"Ratos": bolsonaristas são processadas por racismo após ataque no Consulado da China
Uma delas é amiga do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, filha de coronel, que se notabilizou por investir contra manifestantes antifascistas armada de taco, relata Joaquim de Carvalho
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Três ativistas de extrema direita respondem a processo por racismo em razão de protestos em frente ao Consulado da China, em São Paulo, em março do ano passado.
Uma delas é Maria Cristina da Rocha, filha do coronel Virgílio da Silva Rocha, que foi instrutor da Academia Militar de Agulhas Negras.
Maria Cristina ganhou notoriedade quando apareceu num ato na avenida Paulista em maio do ano passado com um taco de beisebol e usando como máscara uma bandeira dos EUA.
Ela tentou atacar militantes antifascistas, a maioria torcedores de futebol, que tinham entre seus líderes Danilo Pássaro, da Gaviões da Fiel.
Em vez de ser presa, Maria Cristina foi escoltada pela polícia até o grupo de extremistas de direita.
Na ocasião, revelou que era amiga de Eduardo Villas-Boas, o general que articulou a candidatura de Jair Bolsonaro a presidente, mesmo sendo comandante do Exército e subordinado à autoridade de Dilma Rousseff.
Maria Cristina já era investigada por racismo no caso do Consulado da China quando foi à Paulista.
Conforme narra o Ministério Público, na denúncia aceita pela Justiça, ela e duas outras ativistas, Neusa de Oliveira e Simone Gomes da Costa, foram ao Consulado da China em 23 de maio, com faixas que atacavam os chineses.
“China. Desgraça do mundo. Vírus made in China”, “China fora do Brasil. Seu vírus acabado com os empregos”, “Vírus chinês acabando com o mundo. Fora China!”,
Uma das ativistas foi gravada pelo cônsul contador da China, Wang Qian, que se dirigiu a ele com as expressões:
“Comprado tudo o que tem no mundo. Seus ratos imundos! Seu rato chinês, rato da pior qualidade!”.
Disse ainda:
“Não tá na hora de voltar pra’quele país imundo? Chinês maldito”, “raça do inferno”, “tem que matar todos os chineses”.
As três foram denunciadas com base do artigo 20 da lei 7.716, de 1989, que prevê pena de um a três anos de reclusão e multa, por “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Procurada, Maria Cristina, a mulher do taco, explicou o processo nestes termos:
“Eu não fiz nada de errado. Quem fez foi a Neusa, uma ex-amiga, que falou o que quis e o que não quis”.
Em seguida, falou das características físicas da ex -amiga: “Ela é negra, tem 60 e alguns anos, e falou o que quis. Nós não falamos nada, nós só ficamos fazendo manifestação lá na frente, ela que falou um monte. Está tudo gravado e esse chinês de merda, eu não aguento chinês, é óbvio que não quero generalizar, mas eles são todos — principalmente, todos não —, principalmente os da chefia do partido são seres abjetos, a minha opinião é essa.”
Maria Cristina ainda atacou a cúpula do Poder Judiciário no Brasil, ecoando insinuações de Jair Bolsonaro.
“Enquanto a gente viver num país que está na mão de um STF desse nível que a gente tem, a chinesada vai fazer o que quer e o que não quer, aqui com um governador vendido, comunista, comunista de iPhone, né. Eu acho que o Planeta perdeu para a China, o pessoal não está percebendo, o mundo é uma colônia da China”.
Maria Cristina fez ainda outros ataques e defendeu a invasão do STF, para "arrancar aquele pessoal à tapa e colocar gente que preste”.
Contou que foi suspensa esta semana do Facebook por 30 dias, "porque chamei um viado de viado” e responsabilizou Mark Zuckerberg pela punição.
“Judeu de esquerda é a pior coisa que tem”, afirmou.
Maria Cristina tem 72 anos, é instrumentadora cirúrgica e já trabalhou na equipe de Adib Jatene, antes de se tornar corretora de imóveis.
Ela e a irmã recebem pensão do Exército por serem filhas de coronel já falecido — segundo amigos, disse que a parte dela era de cerca de R$ 8 mil.
É rompida com as filhas — uma delas apoiou os atos antifascistas na Paulista.
Maria Cristina fez ataques pessoais a mim, por relatar sua militância de extrema direita desde o ato na Paulista, no ano passado.
Na ordem das coisas, a importância política de Maria Cristina é quase nula, mas a posição que ela expressa tem relevância por, aparentemente, ser estimulada por altas autoridades do país, a começar por Jair Bolsonaro, que já atacou a China, maior parceiro comercial do Brasil.
Na mesma época em que ela foi a China com faixas que atacavam o país, o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou post na rede social que associava o coronavírus a um plano do país oriental de dominar o mundo.
Ele ainda ironizava o sotaque chinês, que, numa interpretação estigmatizada, substitui o r pelo l, como o personagem Cebolinha, de Maurício de Souza.
Weintraub apagou o post, mas a China considerou a manifestação racista e exigiu posição oficial do Brasil.
O então ministro respondeu a inquérito na Polícia Federal por racismo, a pedido da Procuradoria Geral da República.
Mas ele ainda não foi julgado.
O inquérito passou a ser de responsabilidade da primeira instância, depois que ele foi demitido do Ministério da Educação, em junho do ano passado, e, por indicação de Bolsonaro, passou a ocupar a representação do Brasil no Banco Mundial, com salário equivalente a cerca de R$ 110 mil mensais.
Maria Cristina e as duas outras ativistas, por sua vez, aguardam a decisão da Justiça, mas ela deu uma dica do que pode fazer antes da sentença.
Em mensagem por WhatsApp, enviou foto de passaporte suíço, com a informação de que o marido (na verdade, ex-marido) e o bisavô são suíços.
“O seu (passaporte) deve ser cubano…”, disse.
Meu passaporte é brasileiro, com muito orgulho.
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