Quem tem Cunha, tem medo; ao PMDB só resta a legalidade

Como se não bastassem todos os problemas políticos e econômicos que o país enfrenta, ainda tem um gangster presidindo uma das Casas do Congresso

Como se não bastassem todos os problemas políticos e econômicos que o país enfrenta, ainda tem um gangster presidindo uma das Casas do Congresso
Como se não bastassem todos os problemas políticos e econômicos que o país enfrenta, ainda tem um gangster presidindo uma das Casas do Congresso (Foto: Eduardo Guimarães)


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O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ironizou, na quinta-feira, o "barulhaço" que está sendo combinado nas redes sociais para ser feito durante seu pronunciamento em cadeia de rádio e TV, que ocorrerá nesta sexta-feira às 20h25m. Diz que será um "petezaço" e que está "feliz" com a projeção que o protesto dará à sua fala.

A tática de Cunha lembra muito a de Paulo Maluf, quem ironizava as críticas e debochava a cada surgimento de evidências de corrupção contra si. Nunca se rendeu e, até que fosse parar atrás das grades, com o enfrentamento dos acusadores atraiu uma legião de apoiadores, dos quais uma parcela pequena, porém significativa, até hoje o apoia.

O Brasil é um país machista e grande parte deste povo gosta de políticos "machões", ou seja, fanfarrões, que enfrentam seus detratores com deboches e ameaças. E claro que, como bom país machista, o mesmo comportamento não é aceito para mulheres que entrem na política. Marta Suplicy enfrentava seus adversários e críticos e, por isso, ganhou a pecha de "histérica".

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Nada a favor de Marta, cujo comportamento oportunista vem decepcionando a muitos. Porém, ela é um dos melhores exemplos de como mulher forte, no Brasil, invariavelmente acaba rotulada de forma pejorativa. Dilma Rousseff é outro bom exemplo disso.

Voltando a Cunha, ele adotou a tática camicase contra o aumento de seus problemas. O noticiário dos últimos dias revela que adotou a chantagem e a ameaça como estratégias de defesa. Acumulam-se as denúncias de ameaças que tem feito não só ao governo Dilma – que o presidente da Câmara promete "explodir" –, ao procurador-geral da República, mas, também, aos delatores da Operação Lava Jato, que relatam ameaças que o terceiro na linha de sucessão da Presidência tem feito até às famílias desses delatores.

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Apesar da fanfarronice de Cunha, é arrasador o fato de o delator da Operação Lava Jato Júlio Camargo acusá-lo de ter pedido 5 milhões de dólares em propina para que um contrato de navios-sondas da Petrobras fosse viabilizado. O presidente da Câmara pode ameaçar quem quiser que a investigação dessa denúncia não tem mais volta.

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Estúpido, como todo fanfarrão truculento, Cunha ignora que mesmo que funcionasse sua ameaça à presidente da República para que não reconduza o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao cargo, em setembro, o novo procurador-geral teria imensas dificuldades para bloquear a investigação.

Se Cunha fosse inocente, confiaria em que a denúncia de Júlio Camargo não daria em nada, pois o lobista não teria provas a apresentar. Desse modo, o presidente da Câmara não teria com o que se preocupar. Sua virulência, suas ameaças, suas chantagens, tudo corrobora a teoria de que deve, e muito. Assim, acredita que só interrompendo as investigações as provas não seriam apresentadas. E, para interromper as investigações, aposta em mudança de procurador-geral da República.

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Apesar de ser uma aposta furada, pois o processo já ganhou vida própria e outro procurador-geral não poderia abafar tudo sem se complicar, apostar que a presidente Dilma abandonaria a prática de todos os governos petistas de nomear para a PGR sempre o primeiro nome da lista tríplice do MP, é ilusão. Dilma tampouco teria condições, neste momento, de não nomear quem o Ministério Público indicasse.

Conhecendo o Ministério Público, é improvável que, estando o atual PGR sob bombardeio dos presidentes da Câmara e do Senado, o indicado pela instituição venha a ser outro que não Rodrigo Janot.

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Cunha vai se tornando extremamente pesado. Suas constantes ameaças a Deus e todo mundo vão minando a unanimidade fatídica que o levou ao comando da Câmara. E o cada vez mais provável naufrágio político que se avizinha fará com que os ratos, como de costume, abandonem o navio.

No caso, o navio é o PMDB. Ter Cunha em suas hostes está minando as possibilidades políticas que o partido vinha vislumbrando para 2018 e que parcela significativa dos peemedebistas avistava para os próximos meses, com a possibilidade de impeachment de Dilma e ascensão de Michel Temer ou até do próprio Cunha, caso a chapa que venceu a eleição presidencial fosse impugnada.

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Como se não bastasse, a linha sucessória da Presidência da República vai se transformando em um pesadelo para o PMDB. Façamos um exercício de pura especulação.

Dilma cai juntamente com o peemedebista Michel Temer, via reprovação das contas de campanha da chapa que venceu a eleição do ano passado. O presidente da Câmara, o peemedebista Eduardo Cunha, terceiro na linha sucessória, não assume por conta de seus problemas com a lei. O peemedebista Renan Calheiros, presidente do Senado, quarto na linha sucessória, não assume pelo mesmo motivo.

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Desse jeito, a Presidência acabaria nas mãos do presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que convocaria novas eleições.

Após ter três nomes da linha sucessória inviabilizados, o que restaria do PMDB? O PSDB seria o grande premiado com tudo isso. Ficaria assistindo de camarote PT e PMDB se autodestruírem e apareceria como o grande salvador da pátria.

Então, vamos combinar: ao PMDB só resta ter muito juízo e não entrar na tática camicase de Eduardo Cunha e na do impeachment de Dilma. O partido tem muito a perder com uma ruptura institucional. Quase tanto quanto o PT.

O PMDB é um partido que está sempre no poder desde a redemocratização do país. Além disso, é o partido com maior número de prefeitos e com grandes bancadas no Congresso. Tudo que conseguiu, após a redemocratização, deve-se ao seu proverbial pragmatismo. É difícil acreditar que vá se suicidar só para ajudar Eduardo Cunha.

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