Procurador da Lava Jato quer salvar o país
Ao lançar essas propostas nos meios de comunicação, o procurador Deltan Dallagnol não vai conseguir atingir o povão e, menos ainda, formadores de opinião, entidades de classe, movimentos sociais, intelectuais e, inclusive, partidos políticos
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Já está no youtube um vídeo em que o procurador da República e coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, apresenta dez medidas contra a corrupção e pretende recolher 1,5 milhão de assinaturas para apresentar ao Congresso projeto de lei sobre essa questão.
Os temas da campanha são: prevenção à corrupção, transparência e proteção à fonte de informação, criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos, aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores, aumento da eficiência e da justiça dos recursos no processo penal, celeridade nas ações de improbidade administrativa, reforma no sistema de prescrição penal, ajustes nas nulidades penais, responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa 2, prisão preventiva para evitar a dissipação do dinheiro desviado e recuperação do lucro derivado do crime.
Considero essas propostas excelentes, por um lado. Por outro, no entanto, assusta e preocupa o tom 'salvador da pátria' utilizado pelo procurador ao pedir ajuda da população para "mudar a história do nosso país".
É que ao lançar essas propostas nos meios de comunicação ele não vai conseguir atingir o povão e menos ainda formadores de opinião, entidades de classe, movimentos sociais, intelectuais e, inclusive, partidos políticos.
Num primeiro momento até que teremos a sensação de que estaremos sendo vingados e que justiça será feita com uma nova legislação. Mas não é apenas o endurecimento das penas e o rigor da lei que irá mudar, verdadeiramente, a relação entre empresas financiadoras de campanha que fazem obras para o governo e os políticos.
É preciso debater o tema com juristas, associações de magistrados, OAB, enfim, com vários atores, para que o caminho de uma nova legislação seja encontrado sem que o sentimento de justiça com as próprias mãos pareça ser a salvação que o procurador-salvador propõe.
Não precisamos de Dom Quixote. Tampouco, na versão tupiniquim, de um Policarpo Quaresma.
E você, caro leitor, o que acha?
Em tempo - O Triste Fim de Policarpo Quaresma é provavelmente o livro mais conhecido de Lima Barreto. Trata-se de quase concepção de um Dom Quixote nacional. Policarpo remete-nos aos heróis picarescos. É um personagem que substancializa o problema nacional brasileiro. Mais informações aqui.
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