Quem se associa ao massacre são os que estão passando pano para um ato racista

O ato de Waack se tornou símbolo de algo que no dia a dia é extremamente presente e que, isso sim, é parte de um massacre, o racismo. Que ele, como seu colega Ali Kamel e a emissora que ainda trabalha, dizem não existir

O ato de Waack se tornou símbolo de algo que no dia a dia é extremamente presente e que, isso sim, é parte de um massacre, o racismo. Que ele, como seu colega Ali Kamel e a emissora que ainda trabalha, dizem não existir
O ato de Waack se tornou símbolo de algo que no dia a dia é extremamente presente e que, isso sim, é parte de um massacre, o racismo. Que ele, como seu colega Ali Kamel e a emissora que ainda trabalha, dizem não existir (Foto: Renato Rovai)


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Na quarta-feira, quando o vídeo de William Waack veio à tona, escrevi um texto cujo título era: William Waack se despede do jornalismo da pior forma possível. No percurso, afirmava que “no jornalismo, há um certo pacto de coleguismo. Mesmo que você discorde bastante de um amigo de redação, em geral o defende nos momentos duros. Inclusive nas grandes besteiras.” E que estava achando estranho isso não ter acontecido com o apresentador do Jornal da Globo.

Acertei no atacado e errei feio no varejo. Demorou um pouco, mas alguns coleguinhas saíram com tudo para cima daqueles que se posicionaram condenando o ato de Waack.

Somos bestas feras, fizemos parte de um massacre, agimos como canalhas e não temos currículo para questionar um homem tão qualificado quanto Waack, que sabe até pilotar avião.

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O corporativismo tapuia chega ao limite da insensatez. E aos jornalistas que saíram em movimento de manada para defender o coleguinha, o que menos importou foi o jornalismo.

A notícia não é mais a que um jornalista e apresentador da maior emissora do país foi flagrado usando de forma gratuita uma das expressões mais racistas (coisa de preto) de um país que foi o último a se ver livre da escravidão. E que teve milhares de negras e negros torturados e assassinados durante este período. E que ainda vive com esta herança abjeta que faz com que a cada 23 minutos um jovem negro seja assassinadodentro das suas fronteiras.

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Que nada. Isso é bullshit, pensam, em inglês, evidentemente.

A notícia passou a ser o fato de que Waack é um cara legal, leal e que até já trabalhou em coberturas de guerras como as do Iraque. E que está sendo vítima de um massacre por ser talentoso.

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Sinceramente, melhorem. Querem ser solidários ao colega, liguem pra ele, se coloquem à disposição para um café, não tratem do assunto, conversem sobre saídas para que ele se redima (de verdade) acerca do que fez. Mas não venham com esse papo furado de condenar a repercussão do fato como se fosse parte de um massacre ou linchamento.

O ato de Waack se tornou símbolo de algo que no dia a dia é extremamente presente e que, isso sim, é parte de um massacre, o racismo. Que ele, como seu colega Ali Kamel e a emissora que ainda trabalha, dizem não existir.

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E mais ainda, o ato de Waack não é algo que deixa qualquer migalha de dúvida. Não é uma denúncia que pode ser questionada ou exige investigação. É transparente. É ele falando aquilo sem filtro.

É ele expondo suas tripas racistas aos risos.

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Ou seja, quem se dispusesse a agir pra defendê-lo ou para circunstanciar seu ato, deveria se colocar ao diálogo cheio de dedos, com humildade e tentando, de fato, ponderar que o massacre não seria o melhor caminho para resolver o problema.

Com o que este blogueiro sempre haverá de concordar.

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Mas que nada. A turma de Waack é adepta da diplomacia à la Roosevelt.  Eles só dialogam com o porrete na mão.

A desqualificação e inversão de valores que essa gente tem feito da denúncia do ato de Waack é uma das passagens mais vergonhosas do jornalismo nos últimos tempos. E de certa maneira é uma prova contundente do nível em que chegamos. O que menos importa é o fato e suas consequências sociais. O que importa é a minha turma.

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PS: O The New York Times, que faz jornalismo muito mais decente, procedeu de forma diferente ao noticiar o fato.

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