Prepare-se: governo Bolsonaro será de ataques e perseguições

Caem por terra as ilusões de que Bolsonaro  moderaria seu apetite e abraçaria um projeto de governo mais "razoável" e construtivo ou que seria contido pelas instituições; o novo governo -mais adequado é falar em novo regime- será de destruição, ataques violentos e perseguições, escreve Mauro Lopes, editor do 247; sem ter um projeto de construção do país, Bolsonaro tentatá manter sua base eleitoral coesa agitando o fantasma dos "inimigos externos e internos"

Prepare-se: governo Bolsonaro será de ataques e perseguições
Prepare-se: governo Bolsonaro será de ataques e perseguições (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)


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247 - Há muitas formas de categorizar governos: por sua posição político-ideológica (de esquerda, centro, direita etc), por sua orientação econômica (neoliberais, desenvolvimentistas), por sua relação com temas "morais" ou de direitos (conservadores, progressistas). Há outra maneira, que me parece a mais relevante para pensar a concretude do governo Bolsonaro a partir de 1 de janeiro. A que separa governos propositivos dos destrutivos.

Exemplos claro de governos propositivos foram os do PT. Tinham um projeto de país, uma proposta de desenvolvimento, uma agenda social, uma orientação quanto aos temas dos direitos. Tinham uma oferta clara à sociedade. Por serem propositivos, operavam segundo a lógica da construção, da busca de consensos e alianças capazes de fazer avançar seus projetos. Apesar de terem uma escolha de ponto de vista, o da maioria, o dos mais pobres, buscavam negociar suas agendas com outros segmentos, como o dos banqueiros. Esta caracterização genérica não exime os governos Lula e Dilma de críticas, ao contrários. Mas o fato é que eram propositivos. 

O que vimos e ouvimos depois da eleição de Bolsonaro e, sobretudo, neste quase um mês de formação de seu futuro governo é suficiente para caracterizá-lo como um governo destrutivo. Evidências:

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1. Será um governo de extremo, de extrema-direita, infenso ao diálogo. Diferentemente dos governos do PT, de centro-esquerda, que buscavam o caminho da conversa, este governo buscará arrancar vitórias esmagadoras em vez de acordos que viabilizem um projeto. 

2. Não há um projeto de desenvolvimento. O futuro governo está tomado por representantes do capital financeiro e corretores, ávidos por fazer negócios e não políticas. São em boa medida gente de bancos de investimento, especializados em operações de "merge and acquisition" (fusões e aquisições). O que fazem esses grupos? Tomam empresas, implementam programas de demissões em massa, fatiam-nas e as vendem aos pedaços, com enorme lucro. É só disso que se conversa nos corredores da transição em Brasília. Para isso, os bancos e  empresas estatais serão destruídos, retaliados e serão vendidos em partes, como o governo Temer começou a fazer. Business.

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3. Não há uma agenda para a Educação ou os direitos, exceto a de destruir tudo o que foi construído desde a Constituição de 1988.

Em outras palavras, o governo Bolsonaro não tem uma oferta, uma proposta a fazer ao país. Será uma administração para o grande capital, para o topo da pirâmide, voltado para 2 milhões de pessoas e de costas para os demais 207 milhões de brasileiros e brasileiras. 

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Será uma agenda de terra arrasada e não apenas do que conhecemos como governo - o Poder Executivo. Trata-se de uma política do Estado, depois que as as cúpulas dos demais Poderes tomadas pelo mesmo grupo -tanto no Legislativo como no Judiciário. Esta será a máquina de destruição.

Para os quase 50 milhões de eleitores de Bolsonaro, aos quais se somam suas famílias, num universo provavelmente superior a 100 milhões de pessoas, mais de 90% delas pobres, o governo não terá o que oferecer, pois não governará para eles. Portanto, o novo regime não conseguirá coesionar seu eleitorado com base nas ações de governo propriamente ditas.

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Como será possível manter a base eleitoral de Bolsonaro unida no apoio ao governo? Os primeiros sinais já emergem agora na transição. Será um governo em clima de guerra. O ataque aos "inimigos", a agitação ao redor do perigo representado pelo comunismo, pela volta do petismo, pelos sindicatos, pelos sem terra, pelos sem teto, pelos venezuelanos será o elemento de coesão. O clima de insegurança e medo será mantido e ainda mais radicalizado. 

Já começa a acontecer. Destrói-se o Mais Médicos e culpabiliza-se o governo "comunista" de Cuba; responsabiliza-se o governo da Venezuela pelos migrantes daquele país e ensaia-se a construção de campos de concentração para venezuelanos; atacam-se as escolas, pintadas como lugar da "perversão" e a Escola sem Partido ganha status de programa oficial e o ofício de professores e professoras será criminalizado; um juiz de extrema-direita de Brasília em aliança com seus parceiros do Ministério Público transforma o PT numa "organização criminosa" que teria roubado R$ 1,5 bilhão (a palavra "bilhão" é chave para açular os ódios) e abre caminho para a proscrição do partido; o futuro secretário de Assuntos Fundiários, presidente da UDR, declara guerra aos sem terra; sucedem-se as hostilidades aos indígenas, sob a alegação de que "os índios ocupam áreas enormes e não produzem nada para o país"...

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Estão aí todos os "judeus" do novo regime, como aconteceu antes na história. 

Caem por terra as ilusões de alguns de que, depois de eleito, Bolsonaro moderaria seu apetite e abraçaria um projeto de governo mais "razoável" e construtivo ou que seria contido pelas instituições.

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O novo governo -talvez seja mais adequado de fato falar em novo regime- será de destruição, ataques violentos e perseguições.   

       

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