Quem são os urubus do antipetismo? Bolsonaro, a mídia ou o Ciro?

"Surgem três urubus. Ganha quem for mais eficiente em criticar o Partido dos Trabalhadores. Ganha quem criticar o Lula o tempo todo. Ciro sabe que para se acenda o holofote da mídia para coadunar com o inimigo em comum"



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Desde que as jornadas de 2013 foram “federalizadas” pela mídia, ganhando contornos narrativos para além do preço das passagens dos transportes coletivos em São Paulo, o inimigo já havia sido escolhido. O ano antecedia umas das eleições mais acirradas até então e a Copa do Mundo, e a mídia (capitaneada pela Globo) se encarregou de incutir na cabeça das pessoas que os protestos eram mais que 20 centavos e que precisavam ser direcionada a este inimigo.

A mídia, essencialmente tucana, estava cansada de ver o seu partido perder no voto. Para tanto, utilizou de estratégia midiática conhecida nas ciências da comunicação: o recurso da duração e da recorrência. Para aplicar o seu jornalismo de guerrilha, seria necessário passar o tempo que for possível atacando o Partido dos Trabalhadores, o principal expoente da esquerda (duração), todos os dias e em todos os telejornais da emissora, até em programas de auditório, se possível (recorrência). Este procedimento inocula uma percepção única do inimigo, o transformando em monstro a ser abatido. Nada de positivo deveria ser relatado. E, se fosse, em menor duração e zero recorrência.

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Chega 2014, ano das eleições e da Copa. Dilma é xingada no estádio recém inaugurado em governos progressistas, que trazem a visibilidade do mundo diante de um dos maiores eventos esportivos globais. O trabalho de duração e recorrência para a construção do público antipetista segue a pleno vapor.

Antes que o ano acabasse, a copa se tornaria a copa das copas e o Aécio não conseguiria vencer a Dilma nas eleições. A diferença foi mínima e toda estrutura da elite à época – de recursos financeiros a midiáticos – foram aplicados de forma a derrotar o PT nas urnas. Não deu.

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Dilma venceu, mas não levou. O Dilma 2 foi totalmente inviabilizado. Aécio pediu recontagem de votos “só para encher o saco”, como ele mesmo se referiu. Com Eduardo Cunha e o parlamento mais conservador das últimas décadas, as pautas-bombas a impediram de governar. A mídia seguiu com a sua duração e recorrência, contribuindo com o sangramento até à possibilidade do impeachment que se avizinhava.

O inexistente Dilma 2 subsistiu até o ano seguinte. De lá, para cá, todos sabemos o que deu. O Brasil foi descendo a ladeira, primeiro com os golpistas, depois com os sujeitos que desgovernam o Brasil hoje (os medíocres da reunião ministerial vexatória que todos assistiram). Para que o caos fosse maior, em 2018, a Lava-Jato – criada na esteira antipetista – logrou suas atribuições para que o Lula não concorresse às eleições. Caso pudesse disputar, venceria qualquer candidato. A mídia não aceitaria. Toda a luta e lavagem cerebral não poderiam terminar assim. O inimigo teria de ser eliminado por completo.  Só não imaginaram que o Bolsonaro estava correndo por fora. Neste ambiente, Ciro se candidata, obtém seus recorrentes 12%, frustra-se de não ter sido o escolhido pelo Lula para ser o seu candidato e, em vez de posicionar-se contra o fascismo que viria, viajou para Paris.

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O cenário apresenta três elementos que viram a oportunidade de se beneficiar com o antipetismo construído pela mídia. Bolsonaro, com sua guerra ao tal comunismo. A mídia, que gerou o inimigo e, por consequência, o monstro que ajudou eleger. E o Ciro que quer abocanhar eleitores inoculados pelo antipetismo, mas que não se simpatiza com o Bolsonaro.

Surgem três urubus. Ganha quem for mais eficiente em criticar o Partido dos Trabalhadores. Ganha quem criticar o Lula o tempo todo. Ciro sabe que para se acenda o holofote da mídia para coadunar com o inimigo em comum. Falou, apareceu. Chamou o Lula de ladrão, os jornais dispensam linhas. Ciro sonha para que esta tabelinha prospere a ponto de ser o escolhido dos barões.

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A mídia joga na perspectiva de encurtar o espectro político que ela mesma mensurou. Coloca o Lula e o Bolsonaro em polos antagônicos, oferecendo uma simetria absurdamente canalha. O tal espectro seria formado por partidos do tipo social-democrata estilo João Dória, um Bolsonaro com abotoaduras.

Na redução deste espectro, a esquerda não tem vez e, como sabemos, Ciro já se comporta como o integrante da direita que sempre foi (não vou fazer a sua digressão partidária para não ficar enfadonho). Ele se agarra desesperadamente na ideia de não estar excluído deste espectro.

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Bolsonaro, sim, está excluído deste espectro, embora não deixe de monitorar seu inimigo o tempo todo. A mídia, por sua vez, retoma a sua estratégia de duração e recorrência para fazer valer este espectro. Muitos já engolem a conversa e a reproduzem como suas (lembram da entrevista do Felipe Neto no Roda Viva?). Esconder o Lula, desde que não cometa deslizes, e descer o cipó de aroeira no lombo do  Bolsonaro é a estratégia para estabelecer este espectro e fazer parecer que os candidatos da mídia são os mais moderados, sensatos e que sabem utilizar os talheres.

Estamos assim diante três figuras sem luz própria que orbitam no antipetismo para tentarem sobreviver. Enquanto isso, o PT segue como player munido de 30% dos votos capazes de influenciar qualquer disputa eleitoral

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