Prisão de Cunha é movimento calculado da Lava Jato para prender Lula
Nos aproximamos do segundo turno. A Lava Jato precisa oferecer uma nova série de espetáculos que possam prejudicar o PT. Antes disso, porém, ela precisava resolver o seu problema de imagem, maculado pelas críticas a ela feitas em veículos de grande porte, como a Folha
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Nem coloquei ponto de interrogação no título porque é óbvio.
A Lava Jato não é uma investigação. É uma narrativa. Sempre foi uma narrativa. Todos os seus movimentos são calculados de acordo com seu impacto na opinião pública.
Nas últimas semanas, avolumavam-se as críticas contra a operação, em virtude de vários fatores. Os principais e mais recentes foram o "power point" do Dallagnol e colegas, que revelou ao mundo que a Lava Jato acusava Lula sem nenhuma prova; e a prisão de Mantega e Palocci, desnecessárias e arbitrárias, realizadas dias antes do primeiro turno das eleições municipais, para afetar o desempenho do PT.
Sempre que há críticas à Lava Jato, ela produz um novo factoide para recuperar seu prestígio na opinião pública. Nos dias seguintes à tomada de poder pelos golpistas, surgiram os famigerados áudios de Sergio Machado, atacando membros importantes da cúpula do governo. Aquilo serviu para Lava Jato sobreviver ao impeachment, desvinculando-se do grupo político que dera o golpe. Não fossem aqueles áudios, a associação automática entre a operação e o impeachment, que já era óbvia, poderia se tornar um problema grave de imagem para a operação.
E agora nos aproximamos do segundo turno. A Lava Jato precisa oferecer uma nova série de espetáculos que possam prejudicar o PT.
Antes disso, porém, ela precisava resolver o seu problema de imagem, maculado pelas críticas a ela feitas em veículos de grande porte, como a Folha.
Na Folha de São Paulo, o físico Rogério Cerqueira Leite publicou um artigo duríssimo contra Moro, que respondeu no dia seguinte com uma carta autoritária, dizendo que Folha "não devia" publicar artigos "panfletários". Ou seja, fazer despachos judiciais panfletários e prender pessoas com base neles, isso pode; dar sua opinião em jornal, isso não pode.
Cerqueira Leite fez uma tréplica matadora.
A resposta de Moro foi previsível: mandou prender Eduardo Cunha, um pato manco sem condição nenhuma de se defender desde que a justiça suíça enviou ao Brasil e divulgou ao mundo as milionárias contas na Suíça do deputado.
Não é sítio de amigo em Atibaia, não é pedalinho, não é apartamento que ele nunca usou. São centenas de milhões de dolares movimentados ilegalmente em contas no exterior. Tudo com a assinatura do deputado e de sua mulher. Não é preciso nenhuma convicção: as provas são cabais.
Sergio Moro e a Lava Jato tinham essa carta na manga, a prisão de Cunha, desde muito tempo.
Se a Lava Jato fosse séria, a prisão do deputado tinha de ser feita antes do golpe. Agora não adianta nada.
Um troll comentou na fanpage: ah, quero ver vocês defenderem Cunha.
Ora, o que eu defendo são as garantias constitucionais contra o arbítrio. Neste sentido, estou com o deputado federal Jean Wyllys: que Cunha seja sim respeitado em seus direitos fundamentais, mas que sua prisão não seja apenas uma jogada política para justificar futuros arbítrios.
Na minha opinião pessoal, acho a prisão de Cunha mais um espetáculo. Moro poderia simplesmente bloquear suas contas, apreender seu passaporte e convidá-lo para prestar depoimentos. Prender Cunha alegando risco de destruição de provas é ridículo a esta altura do campeonato. A única justificativa plausível para prender Cunha é que ele é homem forte do governo Temer, então a prisão impede que ele exerça seu poder de influência no Executivo e no Legislativo para criar obstáculos à investigação.
Esses "futuros arbítrios" mencionados por Wyllys, sabemos muito bem quais são: prender mais petistas nas próximas semanas; em especial, Lula, de preferência na véspera do segundo turno das eleições municipais.
Uma nova etapa da Lava Jato, lançada há poucos dias, prepara uma outra prisão de Delúbio Soares. Como já estão faltando petistas graúdos para prender, a Lava Jato vem fazendo uma espécie de promoção carcerária: prendendo petistas que já foram presos.
