Quem semeia ventos, colhe tempestades...

Ninguém se distinguiu tanto como ele em transformar o clima da campanha eleitoral num campo de batalha, ora contra as mulheres, ora contra os assaltantes,ora contra os negros e homossexuais. Bolsonaro plantou a semente da intolerância e do ódio, através de suas inúmeras entrevistas, declarações e participações em debates

Quem semeia ventos, colhe tempestades...
Quem semeia ventos, colhe tempestades... (Foto: Reprodução)


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Desde o início, dessa operação chamada de "Lava Jato",também conhecida como "caça ao PT", venho advertindo para a carga de ressentimentos, ódio e malquerenças que se materializou em atos de violência contra ex-ministros petistas, a ex-presidente Dilma, o ex-presidente LULA e até contra simpatizantes do PT, como o compositor Chico Buarque de Holanda. Pareceu que muitos queriam transformar o aparelho Judiciário no meio de uma vindita privada, num ordálio ou retaliação particular contra desafetos políticos. Houve até torcida organizada pela prisão e condenação de importantes líderes do Partido dos Trabalhadores.Em muitos casos, somou-se a má-fé com a desinformação para produzir uma espécie de linchamento moral público contra os petistas.

Institutos penais como a presunção de inocência ou o benefício da dúvida foram jogados na lata de lixo dos tribunais, numa modalidade de"justiça popular" maoísta, sem o devido processo legal e o direito do contraditório. Jurisprudências duvidosas, celeridades inauditas nos ritos processuais e abuso de autoridade ajudaram muito a difundir a imagem do inimigo número um da moralidade pública e dos interesses do país, enquanto uma quadrilha de ladrões - que ora se apresenta ao distinto público pedindo o seu voto - vendia o patrimônio público a preço de bananas, na bacia das das almas.

Era mais do que previsível que essa política do amigo e do inimigo comandada pelo ódio e pela irracionalidade desaguasse em práticas fascistas de campanha, como agressões e tentativas de assassinato. O grau de animosidade dos partidários deste ou aquele candidato responderia, mais cedo ou mais tarde, por algum atentado ou coisa pior. E o ícone inconteste dessa verborragia belicosa e guerreira foi o ex-capitão do Exército, Jair Bolsonaro. Ninguém se distinguiu tanto como ele em transformar o clima da campanha eleitoral num campo de batalha, ora contra as mulheres, ora contra os assaltantes,ora contra os negros e homossexuais. Bolsonaro plantou a semente da intolerância e do ódio, através de suas inúmeras entrevistas, declarações e participações em debates públicos.

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Lamentavelmente, encontrou audiência e simpatizantes. Por mais inquietante e deplorável que sejam esses 18% de intenções de voto do candidato, sobretudo entre os jovens, é da essência do regime democrático a expressão do dissenso e da discórdia em relação aos valores democráticos, republicanos ou ligados aos direitos humanos. Simplesmente reprimí-los aí sim seria alimentar uma serpente que só cresceria ao longo do tempo, dando motivo aos seus apoiadores de estarem sendo censurados ou proibidos. Fascismo, intolerância e obscurantismo se combate com o bom debate,com sólidos argumentos e a exposição pública de quem defende essas ideias.

O que não se esperava é que o pai de tantas intolerâncias e sandices fosse transformado pela televisão em vítima do inconformismo político e de tentativa de assassinato, quando ele próprio tem sido o maior incentivador dessas atitudes violentas, antidemocráticas, racistas, homofóbicas e misóginas. A propósito, a primeira imagem do candidato após o incidente de seu ataque, foi a pose de quem carrega uma arma de fogo. Esse triste e lamentável episódio - de uma campanha já de si muito violenta e carregada de rancor e preconceitos - precisa naturalmente ser apurado com rigor e aplicada uma punição exemplar aos seus responsáveis.

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O que não é possível nem aceitável é que o principal fator desse clima beligerante seja agora transformado em vítima de seu próprio veneno, aliás. A sociedade brasileira necessita de paz e serenidade para escolher seus candidatos, a partir de um processo argumentativo racional. E não da dramatização irresponsável de um atentado político-eleitoral. Em nada contribui para o esclarecimento do eleitor espetacularizar atos de desespero político ou ditado por motivações desconhecidas. Votar sob a pressão emocional (contra ou a favor) não leva a escolhas sensatas e responsáveis.

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