Proximidade da eleição desespera Bolsonaro

"Não há mais tempo. Que milagre faria Bolsonaro conseguir, em três semanas, o que não conseguiu nas 68 semanas anteriores?", pergunta Eduardo Guimarães

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro (Foto: Reuters/Adriano Machado)


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A pesquisa Ipec recém-divulgada põe Bolsonaro em "modo desespero". Ele vê sua rejeição aumentar, suas intenções de voto caírem e as de Lula subirem a 25 dias da eleição. As previsões do bolsonarismo eram, todas, de que Lula seria ultrapassado em agosto. 

Alguns dados dessa pesquisa são bastante eloquentes. O Sudeste é a região com o maior número de eleitores (42%). Ali, Lula passou de 39% para 41%; Bolsonaro caiu de 33% para 30%. Entre os que ganham de 1 a 2 salários mínimos (27% dos eleitores), Lula subiu de 47% para 49%, e Bolsonaro caiu de 31% para 26%.

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Note este último dado, amado leitor. Bolsonaro caiu CINCO PONTOS PERCENTUAIS entre a maior fatia de renda do eleitorado, o alvo prioritário de suas bondades eleitorais. E caiu acima da margem de erro no maior colégio eleitoral do país, o Sudeste. 

Não há mais tempo para nada. O ex-presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, diz que "a eleição está dada", ou seja, que é estatisticamente improvável qualquer mudança relevante nas três semanas que faltam para o pleito, haja vista que essa estabilidade nas pesquisas, com Lula disparado na frente, já perdura há um ano, três  meses e 24 dias. 

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Que milagre faria Bolsonaro conseguir, em três semanas, o que não conseguiu nas 68 semanas anteriores, desde que Lula assumiu a liderança da eleição em 12 maio do ano passado, na primeira pesquisa presencial (Datafolha) da pandemia?

Bolsonaro precisaria não apenas derrubar as intenções de voto de Lula, precisaria que fossem para ele em vez de irem para outro candidato. E isso seria impossível, porque o eleitorado de Lula o rejeita com fúria, força e fé. 

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Este  analista sempre disse que o problema de Lula não é vencer Bolsonaro -- ele é o presidente mais fraco que já disputou reeleição desde a redemocratização do país. O problema de Lula é ganhar e levar, pois ninguém garante que os militares vão aceitar perder os salários estratosféricos que passaram a ganhar desde que o atual presidente assumiu. 

Um dos muitos exemplos da festança dos milicos com dinheiro público é o candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, que recebeu 926 mil reais de salários em dois meses de 2020, quando o Brasil atravessava o auge da pandemia de Covid-19. E ele está longe de ser um caso isolado. Generais que ganhavam R$ 30 mil, passaram a ganhar R$ 300 mil. 

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Menos mal que o atual regime norte-americano seja presidido por Joe Biden, que foi vítima de uma tentativa de golpe de Donald Trump igualzinha à que Bolsonaro, segundo tribunais superiores como o STF, o TSE e  o STJ, certamente irá perpetrar - se dará certo, é outra história. Desse modo, Biden não tem como apoiar aqui o que rechaça por lá. Se Trump tivesse sido reeleito, um golpe militar no Brasil seria tão certo como o anoitecer. 

Ainda assim, as boquinhas são muitas e todas fartas não só para os militares, mas, também, para os demais apaniguados. Sem falar no pavor maior de Bolsonaro, de ir em cana, o que poucos duvidam que acontecerá se ele não conseguir manter a imunidade presidencial. 

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A boa notícia é que os brasileiros parecem ter entendido a gravidade do momento. Nunca antes na história recente deste país houve tão poucos indecisos e omissos em uma eleição. E nunca antes ocorreu cristalização dos votos como agora. 

Tudo isso, porém, não é garantia contra o desespero de Bolsonaro e dos beneficiários de boquinhas. Convém não relaxar, pois eleição só vale após o eleito tomar posse. Sobretudo no Brasil, onde a maioria esmagadora dos presidentes acabou sendo derrubada.

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