Mas talvez os meganhas de Curitiba nem precisem prender Lula. Podem simplesmente dar curso a um processo judicial sem provas, com força de convicção suficiente para condená-lo em primeira e segunda instâncias e, com isso, tirá-lo do menu político de 2018. Antes disso, precisavam elevar a moral da Lava Jato junto à opinião pública, que se alimenta de prisões, factoides e espetáculos.
O Power Point de Dallagnol serviu ao propósito de reduzir a influência de Lula sobre as eleições de 2016. Todos os candidatos que associaram a sua imagem ao ex-presidente, perderam muitos votos. Os setores mais liberais e progressistas da sociedade ficaram horrorizados com aquela apresentação, mas as pessoas simples do povo não tiveram acesso ao sarcasmo dos intelectuais e da imprensa estrangeira. O que eles viram foi o que passou no Jornal Nacional: que Lula é o comandante máximo da corrupção.
Os comentaristas da Globonews nem disfarçaram. A prisão de Cunha foi imediatamente festejada como uma derrota dos argumentos da defesa de Lula, de que a Lava Jato é parcial.
A Lava Jato é uma operação que se desdobra em duas dimensões: na realidade e na mídia.
Hoje, a CNT/MDA divulgou pesquisa de opinião pública.
Há um trecho perigosíssimo para Lula, e que comprova como a Lava Jato, em sua cumplicidade com a mídia, tornou-se uma operação que julga e condena a pessoa muito antes do processo seguir os devidos trâmites legais:
Lava Jato: 89,9% têm acompanhado ou ouviram falar das investigações no âmbito da operação Lava Jato, que envolvem a Petrobras. Nesse grupo, 63,3% consideram que a ex-presidente Dilma Rousseff é culpada pela corrupção que está sendo investigada e 72,7% acham que o ex-presidente Lula é culpado.
Cunha era há tempos carta fora do baralho. Na verdade, antes mesmo do processo de impeachment seguir adiante, vários porta-vozes do golpe na grande mídia, defendiam seu afastamento, para que o impeachment não fosse manchado por sua liderança. Não foi possível porque o próprio Cunha se movimentou rapidamente para liderar o impeachment e, com isso, blindar-se. O impeachment permitiu a Cunha ganhar tempo.
Sua prisão tardia, como vários analistas já concluíram, era um movimento previsível no xadrez do golpe.
As expectativas agora giram em torno de provável delação premiada de Eduardo Cunha. Ora, essa delação é certa, porque Sergio Moro já deixou bem claro que ou delata ou apodrece na cadeia.
A delação talvez já tenha sido previamente acertada com a Lava Jato, de um lado, e com os golpistas no governo de outro. Dificilmente serão delações para "derrubar" o governo, embora o núcleo mesmo do golpismo, que são as próprias castas jurídicas, a elite financeira e a mídia, não se preocupem tanto assim com o governo, desde que o Estado continue pagando salários de marajá aos primeiros, juros de mãe aos segundos e oferecendo gordos contratos de publicidade federal aos terceiros.
A degradação institucional no país chegou a tal ponto que é possível que delação de Eduardo Cunha, homem forte da direita há muitos anos, tenha como alvo o... PT. Ou então figuras menores do PMDB, sacrificadas na bacia das almas em nome do bem maior, que é consolidar o golpe e levar adiante o grande feirão do patrimônio nacional, que o governo Temer já anunciou, nas roadshows que vem fazendo mundo a fora, para 2017. Este sim será um inesquecível trem de alegria para a elite entreguista. As privatizações serão financiadas com dinheiro público nosso, como foram as da era tucana, e os operadores no Brasil, que são os tucanos, ganharão comissões bilionárias. Com essas privatizações, além da entrega do pré-sal, o dinheiro para financiar a campanha eleitoral de 2018, e eleger um tucano linha dura, provavelmente Geraldo Alckmin, o "santo", está garantido!
(Atualização: o cinismo é maior do que eu pensei e olha que estou usando parâmetros radicais. Os procuradores da Lava Jato disseram que não aceitarão delação de Cunha... Claro, né! Ninguém pode permitir fissuras no golpe!)
Entretanto, Sergio Moro terá que ser muito criativo para prender Lula sob a acusação de "comandante máximo" da corrupção, e ao mesmo tempo manter Cunha atrás das grades. Que espécie de "comandante máximo" é Lula que, além das ridículas propinas recebidas (ter direito a frequentar um sítio em Atibaia, pedalinhos...), controlava (?) um esquema operado por Eduardo Cunha, que trabalhou para derrubar um governo que, segundo os procuradores, era gerido secretamente pelo homem no centro do Power Point?
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