Quem me viu, quem me vê
"Quem acha que hoje o grau de tensão é elevadíssimo poderá até sentir uma certa nostalgia do que estamos vivendo", escreve Eric Nepomuceno
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia
Daqui a pouco mais de um mês chego aos 74 anos de idade. E devo dizer que em nenhum, absolutamente nenhum momento imaginei que chegaria a esta altura vendo o que está sendo feito com o Brasil. E não me refiro apenas ao que acontece hoje: estou me referindo a tudo que aconteceu desde o golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff e que nos levou a este poço de agora, cada vez mais escuro e sem fundo.
Dilma Rousseff pode merecer caçambas de críticas, principalmente pelo seu segundo – e brutalmente interrompido – mandato. Mas ninguém pode negar que foi uma presidenta digna e íntegra, exatamente o contrário do que foi seu sucessor e o que é o de agora, Jair Messias.
Com o usurpador Michel Temer instalado na presidência, começou a destruição de pontos cruciais da vida brasileira, a começar pela legislação trabalhista e pela Petrobras. Mas o que veio depois, o que está aí, é pior que qualquer coisa, a ditadura militar inclusive.
Dou exemplos do que vivemos e eu jamais pressupus que iriamos viver. A pandemia de Covid 19, por exemplo. Aliás, a não ser meia dúzia de cientistas altissimamente gabaritados, acho que ninguém supunha que pudesse acontecer.
Mais, muito mais grave, porém, diante da pandemia foi a atitude do governo do pior presidente da República, que contribuiu e muitíssimo para que imensa parte dos pelo menos 660 mil brasileiros tivesse morrido.
E isso para não mencionar a destruição literal não apenas do meio ambiente, mas de tudo que foi erguido e estruturado ao longo dos anos todos desde a redemocratização em todos os campos da vida nacional.
Jamais pude imaginar que veria de novo a economia destroçada, a fome atingindo quase metade da população, a miséria espalhada pelas ruas de maneira tão cruel e extensa.
E jamais poderia imaginar que chegaríamos a esse quadro de destruição e degradação sabendo que tudo pode – e certamente vai – piorar, até pelo menos o primeiro dia de 2023, quando Jair Messias terá sido escorraçado da poltrona presidencial.
Piorar como? Ora, é só observar o que está acontecendo: um golpe é anunciado dia sim e o outro também, e não há o que fazer. Os militares espalhados pelo governo, tanto os empijamados como vários da ativa, dão pleno respaldo às intenções de Jair Messias.
O Congresso, talvez o mais apodrecido desde a redemocratização, virou cúmplice não apenas da distribuição de dinheiro secreto à rodo, como das próprias ameaças do presidente à democracia e ao que resta das instituições.
Vários integrantes do Supremo Tribunal Federal tratam de conter a sanha golpista de Jair Messias e seus generais de pijama. Já os da ativa são mais difíceis de segurar.
Recorrendo a Erasmo Carlos numa antiga canção em parceria com Roberto Carlos, daqui pra frente tudo vai ser diferente.
Só que, ao contrário da dupla, ninguém nesse governo e em seu entorno vai aprender a ser gente.
Ao contrário: serão, todos eles, cada vez mais ameaçadores e perigosos. E quem acha que hoje o grau de tensão é elevadíssimo poderá até sentir uma certa nostalgia do que estamos vivendo.
Reitero: eu nunca, jamais, imaginei que chegaria onde cheguei vivendo o que estamos vivendo. Jamais.
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