Programa do PT mostra inflexão de tom e de estilo
"O discurso didático sobre as dificuldades econômicas, reforçado pela fala de Lula, o reconhecimento de que a crise chegou à casa de cada um e o tom mais humildade podem ter efeitos positivos sobre os mais insatisfeitos da própria base petista e sobre os eleitores decepcionados de Dilma", avalia a jornalista Tereza Cruvinel, colunista do 247, sobre a inserção do PT
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Houve uma inflexão de tom e de estilo no programa do PT que vai ao ar hoje. Sem deixar de capitalizar os feitos do governo Dilma, o programa admitiu que erros foram cometidos. A palavra foi pronunciada pelo menos três vezes e embora o roteiro não tenha tratado de explicá-los, informou que o governo gastou muito, entre 2011 e 2014, para evitar os efeitos nefastos da crise internacional, como desemprego e recessão. E aí são citados os bilhões em renúncias fiscais para beneficiar pequenas empresas, indústria automobilística, agricultura e outros setores, bem como os bilhões gastos com Pro-Uni, Bolsa Família, Fies, Mais Médicos e outros programas. Uma frase resumiu esta quase autocrítica: "Mas será que o governo errou ao tentar de todas as maneiras evitar que a crise arrombasse a porta dos brasileiros? Aqui para nós, não é melhor a gente não acertar em cheio, tentando fazer o bem, do que errar feio, fazendo o mal?".
O discurso didático sobre as dificuldades econômicas, reforçado pela fala de Lula, o reconhecimento de que a crise chegou à casa de cada um e o tom mais humildade podem ter efeitos positivos sobre os mais insatisfeitos da própria base petista e sobre os eleitores decepcionados de Dilma.
Outro eixo do programa foi o combate à crise política, pedindo que o telespectador “não se deixe enganar por aqueles que só querem tumultuar a política”. A oposição está irritada com as duas afirmações de que ela se aproveita da crise econômica com objetivos políticos, tendo ao fundo imagens de Aécio Neves (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), José Agripino (DEM) e Paulo Pereira da Silva (SD). Esta mensagem, entretanto, já tem menos efeito sobre o povo, a não ser inibindo a participação em protestos. A crise na superestrutura política, envolvendo partidos e poderes, terá que ser resolvida também com ações neste nível. A oposição quer a solução pelo impeachment e o governo ainda precisa adotar um receituário mais forte, como uma completa reorganização política e administrativa do governo. Isso estaria sendo pensado para depois que o procurador Janot fizer suas novas denúncias.
Não se falou em impeachment mas o pedido aos adversários para que “tenham juízo” porque o povo saberá defender a democracia foi uma indireta. Aos pedidos de paciência e esperança em dias melhores e na superação da crise econômica, João Santana acrescentou a parte mais picante, o encerramento provocador aos que organizam o panelaço prometido para hoje, dizendo que o partido respeita este novo uso das panelas mas prefere continuar enchendo-as de comida para o povo brasileiro.
A eficiência de uma peça de comunicação, entretanto, depende muito do humor dos receptores. Algum instituto certamente pesquisará a reação popular à mensagem de hoje, num momento crucial para o futuro do governo Dilma e do PT.
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