Redobrar a força
A quem reclamar, quando as mais altas instâncias do Judiciário são sócias de um sórdido golpe contra mínimas conquistas para a maioria deste País? Somente as ruas e a desobediência civil podem restaurar a democracia e nos colocar novamente no caminho da normalidade institucional

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Temer está pela paciência que o mercado terá com o tempo que ele levar para aprovar o fim da superavitária Seguridade Social e de condições minimamente dignas de trabalho. Entre as reformas e ele, a prioridade são elas. Ele não passa de um estafeta de quem financia o golpe e que até ganhou uma MP de presente para se proteger com acordo de leniência. Aos movimentos sociais cabem a agilidade e o poder de pressão para uma eleição geral direta com uma constituinte cidadã.
Os interesses e os personagens dessa luta de classes estão em condições injustas de enfrentamento, do pondo de vista das instituições, que funcionam na mais absoluta anormalidade. O golpista decorativo torra o patrimônio nacional para financiar o apoio no Congresso Nacional, oferece mundos e fundos e, ainda assim, terá de prometer muito mais. Parlamentares da base aliada lidam com o dilema de aceitar propostas de um governo com 3% de aprovação, que não é candidato, quando serão eles a encararem os eleitores, ali, em 2018.
Além de manter uma permanente mobilização nas ruas, os movimentos devem ter o cuidado de observar e denunciar as ações públicas disfarçadamente financiadas por partidos "aliados a Temer", mas com muito interesse na sua queda e em eleições indiretas. Essas legendas sabem que não têm condições de disputar uma eleição direta. O conjunto das instituições sociais não pode permitir que o atual Congresso Nacional escolha quem presidirá o País, quando se sabe que mais de 200 parlamentares estão contaminados pelo falido sistema eleitoral.
Há uma elite entre esses mais de 200. São personagens ultra neoliberais do cenário político, ideologicamente identificados com a extrema direita, predatórios e sem conexão com o País. A visão que têm do Brasil é a de ser uma boa terra para se fazer fortuna, com as riquezas e a desorganização social. Estão ávidos para tomar a caneta e terminar o trabalho para o qual o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não teve a competência. A ocupação da Esplanada dos Ministérios deve ser intensa e diária.
A imprensa interessada no golpe defende as reformas, menos por apoio a Temer do que por interesse próprio. Ela apenas o tolera, até que lhe seja dado o comando para dilacerá-lo. O mantra de sucesso do efêmero superávit trimestral de 1% não dura mais um mês, quando o desemprego estará ainda maior, quando mais empresários fecharão suas portas, quando mais famílias descerão, novamente, o degrau de dignidade social, que o Partido dos Trabalhadores e todas as forças progressistas de esquerda deste País fizeram com que subissem.
Segundo o economista Marcelo Manzano, no site da Fundação Perseu Abramo (FPA), o sazonal PIB trimestral esconde uma queda de 3,83% de bens de capital, produzidos pela indústria. Estamos enfraquecendo a produção industrial, tronando-a presa fácil para o capital estrangeiro e especulativo. No médio e longo prazos confirmamos a condição do Brasil como produtor e exportador de commodities. Assim a elite vê o País, submisso aos interesses do capital financeiro das nações desenvolvidas, onde são criados os empregos às custas do desemprego no Brasil.
Mas é preciso dizer que está tudo bem. O jornal "Folha de S. Paulo", por exemplo, esconde o fracasso do golpe que apoia. Diz que não se deve abortar o governo, apenas porque dois dos mais importantes grupos de personagens da roda da economia, os que consomem e os que produzem, desconfiam das conjunturas econômica e política e não se arriscam. Enfim, mantém-se um boneco na Presidência diante da estagnação econômica. A quem interessa?
Uma das maiores angústias da atual conjuntura política é que, a cada dia, fica mais escancarado o envolvimento de parte do Judiciário, do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal (PF) na caçada ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Juízo absolve quando se tem provas para condenar e condena quando não as tem. Juízo aceita denúncia de um promotor que, por falta de provas, cita a si mesmo, sete vezes, para sustentar acusação que oferece contra Lula.
Delegado se submete a realizar condução coercitiva sabidamente ilegal, com direito à pirotecnia cinematográfica. Ministro da suprema corte é conselheiro de um presidente contra o qual pesam provas materiais contundentes de uma série de crimes, que vão de prevaricação à corrupção, passando pelo uso da máquina pública para cuidar do Michelzinho. Promotor autor das "10 Medidas Anticorrupção" é preso por passar informação privilegiada ao empresário que grampeou Temer durante visita, às escondidas, no Palácio do Jaburu.
É necessária uma permanente indignação contra todo esse estado de coisas. O golpe não está circunscrito ao Legislativo, Executivo e às Armas, mas parte de outras forças do Estado também estão imiscuídas nesse tenebroso retrocesso e de ausência de leis a que o País foi lançado. A quem reclamar, quando as mais altas instâncias do Judiciário são sócias de um sórdido golpe contra mínimas conquistas para a maioria deste País? Somente as ruas e a desobediência civil podem restaurar a democracia e nos colocar novamente no caminho da normalidade institucional.
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