Que é isso, Pedro Parente?

"Numa tentativa de embelezar os negócios ruinosos que marcam sua curta gestão à frente da Petrobras, Pedro Parente ataca 'esse pessoal que fica falando em golpe'", comenta Paulo Moreira Leite; "O argumento não se sustenta no presente nem no passado. Foi em 2007, durante o governo Lula, que 'esse pessoal' descobriu o pré-sal, que já responde por metade do petróleo extraído pela empresa. Desde 1954, o retrospecto dos adversários do fortalecimento da Petrobras é marcado por conspirações contra a democracia e uma grande proximidade com o governo norte-americano, onde se destacou o general Castelo Branco, primeiro presidente-golpista da ditadura de 1964"

"Numa tentativa de embelezar os negócios ruinosos que marcam sua curta gestão à frente da Petrobras, Pedro Parente ataca 'esse pessoal que fica falando em golpe'", comenta Paulo Moreira Leite; "O argumento não se sustenta no presente nem no passado. Foi em 2007, durante o governo Lula, que 'esse pessoal' descobriu o pré-sal, que já responde por metade do petróleo extraído pela empresa. Desde 1954, o retrospecto dos adversários do fortalecimento da Petrobras é marcado por conspirações contra a democracia e uma grande proximidade com o governo norte-americano, onde se destacou o general Castelo Branco, primeiro presidente-golpista da ditadura de 1964"
"Numa tentativa de embelezar os negócios ruinosos que marcam sua curta gestão à frente da Petrobras, Pedro Parente ataca 'esse pessoal que fica falando em golpe'", comenta Paulo Moreira Leite; "O argumento não se sustenta no presente nem no passado. Foi em 2007, durante o governo Lula, que 'esse pessoal' descobriu o pré-sal, que já responde por metade do petróleo extraído pela empresa. Desde 1954, o retrospecto dos adversários do fortalecimento da Petrobras é marcado por conspirações contra a democracia e uma grande proximidade com o governo norte-americano, onde se destacou o general Castelo Branco, primeiro presidente-golpista da ditadura de 1964" (Foto: Paulo Moreira Leite)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

No previsível esforço para tentar livrar-se da mancha de “golpista” que acompanha todo cidadão com posição de responsabilidade no governo Michel Temer, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, partiu para o ataque em entrevista ao Broadcast. Referindo-se aos maus negócios que tem marcado sua gestão a frente da maior empresa brasileira, Parente afirmou:

– Nosso programa de desinvestimentos e parcerias é absolutamente fundamental para consertar a empresa dos problemas que esse pessoal, que hoje fica falando de 'golpe', criou ao indicar a minoria que promoveu a roubalheira contra a Petrobras.

O argumento envolve um esforço inútil, pois diz respeito a uma realidade ainda fresca na memoria. 

continua após o anúncio

O pré-sal, que hoje responde por 50% da produção brasileira de petróleo, foi descoberto no período em que “esse pessoal, que hoje fica falando em golpe,’” estava no comando da empresa. Guilherme Estrella, o geólogo que liderou a equipe responsável pela descoberta, é o primeiro a reconhecer que ela seria impossível sem o apoio de cima – a começar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mesmo diz Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, que em depoimento no Congresso demonstrou, por A + B, o caráter ruinoso das mudanças que se tenta implementar na empresa após a chegada de Parente.

As tentativas de associar "esse pessoal" às denúncias de corrupção apuradas pela Lava Jato é leviana, para dizer o mínimo.  Em 1996, o jornalista Paulo Francis, com grande audiência na corte tucana, denunciou diretores da Petrobras que mantinham contas de dezenas de milhões de dólares na Suíça. Menos de um ano depois, enfrentando um processo em Nova York no qual lhe cobravam uma indenização de US$ 100 milhões, Francis morreu de enfarte, sem ver a denúncia ser apurada. Conforme os amigos, o coração não resistiu às ameaças dos acusados – ocupantes de cargos de confiança no governo do PSDB.  

continua após o anúncio

No “Diário da Presidência,” FHC registra, na época, um jantar com o empresário Benjamin Steinbruch, então membro do Conselho da Petrobras. No encontro, Steinbruch descreve uma estrutura de funcionamento que ajudava a dar cobertura às más práticas de  dirigentes da empresa. Mesmo admitindo, por escrito, que era necessário fazer mudanças, a começar pela diretoria, FHC admite nada ter feito. 

