Reforma da Previdência só passa com traição

"Ao reconhecer que o governo está longe dos votos para aprovar a reforma da Previdência, Paulo Guedes admite que o governo só poderá ser vitorioso se conseguir dividir a oposição", escreve o jornalista Paulo Moreia Leite, do Jornalistas pela Democracia; "As pesquisas mostram que o eleitorado não quer a reforma, muitos parlamentares resistem e a única chance de vitória para o Planalto é convencer deputados renegar sua história política e seus compromissos com a população"

Reforma da Previdência só passa com traição
Reforma da Previdência só passa com traição


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Linha divisória entre um país disposto a zelar pelo bem-estar  210 milhões de habitantes, e um projeto voltado para os interesses da minoria que habita a parte de cima pirâmide social, a reforma da Previdência só poderá ser aprovada pela traição de parlamentares capazes de trair o eleitorado e mudar de camisa para agradar Bolsonaro e seus amigos. 

Nas contas do governo, faltam 48 votos, para se atingir o mínimo necessário no Congresso. Apenas 160 parlamentares estão inteiramente convencidos de seu voto a favor. Outros 100 dizem que  estão dispostos a apoiar o projeto mas a decisão não é definitiva. Conclusão: hoje, a reforma teria, no máximo, 260 votos. Precisa de 308.

É um número conclusivo, quando se recorda que a mitologia em torno da necessidade de revogar nosso sistema público de aposentadorias vendo sendo construída nas páginas e tele-jornais conservadores desde 1994, no governo Fernando Henrique Cardoso. Um quarto e século depois depois, os brasileiros e brasileiras resistem e condenam essa ideia de reforma -- por larga margem. Por isso a necessidade da traição, isto é: convencer dezenas de parlamentares a renegar seus compromissos e sua própria história política. Este é o processo em curso no Congresso. 

continua após o anúncio

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

O desfalque de votos, divulgado por Paulo Guedes,  confirma previsão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um dos primeiros a reconhecer a dificuldade.  

continua após o anúncio

Numa disputa na qual não estava em jogo uma questão com a mesma relevância da Previdência, Maia reelegeu-se à presidência da Casa com ajuda de duas legendas de esquerda, o PC do B e PDT.

Sem apoio desses partidos, teria ficado com 297 -- número suficiente para ganhar a presidência, mas insuficiente para o mínimo necessário a aprovação de  uma emenda constitucional.

continua após o anúncio

Diante do debate sobre a Previdência, é bom não confundir as coisas.

Nunca defendi o voto em Rodrigo Maia. Não há dúvida de que a escolha do presidente da Câmara foi de grande utilidade para o governo Bolsonaro e a vitória de Maia, abertamente comprometido com a reforma da Previdência,  representa um reforço importante numa direção nociva aos interesses da maioria dos brasileiros.

continua após o anúncio

Mas o apoio a Maia envolvia uma decisão de outra natureza,  que em grande parte pode ser encarada como um problema interno da instituição.

A  situação é diversa na reforma da Previdência. Não só pelos sacrifícios que podem ser impostos aos trabalhadores e aos mais pobres. O momento é muito ruim. Após a revogação das principais conquistas da legislação trabalhista, somada a inúmeros ataques à organização dos trabalhadores, a Previdência tornou-se o grande ponto de resistência de um  esforço histórico de construção de um Estado de Bem Estar Social por várias gerações,

continua após o anúncio

Mais do que nunca a unidade da oposição, em particular entre setores ligados a luta dos trabalhadores e do povo, é um ponto essencial. "Não temos direito à dispersão", diz Orlando Silva, líder do PC do B. Está certo. 

O efeito de toda mudança será sentido  no bolso do cidadão de hoje e na destruição das esperanças das futuras gerações. Dará um novo caráter ao desenvolvimento do país, mais miserável e excludente do que já é.   

continua após o anúncio

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

As linhas gerais da reforma já são conhecidas, e serão estudadas e debatidas em detalhe  pelas entidades sindicais e do movimento popular  nas próximas semanas.

continua após o anúncio

De qualquer modo, o sentido das mudanças está claro e não vai mudar.  

O primeiro ponto: se a reforma for aprovada, os trabalhadores e trabalhadoras terão de trabalhar mais e contribuir mais, para ganhar menos. Quem estiver insatisfeito, pode colocar a mão no bolso e abrir uma caderneta de poupança. Ou ir para a fila da sopa, que estará cada vez mai rala. 

Outro dado essencial. Se todos trabalhadores perdem, as mulheres perdem mais -- na idade mínima, que sobe em dois anos;  nas regras para professores, atividade essencialmente feminina, que se tornaram mais difíceis; nas pensões para pobres e miseráveis,  inclusive a tungada  no BPC, que envolve um número relativamente maior de mulheres.

O debate está começando mas o ponto político está claro. Sem traição das lideranças e partidos que fazem campanha em nome dos interesses dos trabalhadores e do povo, e depois podem mudar de lado, a reforma não passa. Nenhum parlamentar eleito em nome das lutas do povo e dos trabalhadores defendeu a reforma no palanque, para todo mundo ouvir. Tem a obrigação de manter a palavra agora. Este é o debate. 

Alguma dúvida?

(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia)

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247