“Razão você dá para bobo”
É necessária que a luta não seja apenas pela democracia representativa e reprodutora das desigualdades
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“As grandes teorias às quais nos acostumamos – de alguma maneira, o marxismo e outras correntes e tradições – não parecem nos servir totalmente neste momento” - Boaventura de Sousa Santos
Eduardo Ferreira, que além de pontepretano é um bom amigo, usa algumas expressões muito próprias para descrever diversas situações; quando ele é duramente derrotado nos seus argumentos, de forma irreversível e inesperada ele diz: “apanhei até o céu da boca”.
Vou me apropriar dessa expressão, pois - depois que jornal aqui de Campinas em 03/06 publicou meu artigo “Não bato palmas para ditadores” -, venho apanhando “até o céu da boca”; as críticas, que chegam por e-mail ou por WhatsApp, não são do pessoal que se reconhece de direita ou extrema-direita (com essas estou acostumado), agora elas vêm de parte daqueles que se reconhecem como sendo de esquerda.
As críticas, sempre necessárias, representam para mim o sucesso da publicação, pois busco criar inquietação, desconforto e reflexão, não preciso ter razão, quero apenas ter direito a opinião, afinal, como diz o meu amigo: “razão você dá para bobo”.
Não vou argumentar o óbvio, afinal, basta leitura do último relatório divulgado pela ONU, que indica que no governo de Maduro há crimes contra a humanidade; mas merece registro que no relatório podemos ler: “Nossas investigações e análises mostram que o Estado venezuelano depende dos serviços de inteligência e de seus agentes para reprimir a dissidência no país. Ao fazer isso, estão sendo cometidos graves crimes e violações dos direitos humanos, incluindo atos de tortura e violência sexual. Essas práticas devem cessar imediatamente, e os indivíduos responsáveis devem ser investigados e processados de acordo com a lei”, documento de responsabilidade de Marta Valiñas, da ONU.
Há 49 ditaduras no mundo e a Venezuela é apenas uma delas; são 18 na África Subsaariana; 12 no Oriente Médio e Norte da África; 8 na Ásia-Pacífico; 7 na Eurásia; 3 nas Américas, e apenas 1 na Europa; dessas ditaduras seis (6) se declaram de esquerda e quarenta e três (43) de direita, e todas elas merecem repúdio, denuncia, oposição e críticas ácidas.
Numa das mensagens que recebi por e-mail, o senhor Fernando Franco me acusa de ignorante e pergunta: “Se Maduro e Putin são ditadores, o que são Bush Jr e Obama???”.
Bem, sequer me referi ao autocrata Russo no artigo -, mas respondi dizendo que "Putin é um líder autocrático, amigo da direita e da extrema-direita europeias", segundo o português Boaventura Souza Santos.
E, em relação aos citados presidentes penso serem eles representantes de um império decadente; os EUA são ainda uma máquina de terror desde o início do século XX, o que não é exagero meu, pois, em nome da democracia e da liberdade, as guerras patrocinadas pelos EUA, só neste século, deixaram 3 milhões de mortos e pouco se fala nisso; são guerras realizadas ou patrocinadas apenas por interesse econômico e geopolítico.
Sustento minha afirmação listando algumas das guerras criadas ou fomentadas pelos EUA: Guerra do Afeganistão, de 2001 a 2016; Guerra do Iraque, de 2003 a 2011; Guerra do Vietnã, de 1965 a 1973; Guerra da Coreia, de 1950 a 1953; Guerra do Golfo, de 1990 a 1991; além da Síria, Sudão e Líbia, dentre outros tantos conflitos... Três milhões de mortos em nome da democracia, da liberdade e do combate ao terror. Cínicos!
Uma das guerras mais midiáticas de todos os tempos, a guerra na Ucrânia - país criminosamente invadida pela Rússia -, também “tem o dedo” estadunidense, vamos pensar um pouco.
A versão, ou narrativa, da guerra divulgada pela imprensa não explica as raízes do conflito e muito menos os acontecimentos que a antecederam.
Pouco se fala de temas essenciais, como: (i) Ucrânia vivia uma crise econômica profunda; (ii) houve um golpe de Estado em 2014, promovido com o apoio dos EUA na forma de guerra híbrida e revolução colorida; (iii) na Ucrânia foram criadas células nazistas de inspiração Banderistas -ideologia política promovida pelo líder nazista ucraniano na Segunda Guerra Mundial Stepan Bandera -, como o batalhão Azov, que queimou vivos opositores do regime.
A Ucrânia era até outro dia ditadura sanguinária, e hoje é um arremedo de democracia, dirigida por um comediante servil aos interesses da Otan; que, além de não cumprir os tratados e Minsk, pratica crimes contra a humanidade contra civis das repúblicas separatistas de Donestk e Luhansk através de suas forças armadas e do batalhão Azov, sobre o que já escrevi.
Quando Zelensk maneja para ser admitido na União Europeia e na Otan, a Rússia vê uma ameaça nuclear imediata (apesar disso tudo, isso mantenho a minha posição de que a Rússia é o país agressor deveria ter buscado canais diplomáticos para denunciar o que lhe parecia ameaçador).
Para mim não há meio termo e. como dizia minha avó Maria, “certo é certo e errado é errado” e ditadura é ditadura, matar gente é errado e ponto.
Nesse mundo tão complexo é impossível dizer quem é o “mocinho” e quem é o “bandido”, contudo, é possível afirmar que “as grandes teorias às quais nos acostumamos – de alguma maneira, o marxismo e outras correntes e tradições – não parecem nos servir totalmente neste momento” e, mesmo não sabendo exatamente o que queremos e qual o melhor caminho -, podemos afirmar que para que se alcance a emancipação, a ampliação e o aprofundamento da democracia em todos os espaços estruturais da prática social.
É necessária que a luta não seja apenas pela democracia representativa e reprodutora das desigualdades, precisamos, tanto quanto possível, alcançar uma democracia que trabalhe com a possibilidade de igualdade plena nas estruturas e instituições estruturas da sociedade e nas relações e interações sociais.
Essas são as reflexões.
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