira de partidos pouco ou nada programáticos. Essa geleia geral de siglas sem perfil ideológico e programas claros é uma das causas da degradação do sistema.

A adoção do voto em lista fechada, pré-ordenada, é um passo fundamental para o fortalecimento das agremiações partidárias. Os críticos da lista argumentam que sua implementação reforçaria o poder dos caciques partidários, como se eles já não dessem as cartas no sistema proporcional vigente, e que tiraria do eleitor o direito de conhecer e votar nos candidatos de sua preferência, menosprezando a importância do eleitorado conhecer as ideias defendidas pelo partido do candidato. E sem partidos fortes não há democracia que mereça esse nome.

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Para reduzir o poder de influência dos caciques, poderíamos criar a figura das eleições primárias para a composição da lista. Dessas primárias, participariam não só os filiados ao partido, mas qualquer cidadão no gozo de seus direitos políticos e que tivesse interesse em participar.

Cabe assinalar que o voto em lista fechada só tem sentido se vier acompanhado do financiamento público das campanhas. Embora a proibição do financiamento empresarial contribua para o saneamento do sistema, as campanhas no Brasil ainda estão entre as mais caras do mundo.

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Urge torná-las mais baratas e acessíveis ao maior número possível de candidatos. A verdadeira montanha de dinheiro gasta nas campanhas, todos sabem, está na raiz da abertura dos cofres públicos aos financiadores dos candidatos, como compensação. Não é exagero dizer que o financiamento privado, por parte de pessoa física ou jurídica, é a mãe dos esquemas de corrupção na política.

Mas é forçoso reconhecer que as mudanças aqui sugeridas provocariam um giro de 180 graus na cultura política do país. Por isso, para quebrar a resistência a elas, tanto o relator do projeto de minirreforma política que tramita na Câmara, deputado Vicente Cândido, como o responsável pelo relatório de uma das muitas iniciativas de reforma que não foram à frente na Casa, deputado Henrique Fontana, ambos do PT, apresentaram dispositivos para quebrar a resistência dos parlamentares.

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Fontana propôs um modelo híbrido, com o qual simpatizo, através do qual o eleitor votaria duas vezes : no primeiro voto, escolheria a lista do partido de sua preferência; depois, optaria por um dos candidatos dessa lista. Na prática, então, caberia ao eleitor a ordenação da lista. O total de votos na lista partidária determinaria o número de cadeiras a serem ocupadas por cada partido. Já o segundo voto definiria os titulares desses mandatos. Teríamos um sistema proporcional misto.

Já o texto de Vicente Cândido mantém o voto em lista, mas propõe outro mecanismo para o segundo voto : a escolha de candidatos que concorram por distritos. Esse sistema vem sendo chamado de distrital misto, uma cópia do modelo alemão. O fato é que tanto o voto em lista como o financiamento público se inserem entre as medidas imprescindíveis para que o país saia do atual atoleiro institucional.

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