Entre os personagens recentes, vale mencionar Paulo Roberto Costa, o primeiro grande gatuno identificado na direção da Petrobras, operador histórico de propinas, era homem de confiança do Partido Popular, um dos sócios graúdos do golpismo de coalização formado por Michel Temer, onde acumula três ministérios.

continua após o anúncio

Idem para o suíço Eduardo Cunha, responsável pela aceitação de uma denúncia furada que levou ao impeachment, grande cacique do PMDB, o partido de Temer.

“Michel é Cunha" disse o parceiro Romero Jucá, um dos articuladores da queda de Dilma no Senado, forçado a deixar o governo Temer numa tentativa de salvar as aparências.

continua após o anúncio

Pedro Barusco, o petro ladrão que trouxe US $ 100 milhões de volta da Suíça e nunca esclareceu quanto pode deixar por lá, admite que começou a participar de negócios sujos na década de 1990, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso.

A história também contraria Pedro Parente no quesito democracia. Mostra que o núcleo duro dos articuladores golpistas que agiram ao longo dos últimos 60 anos foi formado por militares que se destacaram por uma política contraria ao fortalecimento da Petrobras e simpática aos interesses do mercado e do governo norte-americano – exatamente como se passa na empresa depois da posse de Michel Temer.

continua após o anúncio

Numa fase inicial, eles se reuniram em torno da Escola Superior de Guerra, criada depois da Segunda Guerra como uma correia de transmissão do pensamento militar norte-americano no auge da Guerra Fria. Apontavam todo esforço de desenvolvimento autônomo e soberania nacional como um simples disfarce para ideias comunistas. Fizeram oposição à campanha “O petróleo é nosso” e também formaram uma oposição à direita no antigo Clube Militar. Seus encontros reuniam desde o antigo tenente Juarez Távora, convertido ao conservadorismo puro e duro, o eterno candidato presidencial da UDN Eduardo Gomes, até oficiais mais jovens, que no futuro tiveram destacada atuação no porão da ditadura, que torturava e executava prisioneiros.

Com destaque maior ou menor, eles conduziram os principais movimentos anti-democráticos que marcaram a história do país nas últimas décadas. Estavam na conspiração que levou à queda de Getúlio em 1954. Atuaram do esforço para impedir a posse de Juscelino em 1955 e deram apoio as diversas insurreições militares ocorridas durante seu mantado. Estavam por trás da tentativa de impedir a posse de Goulart, em 1962, e tiveram atuação ativa no golpe de 1964.  

continua após o anúncio

Mesmo Castelo Branco, o primeiro general-presidente da ditadura de 64, que costuma ser descrito como um golpista relutante na maioria dos relatos, teve uma presença muito mais ativa nesses movimentos do que se costuma admitir. Na biografia “Castello”, um ótimo aperitivo para sua trilogia “Getúlio”, o historiador Lira Neto mostra que Castello Branco foi um oficial simpático às ideias integralistas – o fascismo brasileiro – já na juventude, na década de 1930. Homem de confiança de Vernon Walters, um dos principais oficiais de informação do Exército dos EUA por longas décadas, Castello Branco um papel importante já nos bastidores onde se conspirava contra Getúlio. Sua assinatura aparece em sétimo lugar no célebre Manifesto de Generais que colocou um presidente eleito democraticamente contra a parede, exigindo a renúncia – o ato seguinte, como se sabe, foi o tiro no peito.

Pedro Parente decidiu partir para o ataque num momento em que o governo que o nomeou dá sinais de fraqueza e crescente falta de legitimidade.

continua após o anúncio

Um dos mais influentes colunistas da VEJA, cuja postura em relação ao golpe dispensa comentários, o jornalista Roberto Pompeu de Toledo, é o mais novo crítico do impeachment. Na coluna mais recente, Pompeu condena a denúncia que levou a saida da presidente. Escreve: "Custa aceitar que é justo e proporcional destituir um presidente por três decretos e uma operação com o Banco do Brasil."  Mais adiante, depois de reconhecer que "Dilma não tinha como continuar", Pompeu sublinha: "seu processo nos lega uma mancha. Eis o paradoxo que pelos anos vindouros assombrará esta página da história do Brasil."

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247