Rebelião é um direito

"O desafio da esquerda nesta encruzilhada da história do país é atuar em sintonia com uma conjuntura marcada pelo fim do pacto republicano e democrático firmado pela sociedade brasileira com a promulgação da Constituição cidadã de 1988", avalia o colunista do 247 Bepe Damasco; "É certo que dará trabalho e não são ações de fácil execução, mas, até porque não há saída apenas através das refregas institucionais, é preciso tentar e ousar. E não há tempo a perder. Caso contrário, nunca lograremos mudar de patamar no que se refere ao enfrentamento da onda fascista que varre o país"

Rebelião é um direito
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Diante da opressão, até a ONU reconhece como legítimo o direito à rebelião. Não há como tratar situações excepcionais dentro da normalidade democrática. Escrevo no momento em que a imprensa anuncia que Lula decidiu não se entregar em Curitiba ao juiz fascista Sérgio Moro e resistir à prisão protegido por uma multidão. Enquanto isso, seus advogados tentam encontrar um instrumento jurídico que impeça seu encarceramento.

Independentemente do desfecho da resistência popular na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, percebe- se o movimento das placas tectônicas sob os pés dos lutadores políticos e sociais.

Dissemina-se a convicção que o mandado de prisão de Lula foi mesmo a pá de cal no fiapo de regime democrático que restava depois do golpe de estado. Táticas e estratégias de enfrentamento que não levem em conta esse dado da realidade terão rápido encontro com o fracasso.

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O desafio da esquerda nesta encruzilhada da história do país é atuar em sintonia com uma conjuntura marcada pelo fim do pacto republicano e democrático firmado pela sociedade brasileira com a promulgação da Constituição cidadã de 1988. Trocando em miúdos, isso significa debater com a população formas inovadoras de luta, resistência e protesto.

É certo que dará trabalho e não são ações de fácil execução, mas, até porque não há saída apenas através das refregas institucionais, é preciso tentar e ousar. E não há tempo a perder. Caso contrário, nunca lograremos mudar de patamar no que se refere ao enfrentamento da onda fascista que varre o país.

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Os partidos de esquerda e movimentos sociais serão forçados a "trocar os pneus com o carro andando", pois não acumulam experiências neste campo. Está tudo em aberto. Partindo da premissa óbvia de que é essencial atrair parcelas expressivas do povo para essa discussão, urge repensar as nossas formas de confrontação com as forças antidemocráticas, a serviço da espoliação cada vez maior da classe trabalhadora.

Como pôr em prática mecanismos de desobediência civil ? E greves de transportes com catraca livre? Por que as bancadas dos partidos de oposição não acampam nos plenários da Câmara e do Senado ? Por que não uma greve de fome por parte de figuras públicas do PT?

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Enquanto prepara essa guinada, claro que devem ser incrementadas planos de luta já presentes no cardápio de mobilizações da esquerda, como ocupações de prédios públicos, bloqueio de estradas, greves em todas as categorias possíveis, panfletagens, passeatas, comícios, caravanas, criação de comitês populares pela democracia, etc.

Tudo isso, de preferência, articulado com um objetivo estratégico de se colocar cada vez mais gente nas ruas até que a democracia seja resgatada e os direitos o povo, que foram roubados, restituídos. O velho Marx nos ensina que a história só se repete como farsa ou tragédia, mas não custa ter como referências históricas a Praça Tahrir, no Cairo, em 2011, ou Teerã (foto), em 1979. Em ambos os casos, o movimento de massas logrou levar para as ruas um número crescente e avassalador de pessoas até o regime desmoronar.

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