Procuradora da Lava Jato propôs a Deltan encontro para agradecer "empenho" de Gabriela Hardt

Mensagens vazadas da força-tarefa revelam ainda que o presidente do TRF-4 queria substituto de Moro com "perfil adequado"

A juíza federal Gabriela Hardt em encontro com Sergio Moro, em foto divulgada no perfil dele em rede social em 2019
A juíza federal Gabriela Hardt em encontro com Sergio Moro, em foto divulgada no perfil dele em rede social em 2019 (Foto: Reprodução)


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Depois que o empresário Tony Garcia quebrou o silêncio e revelou, na TV 247, que era "agente infiltrado" de Moro, o que é ilegal, novas mensagens da Operação Spoofing estão sendo divulgadas. Ou mensagens já de conhecimento público estão sendo resgatadas, agora com a possibilidade de entendimento maior, diante do que disse o empresário.

Uma das mensagens resgatadas é de janeiro de 2019, em que a procuradora Laura Tessler propõe a Deltan Dallagnol um encontro de todos os procuradores com Gabriela Hardt, para "agradecer expressamente todo o empenho dela nesses meses". Gabriela tinha respondido interinamente pela Vara desde a saída do titular, dois meses e meio antes.

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Em 14 de novembro de 2018, ela tinha tomado o depoimento de Lula no processo sobre o  caso do sítio de Atibaia, e demonstrou uma arrogância que passaria à história como uma de suas marcas. "Se o senhor começar nesse tom comigo, a gente vai ter um problema", disse a Lula.

O que não era de conhecimento público na época é que o pai de Gabriela, Jorge Hardt, tinha um passivo na Petrobras que deveria ter sido investigado pela Lava Jato. Ele era apontado em investigação interna da empresa como um dos possíveis autores do crime de venda de segredos industriais da empresa.

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Jorge Hardt não só continuava impune como se sentia em condição moral para atacar Lula. "A quadrilha do Lula instalada na Petrobras não roubou só bilhões. Roubou o futuro da empresa", escreveu ele, em uma publicação no Facebook.

Pouco antes de assumir a Vara de Moro, a exemplo do antecessor, Gabriela Hardt também viu as portas se abrirem nos Estados Unidos. A convite, ela viajou a Washington para participar de um evento organizado por uma entidade norte-americana ligada à presidência dos Estados Unidos, o Wilson Center. 

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Desde 2006, esse think thanks tem um departamento voltado para temas brasileiros, o Institute Brazil, dirigido pelo jornalista Paulo Sotero, ex-correspondente do Estadão. O Wilson Center, além de remunerar Gabriela Hardt pelo evento em Washington, publicou artigo dela sobre a Lava Jato

No artigo, Gabriela escreveu:

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“É óbvio que, ao lutar contra forças poderosas, você deve esperar que eles usem todos os meios à sua disposição para manter o poder que conquistaram. No entanto, continuo a acompanhar de perto o trabalho duro de pessoas bem intencionadas e bem preparadas que enfrentaram novas batalhas nos últimos três anos e meio. Por tudo isto, espero e confio que esta crise apresentada pela divulgação das investigações da Lava Jato sirva como uma verdadeira janela de oportunidades para que possamos ter um país mais forte e honesto.”

Esse trabalho de "pessoas bem intencionadas" resultou na prisão de Lula, consequência do processo que teve condenação sem provas, e, com isso, na pavimentação do caminho que levou Jair Bolsonaro à Presidência da República.

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O Wilson Center tem entre seus patrocinadores petroleiras norte-americanas e tem também outros tentáculos, além do departamento sobre o Brasil, e foi acusado em 2016 de estimular a tentativa de golpe contra o governo de Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.

Na mesma época em que os procuradores eram gratos pelo estilo "faca na caveira" de Gabriela Hardt, o presidente do Tribunal Regional Federal da 4a. Região era consultado sobre as chances de um juiz da confiança deles assumir o lugar de Moro, já que Gabriela, pelo tempo de magistratura, não tinha chance de ser efetivada.

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Em 9 de janeiro, o procurador Antônio Carlos Welter informou o grupo que esteve com o presidente do Tribunal Federal da 4a. Região (TRF-4), Thompson Flores, e discutiu quem seria o sucessor de Moro. "Ele não sabe quem vem na remoção, torce por ser alguém com 'perfil' adequado, mas como a antiguidade é que vai definir, ele não pode fazer nada", escreveu Welter.

Deltan Dallagnol articulou para que o veterano Luiz Antônio Bonat se candidatasse à vaga e assumisse. No fim do ano passado – três anos e meio depois – Bonat foi nomeado por Jair Bolsonaro a uma das vagas de desembargador abertas no TRF-4. Outra vaga foi preenchida por Marcelo Malucelli, que participou das articulações de Dallagnol.

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Com a saída deles da Justiça Federal em Curitiba, o lugar foi ocupado por Eduardo Appio, que não tinha nenhuma relação com esse grupo. Ou "gangue", como definiu o jurista Cezar Bittencourt. O grupo unia delegados da Polícia Federal, procuradores e juízes e servidores na primeira instância na Justiça Federal, bem como desembargadores do TRF-4.

Appio ficou cerca de três meses à frente da jurisdição que teve Moro como titular por dezesseis anos. No dia 22 de maio, a corte administrativa do TRF-4 o afastou, depois de uma ação articulada que envolveu Moro e Marcelo Malucelli.

O sócio e genro de Moro, João Eduardo, filho de Marcelo Malucelli, teve um vídeo gravado supostamente pela filha de Moro, em que ele aparece conversando com uma pessoa que eles dizem ser Eduardo Appio.

Não há na conversa nada que possa ser considerado grave a ponto de justificar o afastamento de um juiz. O interlocutor de João Eduardo não faz nenhuma ameaça, e passa um trote. Sugere que o pai dele anda aprontando.

Além disso, parecer técnico apresentado pela defesa de Appio no Conselho Nacional de Justiça afirma que não é possível concluir que a voz seja do juiz. Pelas pessoas que fizeram a denúncia, não é exagero concluir que tudo não tenha passado de armação.

Como se vê por Gabriela Hardt e Bonat, a 13a. Vara Federal de Curitiba nunca teve um juiz independente como Appio. E o grupo de Moro deu prova de que é capaz de cometer qualquer ato em busca de poder.

 

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