Que tal o governo pensar em quem ganhou as eleições?

Não está escrito nem na legislação eleitoral nem na Constituição brasileira que o candidato que porventura vença por uma pequena margem tenha suas prerrogativas de chefe de Estado e de governo reduzidas

Não está escrito nem na legislação eleitoral nem na Constituição brasileira que o candidato que porventura vença por uma pequena margem tenha suas prerrogativas de chefe de Estado e de governo reduzidas
Não está escrito nem na legislação eleitoral nem na Constituição brasileira que o candidato que porventura vença por uma pequena margem tenha suas prerrogativas de chefe de Estado e de governo reduzidas (Foto: Bepe Damasco)


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Jabuticaba não é a única coisa que só dá no Brasil. Nesse país difícil de ser entendido, uma candidata vence de forma épica uma eleição, derrotando a poderosa aliança entre grupos de mídia, mercado financeiro, grandes empresários e quase todos os candidatos que concorreram no primeiro turno. Dilma teve forças para derrotar também a maior campanha de ódio já vista na nossa história republicana. Contudo, é a pauta de quem perdeu a eleição que toma conta da agenda política do país.

Não surpreende que a mídia monopolista, derrotada pela quarta vez consecutiva, só fale em ajuste fiscal, corte nos gastos sociais, compromisso com o superávit primário, aumento dos juros para conter a inflação e fim do quadro de pleno emprego como instrumento para segurar a demanda, frear o consumo e, assim, segurar os preços. O que preocupa é que a movimentação de bastidores do governo visando a formação da nova equipe econômica reflita quase que integralmente os anseios e as aspirações do mercado, ou seja, de quem perdeu a eleição.

Não está escrito nem na legislação eleitoral nem na Constituição brasileira que o candidato que porventura vença por uma pequena margem tenha suas prerrogativas de chefe de Estado e de governo reduzidas. O projeto que ganhou as eleições foi o que prioriza a inclusão social, a redução da miséria e da pobreza, o investimento crescente em programas sociais, o Prouni, as cotas para negros nas universidades e no serviço público, o Ciência sem Fronteiras, o Pronatec, o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos.

Espero que o governo da presidenta Dilma não esqueça do protagonismo dos jovens e das mulheres no segundo turno de sua campanha. Aliás, a juventude das manifestações de junho de 2013, que, embora crítica dos governos do PT, voltou às ruas nas eleições para impedir o brutal retrocesso de uma vitória de Aécio, deu uma espécie de chance derradeira ao petismo. Ou o governo acelera e aprofunda as reformas, especialmente a política e a dos meios de comunicação, ou cedo ou tarde terá que se ver com uma multidão de jovens desencantados.

Sabemos que o jogo da política é pesado. Que a correlação de forças, no Congresso e na sociedade, tem de ser levada em conta, que a oposição se fortaleceu com a votação recebida, que é dura a construção da governabilidade com um parlamento ainda mais conservador e fisiológico.

Claro que o governo não deve se descuidar nesse flanco. Se ter maioria parlamentar é fundamental para qualquer governo, em relação aos governos de esquerda, então, nem se fala. Além de imprescindível para tocar o dia a dia do governo e aprovar seus projetos, uma maioria consistente é fator decisivo para inibir aventuras golpistas e irresponsáveis.

Mas, diante da encruzilhada história em que se encontra, a energia emanada pelos atores sociais e políticos durante a campanha não pode ser desperdiçada pelo governo. Os movimentos sociais, as mulheres, os jovens e os negros que deram a vitória à Dilma, clamam por reforma política e por uma nova lei de radiodifusão para o Brasil. A presidenta se comprometeu com a reforma política, com Constituinte exclusiva e plebiscito popular durante a campanha. Nas entrevistas de TV que se seguiram à sua vitória, defendeu também a regulação econômica da mídia.

A hora dessas reformas é agora. 

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