Quem venceu e quem perdeu no Peru

Derrotada pela segunda vez, Keiko parece ter implodido o fujimontesinismo. A filha de Alberto Fujimori enfrentará o desgaste de ter estado dez anos em campanha sem conseguir reverter a onda antifujimori que se agiganta nas camadas populares

Derrotada pela segunda vez, Keiko parece ter implodido o fujimontesinismo. A filha de Alberto Fujimori enfrentará o desgaste de ter estado dez anos em campanha sem conseguir reverter a onda antifujimori que se agiganta nas camadas populares
Derrotada pela segunda vez, Keiko parece ter implodido o fujimontesinismo. A filha de Alberto Fujimori enfrentará o desgaste de ter estado dez anos em campanha sem conseguir reverter a onda antifujimori que se agiganta nas camadas populares (Foto: Lelê Teles)


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O Peru, hoje, é uma nação dividida. O resultado final das eleições presidenciais deixa isso claro.

Pedro Pablo Kuczynsky obteve uma vitória chorada, apertadíssima, contra sua poderosa, autoritária e inescrupulosa oponente, Keiko Fujimori.

Com mais uma derrota, o ex-presidente Toledo, e seu agrupamento político, foram à lona. Estão condenados à lata de lixo da história.

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O grandão Alan García, que governou o país por dez anos e saiu com as mãos sujas de sangue indígena pelo genocídio em Bagua, afundou o aprismo. Seu isolamento nessas eleições mostra que ele perdeu densidade.

São duas históricas forças políticas peruanas que desmoronaram a olhos vistos durante estas eleições.

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Mas ainda há uma terceira. Derrotada pela segunda vez, Keiko parece ter implodido o fujimontesinismo. A filha de Alberto Fujimori enfrentará o desgaste de ter estado dez anos em campanha sem conseguir reverter a onda antifujimori que se agiganta nas camadas populares.

Seu pai contava com essa vitória pra conseguir um indulto presidencial e deixar a cadeia, onde amargará 25 anos de cana dura por corrupção e crimes contra a humanidade.

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Pelo jeito, vai ter que se acostumar com o cárcere.

Keiko enfrentará agora as fortes e consistentes acusações de lavagem de dinheiro. Áudios gravados pelo piloto Jesús Francisco Vásquez arrastam a japinha para o centro de uma maracutaia onde foram surrupiados 15 milhões de dólares.

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São provas e não ilações. Mais do que nunca, o nome de Keiko, que fez um jogo sujo nas redes sociais, estará associado à corrupção e ao narcotráfico.

Embora tenha o controle do congresso, e PPK terá que barganhar com ela para governar, Keiko terá pela frente um adversário muito forte a enfrentar: seu irmão-inimigo Kenji Fujimori. O congressista mais votado no último pleito, fará de tudo para sabotá-la.

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Kenji sequer deu as caras na cabine de votação para ajudar a irmã. Ele já é o escolhido pelo pai para ser o candidato fujimorista em 2021.

No entanto, o sacana tá envolvido até o pescoço em tenebrosas transações. Nada menos que 100 quilos de cocaína foram encontrados em uma de suas empresas.

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Não nos esqueçamos do histórico dessa família. O irmão do Pablo Escobar, "Osito" Escobar, disse que doou um milhão de dólares para a campanha de Alberto Fujimori em 1990.

Os Fujimori não desistirão de transformar o peru, o maior produtor de coca atualmente, em uma narcocracia.

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Ou seja, perderam Toledo, García, Alberto e Keiko.

Ollanta Humala, mais um derrotado nesse pleito, foi outra grande decepção. Ele estagnou a economia peruana, que vinha em crescimento estável desde o primeiro governo de García e se meteu em maracutaia, além de empregar corruptos.

Deixou o país com um problema crônico de segurança pública, uma crise no sistema de saúde e uma acanhada política social.

PPK teve 20% da preferência popular, ponto. Venceu graças aos votos antikeiko. Não são dele, portanto, os votos que obteve.

Mais uma vez prevaleceu a máxima de que os peruanos, no primeiro turno, votam a favor de um candidato. E no segundo, votam contra outro candidato.

A grande vencedora dessas eleições foi Verónika Mendoza, quem tiver ouvidos para ouvir que ouça. Herdeira de uma esquerda fragmentada e autofágica, Verónika fez da Frente Amplia uma nova força política progressista no Peru.

Começou o pleito com pouco mais de 1% por cento e por uma margem minúscula quase vai ao segundo turno. Amadureceu e se saiu muito melhor nos debates e entrevistas que no pleito passado.

Sem as marchas nacionais antikeiko, é bom que se diga, que abarrotaram as ruas do país de jovens e mulheres pedindo um basta ao fujimorismo, Keiko não teria perdido.

E esse é um capital político que será explorado pela Frente Amplia, que será uma oposição consistente e, pelo caráter de Verónika, não adesista.

O Peru será governado, pelos próximos cinco anos, por um sujeito que fugiu do país na mala de um fusca e chegou a Miami com 115 milhões de dólares roubados do povo peruano.

PPK é um velhote branco, de fala arrastada, meio esquisitão, conhecido como El Gringo. O sujeito tem dupla nacionalidade e uma ligação umbilical com os Esteites, nação que lhe deu guarida.

Já operou no banco Mundial e no FMI, foi consultor econômico em alguns países vizinhos e é conhecido como lobista. Fará um governo privatista e em favor das transnacionais, é o que diz sua história.

A água e a energia elétrica peruana podem passar para as mãos das transnacionais.

Uma pena. Ele venceu, mas o Peru perdeu.

Verónika pretendia diversificar a economia do país, incrementando a agricultura e o turismo, além de ter batido na tecla da importância de se colocar a cultura como uma força econômica, inclusive com o poder de mitigar a violência juvenil, elevar a autoestima do povo e ressaltar a cultura peruana no mundo.

É uma pena que ela tenha ficado a meio do caminho.

Forças estrangeiras sempre pilharam o Peru, desde o seu descobrimento que as mineradoras escarafuncham o solo e roubam riquezas.

No século XVIII, ouve um levante indígena contra as forças das estranjas.

Mas o diabo é que eles foram derrotados por si mesmos na luta fratricida entre o grande Túpac Amaru e Pumacahua.

Hoje foram os próprios estrangeiros que lutaram em território peruano, uma japonesa contra um gringo.

Qualquer que fosse o resultado, o Peru sairia perdendo.

Palavras sapienciais.

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